POEMINHOS (41-50) – por Jaime Vaz Brasil

41.

Ninguém redime
o podre
      no sublime.

O poema, porém
pode ser contraste:
um choque de contrários.

Por exemplo:
a palavra sujeira
      perto do santo sudário…

42.

Vinícius:
– O uísque é o melhor amigo do homem.
É um cão engarrafado.
Eu:
– O livro é melhor amigo do homem.
É um cão encadernado.

43.

Das artes

a mais complicada:
      Poesia.

É um grande
      tudo ou nada.

♣♣♣

44.

Horácio dizia:
– Enlouquecer ou fazer poesia.

Eu digo, séculos depois:
– Putaquepariu. Tô nos dois.

♣♣♣

45.

Pensar está para a mente
assim como o exercício
está para o corpo.

♣♣♣

46.

Duplo sentido

O tempo é um tobogã
onde a gente senta
e os anos passam voando…

♣♣♣

47.

Das redundâncias,
constato:

homem autista
mulher bipolar
padre pedófilo
e filho ingrato.

♣♣♣

48.

Poesia
é o sublime retiro
do que foi escrito:

um suspiro
       no colo do infinito…

♣♣♣

49.

Quem escreve “com toda a emoção”
fica com ela só pra si
no clichê do seu nobre coração…

Escrever
é apenas o pobre ofício
da imaginação.

♣♣♣

50.

Colher:
verbo no futuro do plural.

Plantar:
pretérito solitário singular.

♦♦♦

Jaime Vaz Brasil – Poeta gaúcho, com 7 livros publicados e vários prémios, dentre os quais: Açorianos, Felipe d’Oliveira e Casa de Las Americas (finalista). Atua também como compositor, tendo vários poemas musicados e interpretados por vários parceiros, dentre os quais Ricardo Freire, Flávio Brasil, Zé Alexandre Gomes, Nilton Júnior, Vitor Ramil e Pery Souza.