POEMAS DE António Pedro Ribeiro

Foto de Paulo Burnay

OS SINOS NA CASA DA MINHA AVÓ

Os sinos da igreja
na casa da minha avó
em Braga
onde estás, minha avó,
que eras bondade
e serenidade
e me davas tudo?
Onde está a minha casa
da Rua Nova de Santa Cruz
onde ficava com a Goreti
a celebrar o amor?
Onde está Braga,
a minha cidade,
onde já não vou
há mais de um ano?
Onde estás, Álvaro?
Onde estás, Jaime?
Onde estão todos os outros?
Agora a minha vida
é apenas literatura
e esperança
num novo mundo
às vezes escrevo
uns poemas melhores
outras nem por isso.

♣♣♣

NÃO QUERO SER SÓ MAIS UM

Penso
mas porque me canso
tanto a pensar?
Porque não sou simples
como o homem comum?
Porque problematizo?
Porque ponho tudo em causa?
Porque me chateio com os outros
e com a humanidade?
Porque não me limito à vidinha?
Seria muito mais fácil
mas eu não nasci assim
não me conformo
entedio-me não raras vezes
com esta sociedade
mas não embarco
na felicidade fabricada
da máquina
penso muito
questiono
leio
estudo
sou exigente comigo mesmo
não quero ser só mais um.

♣♣♣

VAMOS TOMAR A TELEVISÃO

Deixarei versos
livros
crónicas
canções
não sou mais do que os outros
sou um homem do pensamento
da mulher
da revolta
da liberdade
os dias ultimamente parecem iguais
mas não são
a mente cavalga
pressente o caos
mesmo que só me desloque à farmácia
ou à mercearia
os guerrilheiros estão à porta
vamos tomar a aldeia
vamos tomar a televisão.

♣♣♣

O GRANDE GOZO

A mulher, o caos, a revolução
eis as coisas que me interessam
o apocalipse do mundo
a confusão controleira e mercantil
os políticos imbecis
tudo isso me faz rir
tudo isso me dá prazer
tal como as mulheres
o fogo das mulheres
o sexo
as mamas
a beleza e a sensibilidade superiores
autênticas deusas
canto-as
amo-as

gozo com esta merda toda.

 

NOTA DE ATHENA: António Pedro Ribeiro e Paula Vinhais lançam o livro “O Lobo e a Capuchinho-Poemas Livres”, uma edição da Corpos/Artelogy, no próximo dia 29 de Maio, sábado, pelas 18h, no Espaço Livre, no Centro Comercial Stop, no Porto. A obra reúne poemas de amor, sexo, sátira, liberdade e revolta como “Poeta Negro”, “O Presidente da Junta”, “Fátima”, “Virgínia”, “Testamento” ou “Big Brother”. Também pode ser adquirida na internet em https://www.artelogy.com/pt/store/antonio-pedro-ribeiro-e-paula-vinhais-o-lobo-e-capuchinho-poemas-livres

António Pedro Ribeiro nasceu no Porto no Maio de 68. Viveu em Braga, Porto, Trofa e reside actualmente em Vilar do Pinheiro (Vila do Conde). É autor de 16 livros: “Os Últimos Copos”, à venda no Gato Vadio, na Matéria-Prima e no Café Candelabro no Porto, “Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro”, “Queimai o Dinheiro”, “Crónicas de Iluminação e Rebeldia”, “Dez Pés Abaixo do Mundo” (Antologia), “O Caos às Portas da Ilha”, “Poemas de Natal para Homens Crescidos” (com desenhos de Cesar Taíbo). “Fora da Lei”, “Café Paraíso”, “Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os Mercados e Outras Conversas”, “Um Poeta no Piolho”, “Um Poeta a Mijar”, “Saloon”, “Sexo, Noitadas e Rock n’ Roll”, “Á Mesa do Homem Só” e “Gritos. Murmúrios” (com Rui Soares). É vocalista da banda Sereias. É sociólogo, cronista e foi jornalista. Durante longos anos disse poesia nos bares Púcaros, Pinguim e Olimpo no Porto e Pátio em Vila do Conde, bem como no Clube Literário do Porto. Manteve durante cerca de 10 anos a rubrica “Poesia de Choque” com o diseur e poeta Luís Beirão. Foi activista estudantil e militante dos partidos PSR, Bloco de Esquerda e MRPP. Actualmente considera-se anarquista.