LEILA FERRAZ – BRASIL – (1944)

A imagem que nos aterra a existência, que se torna um testamento usual, um versículo sempre na ponta da língua, cobra hoje uma tarifa existencial que nos limita a própria reflexão sobre o que somos ou deixamos de ser. Somos viciados em uma demanda reiterativa. Algo nos impede de experimentar um mundo outro sob ou sobre a capa de uma realidade averbada pela crença na imutabilidade da vida. Ora, mas a vida é tudo menos imutável. Mesmo no plano sagaz das religiões a vida é o preço, a súplica, a tormenta, o vislumbre, o apogeu, a dádiva, e não é possível pensar em nenhum desses atributos como um álibi inquestionável que não permite à espécie humana mudar sequer de postura na cadeira em que presta depoimento sobre sua existência. A fotografia é uma das mais complexas faturas da criação artística, a começar pela resistência da arte entendê-la como sua cúmplice. A beleza é outro aspecto frequentemente confrontado pela incredulidade em que o gesto humano seja tudo menos apenas uma reação brutal à diferença. A brasileira Leila Ferraz (1944) é poeta, ensaísta, fotógrafa, desenhista. Continuar a ler “LEILA FERRAZ – BRASIL – (1944)”

SETE POEMAS DE LEILA FERRAZ

O HÁLITO DO VENDAVAL

Há folhas espalhadas por todo o jardim, e venta
como se não houvera vento antes desta manhã.
Leva para o mar todas as memórias da luxúria.
E eu me abro para mais um dia, outro dia, novo dia.
Para quem perdi meus dedos nesta noite.
Acordei com estrelas e bambus.
Odores sensuais cozeram meu corpo à cama
e as lembranças de sedas, rendas, cadeiras tombadas
e ilógicas derramaram um esquecimento lilás. Continuar a ler “SETE POEMAS DE LEILA FERRAZ”