FALAR SOBRE SENTIMENTOS – por Teresa Escoval

“Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens.”
Fernando Pessoa

Começar a escrever sobre sentimentos com base neste citação de Fernando Pessoa é acreditar que podemos tornar-nos pessoas mais sadias e generosas quando partilhamos o que nos vai na alma com o outro. É sentir que numa partilha honesta de sentimentos um cresce com o outro e ambos se tornam pessoas mais sadias e honestas.

Falar sobre sentimentos é iniciar uma comunicação permitindo que o outro te conheça e compreenda. Isto pressupõe que quem te ouve, seja atento e dedicado e interpreta as diferenças como fonte de crescimento e toma tudo o que ouve pelo seu valor facial, compreendendo-o.

Saber lidar com os sentimentos é aprender a manter a esperança e a vontade de viver com leveza e simplicidade. E sabendo falar e lidar, comunica-se com muita autenticidade.

É simples e fácil. A comunicação começa tendo um a predispor-se a falar e o outro a predispor-se a ouvir. E assim se rompe com a solidão (de sentir-se abandonado) e se promove a entre-ajuda, e se identifica um código primordial na comunicação: sinceridade e respeito.

E a comunicação não é apenas verbal, pois também pode ser escrita. Seja ela qual for, ha sempre com a esperança de que quem nos escuta ou nos lê, tenha uma alma semelhante à nossa.

Mas para que entendas um pouco melhor sobre o que reveste os sentimentos, passo a falar-te das memórias de que estão impregnados.

Na verdade, qualquer tipo de sentimentos tem por base as memórias que assentam nas 5 principais feridas da alma – rejeição, abandono, humilhação, traição e injustiça.

Quando nos abrimos a falar, procuramos apagar/desfazer estas memórias, modelos/crenças inculcadas, conteúdos indesejáveis, para que consigamos ir ao encontro de nós mesmos e ser felizes.

Então, sente-se rejeição quando se crê que não há aceitação, quando há só desaprovação, quando não se sente aceitação e afecto por parte dos demais.

O abandono leva ao desamparado, à falta de protecção, como se sentisses que está sem direitos de viver, sem amor.

A humilhação faz-te sentir diminuído, desprotegido, abandonado.

A traição sente-se na quebra de lealdade, na perda da fidelidade e confiança.

A injustiça é sentida com a violação dos direitos e perda dos mesmos.

Logo, é deveras importante saber lidar com todas estas feridas individuais. Porém, nas nossas memórias também estão incorporadas feridas colectivas.

Por exemplo, agora, no presente momento, estamos mundialmente a lidar com o pânico da morte e com o isolamento e consequente desconforto das alterações das rotinas diárias. Isto tudo assenta em questões de sobrevivência que nos remetem para memórias retidas nos nossos inconscientes de pobreza, injustiças, violação de direitos, etc..

Na verdade, temos de conseguir assimilar, conscientemente, toda a informação que se assiste em directo, que nos reporta um mundo que desfalece e adoece a cada dia mais, e saber conseguir arranjar motivação e confiança para ultrapassar o momento, acreditando que é um ciclo que nos vai levar à posteriori a uma abundância e maneira de pensar e agir muito mais íntegra e justa.

Faz sentido agarrarmo-nos a algo que nos faça assumir um compromisso com a vida, que promova suavemente a união das famílias e de todos no geral.

De facto, a cura de cada um de nós só acontece de dentro para fora. Rendendo-nos à vida. Agradecendo às mudanças que nos fazem Ser.

Então, vamos fortalecer os nossos alicerces físicos, mentais e emocionais e lidar e pensarmos em conjunto que há uma grande probabilidade de dar a volta por cima. Vamos libertar o nosso sistema imunitário das fragilidades causadas por mágoas, culpas, frustrações, perdas, insucessos, traições e desilusões.

Que o tempo de isolamento (e não de solidão) nos permita o encontro connosco próprios, que se falem de sentimentos, que se partilhem afectos, que se dê valor aos laços familiares, de matrimónio, de amizade, de trabalho, etc..  E que consigamos a reconciliação com a vida de uma forma saudável, sem apegos, com compaixão, com aceitação, com fé e dignidade e, com integridade.

É necessário recuperar a autenticidade, sinceridade, abandonar o egoísmo e sermos altruístas. É altura de cultivar a paciência, a harmonia e a compreensão. É cada um de nós reconciliar-se consigo mesmo e com os outros.

De facto, se pensarmos bem, ou estamos a pedir Amor ou a dar Amor.

Mas, tens de saber sempre que a responsabilidade da tua vida está nas tuas mãos. A responsabilidade é saber responder com habilidade a tudo. Ser responsável é saber que a calma, ponderação e organização são tão importantes como a diversão.

Acredito, que sejam muitos os sentimentos que passam nos cérebros de cada um de nós. Ao longo de um dia podemos viver emoções muito diferentes consoante o que tivermos de aceder e/ou manifestar. Assim, podemos sentir-nos tristes, alegres, zangados, culpados, sozinhos, preocupados, surpresos, nervosos, invejosos, preguiçosos, aborrecidos. Até podemos sentir mais do que um sentimento ou emoção ao mesmo tempo, o que nos pode provocar alguma confusão.

Mas o que importa mesmo é aprender a falar sobre estes sentimentos e aprender a gerir as emoções de uma forma saudável. Para além do que se verbaliza, importa prestar atenção ao nosso corpo que responde a essas emoções. Por exemplo, podemos suar quando sentimos medo, ficar vermelhos quando nos sentimos envergonhados, sentir o coração a bater mais rápido quando nos sentimos zangados, ou senti-lo com batimentos fracos quando pensamos que não há saída, que estamos prestes a desfalecer. Podemos sentir raiva quando perdemos o controle, sentir protecção e carinho quando nos sabemos amados.

Falar sobre os sentimentos é importante. É claro que eles não desaparecem magicamente só por falarmos sobre eles, mas pelo menos temos alguém com quem dividir os nossos problemas e que nos pode ajudar a encontrar uma solução e a sentirmo-nos melhor.

Quando partilhamos a nossa maneira de sentir, estamos aceitando o sentimento, e diminui a sua intensidade. Por outro lado, falar sobre as nossas emoções melhora as relações interpessoais. Permitimos que o outro se sinta confidente, alguém em que você depositou sua confiança, e isso denota um grande apreço e carinho em relação a essa pessoa, que sente que foi importante para você.

Na verdade, a vida passa velozmente e há que pensar na importância de termos tempo de dar uma palavra amiga, de conforto, a quem dela necessita. O tempo é um mestre. E a vida é feita de ciclos, numa vezes temos abundância, noutras algumas privações, como sistemas de aprendizagem e de desapego de crenças e padrões inculcados ao longo dos séculos. Há com certeza alturas em que nos sentimos um barco de papel à deriva no oceano, por nada nos fazer sentido.

Depende de nós querer uma vida regida pela evitação ou uma vida regida pelos nossos valores e comprometidos com o que queremos.

É preciso descartar a crença de que a vontade surge num passe de mágica, e começar a cultivar uma atitude comprometida com o nosso objectivo.

Então, como nos libertamos da dor? Do medo? Da culpa?

Primeiro que tudo há que reavaliar atitudes. Como já referi anteriormente, nem tudo é de cariz individual, há também uma carga colectiva, da sociedade, e que sempre esteve envolta em injustiças sociais, e citando aqui Mahatma Gandhi, isso derivou de:

– riqueza sem trabalho

– prazer sem escrúpulos

– conhecimento sem sabedoria

– Política sem idealismo

– Comércio sem moral

– Religião sem sacrifício

– Ciência sem humanismo

Na verdade o que a sociedade nos comunica é que devemos dar uma grande contribuição à mesma, por valores de justiça e equidade. Pela honra de nos sentirmos pertença da mesma, e termos compreensão das diferenças, pela expansão de amor e fraternidade.

A Terra pede paz, afecto, educação, sanidade mental e espiritual. O ser humano tem de se engrandecer pela generosidade, pelas vitórias pacíficas, pelo reconhecimento e elogio. Temperança é cura!

Tem gente que não entende, mas só podemos conquistar o mundo fortalecendo os laços de amor. Isso só se consegue pelo grande princípio de fortalecer o que nos une, multiplicando-o no lugar de o dividir.

E isto só se constrói com base na confiança. Confiar é ter a coragem suficiente para dividir com o outro o que sentimos verdadeiramente. E confiar também exige humildade e respeito.

E confiar também é uma forma de amor. Como refere Paulo Freire “ O Amor é uma intercomunicação íntima de duas consciências que se respeitam. Cada um tem o outro como sujeito de seu amor. Não se trata de apropriar-se do outro.“

E, agora sou eu mesma, neste pequeno verso, que te digo:

Abre o coração

numa outra história

numa outra vida,

Num outro destino

Porque tu

Em essência

Continuas sempre imponente!

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Teresa Escoval é Pós-Graduada em Gestão de Recursos Humanos, Licenciada em Sociologia, Bacharel em Gestão de Empresas. Desempenhou vários lugares de chefia na área Financeira e Gestão de Recursos Humanos. Desde 1994 que gere e desenvolve um negócio próprio na área do emprego,diagnóstico/desenvolvimento organizacional e formação.

Mantém colaboração regular, desde 2007, com várias revistas, onde são publicados artigos sobre diversas temáticas, que é autora.