POEMAS DE – Gisela G. Ramos Rosa

Newsfeed-Rhyming-Couplet by Corina Botton

“Comment interroger ce qui nous échappe aussitôt?”
 Bernard Noel

A António Ramos Rosa

Toda a presença vence os limites do corpo
tudo está por dentro, por detrás de quem olha.
Minucioso trabalho o da construção do poema foi o
que me transmitiste, lâmpada que se acende ao ritmo
do corpo das mãos como asas num vislumbre
que queima. Lá onde estás, não me perguntes se
escrevo e se me invento. Continuar a ler “POEMAS DE – Gisela G. Ramos Rosa”

O ULTIMO SORRISO DE BEATRIZ- POR GISELDA LEIRNER

© Noronha da Costa

O ÚLTIMO SORRISO DE BEATRIZ

Meu primeiro dia de aula. O anfiteatro estava cheio. Era um pequeno espaço ocupado por cadeiras móveis e  ruidosas. Um palco ocupava grande parte da sala dividida em dois grupos por uma passarela que alcançava a porta de entrada e saída. Os alunos inquietos, procuravam se acomodar, prestando pouca atenção ás palavras do Diretor.

Só se fez silêncio quando uma jovem começou a caminhar pela passarela. Seus passos eram leves, deslizava  na  primeira demonstração de como uma atriz deve se mover. O vestido  de seda transparente ondulava em seu corpo  com as estampas que pareciam cobras lilases movimentando-se dos seios até os pés descalços, como se caminhasse sobre estrelas. Continuar a ler “O ULTIMO SORRISO DE BEATRIZ- POR GISELDA LEIRNER”

PEQUENOS CONTOS DE JAIME VAZ BRASIL

© Yang Cao, sem título

A Arte de Conquistar o Mundo

O exército do país A invadiu o país B. Morreram muitas pessoas nos dois lados. O país A, apesar de enfraquecido com as baixas, venceu. Mesmo debilitado, percebeu que amedrontara o país C, e isso o impeliu a invadi-lo. Outras mortes, mas a coragem já superava qualquer dificuldade. Pôs abaixo o país D. Mal terminaram a comemoração regada a vinho, tomaram posse do país E. Até que um dia, seus poucos soldados não contiveram o exército de meia dúzia de esfomeados do país Y que, a exemplo de J. Pinto Fernandes, não estava na história, mas aproveitou a situação e tomou posse com paus, pedras e pelegaços. Continuar a ler “PEQUENOS CONTOS DE JAIME VAZ BRASIL”

HARATINES – por Jonuel Gonçalves

                                             

3º Episodio – Idrissa

Mesmo acostumado ao  deserto desde o teu nascimento tu sabes que ele pode ser  solidão como mais nenhuma outra paisagem, digam o que disserem sobre as grandes solidões das grandes metrópoles nas quais  pode-se ficar louco mas  aqui é pior, é corda bamba constante e queda ao mínimo descuido, ou seja, a água perdeu-se, estragou-se ou apenas acabou, o velho caminho das estrelas foi varrido pelo vento de areia furioso ou este vento de areia levantou-se antes de poderes montar abrigo ou ainda o camelo caiu de esgotamento, os pneus do carro acabaram uns após os outros ou, mais ainda, nos últimos tempos foste visto ao longe pelos predadores ferozes de duas ou quatro pernas e as balas estão muito poucas. Continuar a ler “HARATINES – por Jonuel Gonçalves”

ANTONIO ALVES MARTINS, o Bispo Liberal – José Lourenço

“A Voz da Liberdade”, livro de Maria Máxima Vaz é um estudo sobre D. António Alves Martins, Bispo Liberal de Viseu, que também foi político.

Nasceu em Alijó a 18-2-1808 e aos 16 anos entrou no convento de Jesus da Ordem Terceira de S. Francisco da Penitência, onde iniciou os estudos e onde professou com 17 anos de idade. Depois disso, foi enviado para o Colégio do Espirito Santo em Évora, onde prosseguiu os estudos que lhe permitiriam ingressar na Universidade, que já frequentava quando em 1828 o infante D. Miguel restaurou o regime absoluto. Alves Martins tinha então vinte anos. Escolheu a liberdade e juntou-se aos que a defendiam, pelo que foi expulso e perseguido. Alistou-se como voluntário no exército liberal e foi nessa altura feito prisioneiro pelos absolutistas, julgado e condenado a fuzilamento no largo de Santa Cristina em Viseu, onde depois lhe foi levantada uma estátua. O crime político só não foi consumado, porque conseguiu evadir-se e alcançar o exército liberal aquartelado em Leiria e seguidamente procurar refúgio no exílio com outros companheiros liberais. Continuar a ler “ANTONIO ALVES MARTINS, o Bispo Liberal – José Lourenço”

FAMÍLIA E EDUCAÇÃO – por Julião Bernardes

Uma Nação só pode ser feliz se os cidadãos que a constituem forem educados e instruídos – só assim eles serão conscientes dos seus direitos e deles não abdicarão, lutando de forma organizada e positiva para deles usufruírem. No entanto – como todos sabemos – a felicidade não é um estado definitivo e total, custa a deixar-se usufruir, dá imenso trabalho, e é em fogachos breves que nos bafeja, sem se deixar agarrar. Continuar a ler “FAMÍLIA E EDUCAÇÃO – por Julião Bernardes”

POEMAS DE Lígia Casinhas

by Mariam Sitchinava

Perto e longe

Construímos viagens.
Tão distante é a verdade.

Procura submissa
Voz, sândalo e maresia.
Tu perguntas, eu respondo.
Nada sabes.
E guardas
Esse querer, não quero agora.
Feridas no ocaso
E poema Continuar a ler “POEMAS DE Lígia Casinhas”

MÁGICO DESPERTAR DE PRIMAVERA – Jussára C. Godinho

Primeiros dias de setembro! Abro minha janela. Doce manhã de sol! Quase ouço o sussurrar do frio despedindo-se sorrateiro.

No ar, o aroma adocicado das alucinantes pétalas coloridas. Inspiro… Expiro… Inspiro outra vez… O azul do céu invade meu dia, que mal começa a raiar, e inunda a minha alma de luz e de alegria. Continuar a ler “MÁGICO DESPERTAR DE PRIMAVERA – Jussára C. Godinho”

ROMANCE – por Luís Bento

Caminhei sobre tapetes, depois sobre o chão envernizado, em que quase andava em pontas e finalmente, o rebordo de pedra a dar para o jardim onde enterrei, logo, o pé direito na lama. Continuar a ler “ROMANCE – por Luís Bento”

PAIXÃO E DESESPERO – por Luís Costa

© Júlia Moura Lopes

Introito

É da beleza da ferida
Que se sustentam

Uma desertificação
Que irrompe para dentro

Gloriosa sementeira.

1

A morte de Deus vela os espelhos
E eu ofereço-te todas as paisagens
Que se erguem na minha alma. Continuar a ler “PAIXÃO E DESESPERO – por Luís Costa”

POEMAS e FOTOS de Maria Gomes

© Maria Gomes

Esta cidade existe num desejo que se encadeia
sobre a síntese dos lábios.
Nela mergulham o som exacto, a manhã,
o arco da noite navegante,
a luz sem fim.

Meu amado,
esta cidade existe nos joelhos do sol,
na pele dos pássaros,
num poema.
É sangue e transparência e pó, e mar salgado. Continuar a ler “POEMAS e FOTOS de Maria Gomes”

TRÊS POEMAS DE Marília Miranda Lopes

Terça-feira: Mercúrio

Este tempo invernoso omite
claridades nos teus olhos vivos:
palavras que rebentam nas bolhas
que raiam dos anéis das íris.
Não precisas, pois, de suster
a respiração nesse augúrio:
a mensagem vem de Mercúrio,
segue já na corrente, a ver
as margens e o mar ao longe:
aguarelas ternas que flambam
o verbo calado, em suspenso,
sem vontade de se debruçar
da tua boca que consente
salitre nos lábios e bruma
do dia em que fomos navio
e vela, e mastro, e terra una.

Continuar a ler “TRÊS POEMAS DE Marília Miranda Lopes”

CUENTOS DE – por Moisés Cardenas

PUEDE OCURRIR

En el pueblo de Brujas vivía una mujer blanca de ojos negros, quien llamaba la atención de los hombres, por sus senos turgentes y caderas anchas. Por su cuerpo fue objeto de halagos por parte de muchos pretendientes, quienes la desearon con fines sexuales, mas no como compañera eterna. Continuar a ler “CUENTOS DE – por Moisés Cardenas”

COM RILKE E PELA AMÉRICA LATINA – Rosa Sampaio Torres

 

Georgia O’Keeffe (1887-1986)
Com Rilke


Cedo, bem longe
do que é terrestre,
afastados da casa

paterna,
voejam anjos terríveis
no descampado,
próximos ao cume.
Muito alto.

Continuar a ler “COM RILKE E PELA AMÉRICA LATINA – Rosa Sampaio Torres”

O POETA GUIDO CAVALCANTI E A INFLUÊNCIA TEMPLÁRIA – Rosa Sampaio Torres

O poeta Guido Cavalcanti e a influência Templária

O brasão da família dos Cavalcanti de Florença é notado pela primeira vez na sangrenta batalha de Montalcino em 1260 – brasão em cruzetas reproduzido nos escudos de muitos de seus combatentes, cavaleiros de origem guelfa que defendiam o papado contra os guibelinos da cidade de Siena.

Família muito atuante na vida política da cidade de Florença, o uso do brasão dos Cavalcanti surgia na Toscana em período especialmente marcado pela atuação da Ordem Templária na região e, em cerca de 1255, o nascimento do grande poeta nesta família, Guido Cavalcanti. Continuar a ler “O POETA GUIDO CAVALCANTI E A INFLUÊNCIA TEMPLÁRIA – Rosa Sampaio Torres”

TRÊS POEMAS DE Rudá Ventura

RUÍNAS DE ÁGORA

Há tanta boca
E tanta voz desmedida
Nesse silêncio repetido e gritado,

Nesse vazio de palavras que ecoam esquecidas,
Onde à margem de toda prosa
Talvez repouse alguma verdade.

Há tanta boca
E nenhum som profundo;
Há tantos dentes devorando os sonhos
E tão ímpio tornou-se o mundo,
Que mastigado resta pra nós.

Continuar a ler “TRÊS POEMAS DE Rudá Ventura”

A POESIA DE Tito Leite

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CONFLITOS

Eu habitava comigo
como se a sonoridade do meu nome
fosse um origami
na aurora de cedro.

Continuar a ler “A POESIA DE Tito Leite”

CABALÍSTICA – por Ulisses Varsovia

Rosa de Pentecostés

Primavera de violentas ráfagas
en mayo crepuscular
desgarrando su vegetal vestidura,
resquebrajando el aire
a eléctricas dentelladas. Continuar a ler “CABALÍSTICA – por Ulisses Varsovia”

Leia também a Edição nº 6, de Novembro de 2018

EDITORIAL- por Floriano Martins

Este é o número 6 de Athena e com ele a revista encerra um ano de conquistas em sua agenda editorial, surgida em maio de 2017 com uma edição zero. Desde então trimestralmente vem cumprindo com valioso propósito, de trazer para a mesa virtual de leitura conhecimento e criatividade. Em seu primeiro editorial lemos que Athena quer ser nave, pronta a descobrir textos e autores inéditos, novas reflexões, quer na investigação científica, quer derivados da criação literária. Sua aventura editorial não propriamente se dá em busca de respostas, mas antes na forma de perseguição da dúvida, que conduza a novas questões e faça duvidar das convicções possíveis. Em duas áreas a revista tem avançado, na revelação de autores e na proposição de novas reflexões, em muitos casos reportando ao passado como leito frondoso da existência humana. Continuar a ler “EDITORIAL- por Floriano Martins”

CLINT EASTWOOD (ou a óbvia analogia) – por Claudio B. Carlos

Ele não conhecia os filmes de caubói, por isso, quando os novelos de cisco rolavam pela imensidão do terreiro seco, não fazia a óbvia analogia. Ali não tinha Clint Eastwood, nem Lee Van Cleef, nem Burt Lancaster – tinha o Durvalino, o Deodato e o Deoclécio. Ali não tinha Marianne Koch, nem Claudia Cardinale, nem Carla Mancini – tinha a Jandira, a Jurema e a Jeneci. Ennio Morricone era o guaipeca magricela, sonolento, pulguento e mais uns dois ou três entos. Talvez Morricone fosse o bem-te-vi, o sabiá, o quero-quero, o mugido do gado (coitado – magro que só) ou o relincho do pingo amarelo – que mascava o freio, num devaneio, quiçá, de verde capim. Talvez o Ennio fosse tudo isso misturado – tudo ao mesmo tempo. Continuar a ler “CLINT EASTWOOD (ou a óbvia analogia) – por Claudio B. Carlos”

A LIBERDADE E A RAIVA DO PERRO ARAGONÉS – por Danyel Guerra

     Tenha cuidado. Sinto que há em si tendências surrealistas. Afaste-se dessa gente.

  Jean Epstein

“Posso dizer tudo o que penso?….é a escrita automática!…” (1). Em sua edição de junho de 1954, a revista  Cahiers du Cinéma  inseria uma entrevista com Luís Buñuel. Na época, este cineasta era celebrado na Europa apenas como autor de uma tríade maldita, malgrado seu Los Olvidados (1950) ter emocionado Cannes.

Escrita automática? Será que aos 54 anos, o pai da mexicana ‘Susana’ ainda se afirmava fiel aos conceitos teóricos e aos procedimentos formais da finada guilda, na qual foi iniciado em 1929,  pela mão de Louis Aragon e de Man Ray?  Chegado a meia-idade, o rebelde persistia em menosprezar o paternalista conselho de Epstein? Continuar a ler “A LIBERDADE E A RAIVA DO PERRO ARAGONÉS – por Danyel Guerra”

DANTE ALIGHIERI E O SEU DIÁLOGO COM O MUNDO – por Marilene Cahon

Se o homem, pois, é o meio entre as coisas corruptíveis e as incorruptíveis, é necessário, já que todo meio participa da natureza dos extremos, que o homem tenha uma e outra natureza. E como toda natureza está condenada para certo fim último, segue–se que, para o homem, deve existir um duplo fim; por ser, entre todos os seres, o único que participa da incorruptibilidade e da corruptibilidade; assim, único entre todos os seres está obrigado a dois fins últimos, dos quais, um é o fim enquanto é corruptível; e outro, enquanto é incorruptível

 (DANTE ALIGHIERI, Da Monarquia, III, § XVI) Continuar a ler “DANTE ALIGHIERI E O SEU DIÁLOGO COM O MUNDO – por Marilene Cahon”

CONSERTO NO TELHADO – por Marcos Fernando Kirst

 

@JuliaML

Sabia que já não tinha mais idade para aquele tipo de coisa, mas mesmo assim tirou as teias de aranha da escada de madeira e encostou-a na parede do lado de fora da casa caiada, pronto para escalá-la rumo ao telhado, onde a antena parabólica aguardava por não mais do que uma pequena torcida para devolver a qualidade da imagem da televisão, pois que o jogo começaria dentro de poucos minutos. Continuar a ler “CONSERTO NO TELHADO – por Marcos Fernando Kirst”

DOSSIÊ A CARGO DE FLORIANO MARTINS – “Surrealismo a palavra mágica do século XX”

Surrealismo é a palavra mágica do século.

César Moro

Ao começar a preparar este dossiê me veio à tona uma indagação que não quero deixar por menos: como seguir uma ortodoxia que postula a liberdade total? Em conversa com Zuca Sardan, ele me diz: A liberdade total é não tentares impor tuas ideias na cabeça dos outros. E seres um toureiro na finta aos donos da verdade. Deixe os dois ouvidos abertos e alertas. Um para deixar as palavras entrar, e outro para deixar as mesmas palavras sair. No caudal das palavras que chegam, haverá talvez uma ou duas raras pepitas. Guarda-as, mas não digas nada ao orador. Este sentido de liberdade não faltou ao Surrealismo, embora tenha sim faltado a seu regente, André Breton. Não tanto pela imposição da própria palavra, mas antes pela surdez em relação a muitas palavras (aqui incluindo todas as palavras de quaisquer outros idiomas que não o francês). Ato praticamente isolado, embora tenha causado imenso tumulto na formação original do grupo, sobretudo em face de suas indevidas expulsões. Não afetou, por outro lado, a expansão do movimento e sua vazante mágica de viagens por todo o planeta. Continuar a ler “DOSSIÊ A CARGO DE FLORIANO MARTINS – “Surrealismo a palavra mágica do século XX””

ANDRÉ BRETON – FRANÇA (1896-1966)

Ao dizer que a criação deve brotar alheia a toda preocupação estética ou moral, André Breton (1896-1966) deixou ao sol a má interpretação que seus acólitos acabaram por ver no Surrealismo uma ausência de moral e estética.Os fundamentos do Surrealismo dizem respeito ao imperativo de uma liberdade total na criação, o que inclui a não filiação alguma a quaisquer ordens. No entanto havia uma ordem por trás dessa cortina, cuja raiz era a própria razão de ser do movimento. Daí que o desafio maior de Breton tenha sido o de encontrar um equilíbrio entre essa aparente dicotomia. Continuar a ler “ANDRÉ BRETON – FRANÇA (1896-1966)”

VALENTINE PENROSE – FRANÇA (1898-1978)

Valentine Penrose (1898-1978) alcançou imenso reconhecimento graças a uma narrativa impactante dedicada à vida de Elizabeth Bathory, a condessa húngara do século XVI que se mantivera sempre jovem graças a seus banhos com sangue de virgens capturadas e mantidas no calabouço de seu castelo. A narrativa, saudada por Georges Bataille, inspirou vários filmes. Valentine escreveu outras narrativas, marcadas quase sempre por um cenário de lesbianismo, além de poemas, desenhos e colagens. Continuar a ler “VALENTINE PENROSE – FRANÇA (1898-1978)”

CÉSAR MORO – Peru – (1903-1956)

O peruano César Moro (1903-1956) é uma das mais singulares vozes poéticas do Surrealismo. Poeta bilíngue, ele deixou a maior parte de sua obra escrita em francês. Poeta e pintor, em 1935 organiza em seu país a primeira exposição internacional do Surrealismo na América Latina. Posteriormente, em 1940, já residindo no México, Moro organiza, ao lado de Breton e Wolfgang Paalen, a 4ª Exposição Internacional do Surrealismo. Continuar a ler “CÉSAR MORO – Peru – (1903-1956)”