POEMAS DE Lígia Casinhas

by Mariam Sitchinava

Perto e longe

Construímos viagens.
Tão distante é a verdade.

Procura submissa
Voz, sândalo e maresia.
Tu perguntas, eu respondo.
Nada sabes.
E guardas
Esse querer, não quero agora.
Feridas no ocaso
E poema

♣♣♣

Silêncio solto
O parto comum
Ou evidências codificadas?

No desejo do poeta

Raízes breves de metáforas adolescentes
Olhando/Sentindo escuro.
Em teus olhos impacientes vitórias

Forram corações guardados
No amargo e na ternura
As palavras que te digo e não oiço.

♣♣♣

Urgente o cais
Sentei-me.
Amantes e gaivotas
Provocação solene
De mil partos
Condensada neste rio
Profuso Amor
Gaivotas e girassóis

Em teu regaço vontade e poema
Momentos em que se renasce
Passeios endémicos de lua e mar

Alterar a convicção de existir

Somente
Perdi o imenso
Roubado e perdido.
Papoilas e notas de Bach em combustão.

♣♣♣

Meus sonhos
Margaridas que aprendi
Guardo-os todos
Os que perdi
Tapetes de flores brancas
Ao longe no mar
Navios
Águas pálidas que não escrevo

Divido o tempo
Parcela de sol
Sal
Ansiedade
E rugas nas minhas mãos
Solene ternura
Antítese
Luar
Mãe de todos os poetas

A Terra fraqueja
Ou eu.

♣♣♣

Esconde-se um trejeito
Fácil e insensato
contornando searas verdejantes
Ceifadas de sangue

Imploram-me justiça
E os corpos nus
Nas roupas desajeitadas
Na dor do meu tempo
Fluidamente tirano

Ideais desenhados
Em tranças felizes
Ocultas e secretas
Virgens mascaradas

Pinturas divididas
Noutro tempo
Sábio e dócil
E o fim de uma paisagem
à espera.

♣♣♣

Partiu-se a noite
Em segredos ambíguos
Dédalos de dedos frios
Janelas de fantoches
E sombras de mim

Durmo na seiva
Do tempo quebrado

♦♦♦

Lígia Casinhas nasceu a 9 de Janeiro de 1963 em Vila Real.  Vive no Porto há vários anos. Tem trabalhos dispersamente publicados em diversas  colectâneas e revistas. 
Encontra-se na escrita entre palavras nómadas,  olhares silenciosos e fugas dóceis.