LUZ NO CAMINHO
Escutas o silêncio
Para não perderes
O murmúrio dos meus lábios
Um silêncio onde respirar
Se torna mais fácil
Uma transparência que mostra
A areia no fundo do rio
És a Fonte onde os pássaros
Bebem e cantam
E no teu rosto, a Luz poisa
Reconhece-te, pertence-te
Como o perfume pertence à flor.
MULHER
É chamada, por vezes, a ser montanha
Que se ergue sozinha no cume do seu assombro
Montanha que muda de lugar, morre e renasce
Andarilha da luz que resiste aos naufrágios
Enfrentando os tentáculos de perdas
Que não se curam com música de Bach.
Montanha que carrega a degradação do sol
A alma amputada e o abate de todas as ilusões
Por palavras que são mísseis de longo alcance
No poema que ela escreve, todos os dias
Há uma mulher fragmentada em cada sílaba
Mas a sua voz continua a chamar para a mesa
Morre muitas vezes, mas tem o saber da ressurreição
Que lhe devolve as asas e impede o riso de ser uivo.
♣♣♣
CREPÚSCULO
É a sede que te faz caminhar
Ela sempre foi a tua Mestra
E no crepúsculo da tua luta
Pénia e Poros te dizem ainda
Que o Amor é energia
Que nunca se habituou ao Mal
Nem à impossibilidade de o deter
Ainda não é noite
Mas também já não é dia
E é na perversidade do Impossível
E é na impiedade desta fronteira
E é na periferia em que vives
Que tu ainda contemplas
A benevolente flor da cerejeira.
♦♦♦
Maria João Lopes Gaspar de Oliveira, natural de Veiros (Évora), reside em Coimbra. É licenciada em Filosofia pela Universidade de Coimbra. É co-fundadora do Movimento de Acção Juvenil- Joaninha / MAJJ Publicou três livros de contos: O Natal da Avó Hortense (1990: Ediliber), O Polvo Não Sabia que o Mexilhão tinha Asas (2008: Palimage), Não Havia Lugar para Ele (2008: Palimage) e Luz nos Claustros (2022: 5 Livros). Tem sido premiada em concursos literários nacionais e internacionais. É colaboradora permanente do jornal Tribuna Pacense, membro do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora e da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA).
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