SEXTETOS – por Januário Esteves

54

Ponho os violinos de Vivaldi
a tocar para os pássaros
que pousam no meu quintal
e é em glória no arrabalde
que nos extasiava até aos píncaros
numa trovoada que não faz mal.

36

Na neblina da manhã vejo
uma figura que se agiganta
como um prenúncio transcendente
é um poema do céu que ensejo
que me rasga numa dor santa
num delírio iridescente.

37

No estro harmónico da beleza
vagueámos estreitas ruas e vielas
como peregrinos cheios de fé
naquele acordar em Veneza
despimos as emoções mais belas
em beijos quentes dados pela Sé.

30

O progresso acabou
vivemos em sobrevivência
num estreito funil que se fecha
num mantra que se avariou
numa fuga em cadência
num mundo que se desfecha.

7

Procuro amizades pelo mundo
como um cão abandonado
na rua de uma solidão qualquer
numa viagem ao ser profundo
caminhei a estrada emocionado
e nada me comoveu sequer.

♦♦♦

Januário Esteves usa o pseudónimo “Januanto”. Nasceu em Coruche, Portugal (1960).  Escreve poesia desde os 16 anos. Em 1987 publicou no Jornal de Letras e participou ao longo dos anos em algumas publicações colectivas. Publicou na revista brasileira Musa Rara, na revista americana EIGHTEENSEVENTY .POETRY.BLOG., na Revista Brasileira LiteraLivre, na revista romena Poesis, na revista australiana Otoliths, na revista americana BlazeVox, na revista americana Harbinger Asylum, na revista americana Ducor Review, na revista indiana Taj Mahal.