MAX RICHTER—NOVEMBER (Music Video 2020) – por Eric Ponty

 

A Música  Existencial

 

1—O estado musical

O estado musical não é uma ilusão, porque nenhuma ilusão pode dar uma certeza de tal amplitude, nem uma sensação orgânica de absoluto, de incomparável vivência significativa por si só e expressiva em sua essência.

Nesses instantes em que ressoamos no espaço e o espaço ressoa em nós, nesses momentos de torrente sonora, de posse integral do mundo, só posso me perguntar por que não serei eu todo este mundo. Ninguém experimentou com intensidade, com uma louca e incomparável intensidade, o sentimento musical da existência, a menos que tenha tido o desejo dessa absoluta exclusividade, a menos que tenha sido possuído de um irremediável imperialismo metafísico, quando desejara a ruptura de todas as fronteiras que separam o mundo do eu.

Emil Cioran – O Livro das Ilusões

Max Richter—November  (Music Video 2020).mp4

Se o estado musical faz associar, no indivíduo, com um estado de egoísmo absoluto  nesta maior das generosidades tal qual nos alude Emil Cioran – O Livro das Ilusões sendo que Cioran nos põe este questionamento muito ao propósito que nos refletiremos que é Max Richter – November  (Music Video 2020).mp4:

Queres ser só tu, mas não por um orgulho mesquinho, mas por uma suprema vontade de unidade, pela ruptura das barreiras da individuação, não no sentido de desaparição do indivíduo, mas de desaparição das condições limitativas impostas pela existência deste mundo. Quem não tenha tido a sensação da desaparição do mundo, como realidade limitativa, objetiva e separada, quem não tenha tido a sensação de absorver o mundo durante seus êxtases musicais, suas trepidações e vibrações, nunca entenderá o significado dessa vivência na qual tudo se reduz a uma universalidade sonora, contínua, ascensional, que evolui para o alto em um agradável caos.

E o que é esse estado musical que nos conduz Max Richter—November  (Music Video 2020).mp4 senão para um agradável caos cuja vertigem é igual à beatitude e suas ondulações das iguais e de tais arrebatamentos musicais?

2—Desprovido de presente.

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Havendo um conhecimento que paga peso e está alcance ao que um faz; para o todo, ausente do mesmo, carecendo de fundamento. Puramente, fazendo aborrecer inclusive esta ideia de objeto, expressa naquele saber extremo segundo o qual passa ser igual cometer ou não cometer um ato, uma vez que nos implica duma satisfação também extrema: a de poder repetir, em cada encontro, que nada de quanto se faça merece a pena, que nada está realizado por um rastro algum de sustância, que a «realidade» se escreve num campo da insensatez. Tal conhecimento mereceria ser chamado póstumo, já que se apresenta como si o que faz conhecer estivera vivo e não estava vivo, de ser desta reminiscência de ser. «Sendo coisa passada», ao dizer de todo o que realiza neste instante mesmo do ato, do qual, dessa maneira, ficando para sempre desprovido de presente.

3—Distância do Mundo

Richter—November (Music Video 2020).mp4

Não seria mil vezes preferível retirar-se à distância do mundo, longe de tudo o que provoca seu tumulto e suas complicações? Nós renunciaríamos assim à cultura e às ambições, nós perderíamos tudo sem obter nada em troca.

Mas que podemos obter neste mundo? Para algumas pessoas, nenhum ganho importa, porque eles são irremediavelmente infelizes e solitários. Mesmos abertos a tudo receber dos outros, ou a tudo ler nas profundezas de suas almas, em que medida seríamos capazes de esclarecer seus destinos?

Se sós na vida, nós perguntamo-nos se a solidão da agonia não é o próprio símbolo da existência humana. Lamentável fraqueza a de querer viver e morrer em sociedade: existe alguma consolação possível na última hora? É preferível morrer só e abandonado, sem afetação e mentiras. Eu provo apenas desgosto por aqueles que, na agonia, dominam-se e impõem-se atitudes para provocar uma impressão. As lágrimas somente são quentes na solidão.

Todos aqueles que querem cercar-se de amigos na hora da morte, o fazem por medo e incapacidade de afrontar o seu momento supremo. Eles procuram, no momento essencial, esquecer sua própria morte.

4—Fenômeno de um eclipse.

Max Richter—November (Music Video 2020)

Quaisquer que tenham sido nossas exposições anteriores, não foram a única causa da mudança de minha orientação quanto esta tentativa de um ensaio sobre Max Richter—November (Music Video 2020); também contribuiu em muito um fenômeno mais natural e muito mais doloroso: a densidade destas imagens que achamos em, Max Richter November (Music Video 2020) – tais como seus sintomas que não enganam; por um acaso, começamos a dar cada vez mais sinais desta tolerância, anunciadores desta melodia do violino, nos parecendo, de algum transtorno íntimo, de algum mal, sem dúvida, de uma fonte incurável de nossa época frente o cotidiano e os fados do mundo.

O que me alarmava ainda mais era que já não tinha força nem para desejar a tal sorte de November (Music Video 2020); ao contrário, escutá-lo e compreendê-lo, se tal November (Music Video 2020) comparava seu fel com o nosso: se o Music Video se faz existir, e, se na decadência inominável, estávamos contentes com sua existência.

A densidade da música e das imagens em November (Music Video 2020) se nossos ódios, fonte de nossas alegrias, se apaziguavam, diminuíam dia a dia e, ao afastar-se, levavam consigo o melhor de mim mesmo. O que nos resta a fazer? Para que abismo estou escorregando? Me perguntava sem cessar durante o November (Music Video 2020). À medida que November (Music Video 2020) demonstrava esta energia declinava sobre sua melodia, se acentuava esta inclinação para a tolerância de sua compreensão como uma imagem incomparável em November (Music Video 2020) que é fenômeno de um eclipse.

Conclusão—Max Richter—November  (Music Video 2020)

Max Richter—November (Music Video 2020).mp4

Busquei a Dúvida em todas as artes e só a encontrei camuflada, furtiva, dissipada nos entreatos da inspiração, surgida do relaxamento do impulso; mas renunciei a procurá-la – mesmo sob essa forma – em música; não poderia renascer: Max Richter—November  (Music Video 2020).

Ignorando esta ironia, a música procede não das malícias deste intelecto, mas dos matizes ternos ou veementes desta Ingenuidade – senão tolice do sublime, desta irreflexão do infinito… Se tal piada não possui equivalente sonoro, se chamarmos um músico de inteligente seria o equivalente a denegri-lo. Este atributo o diminui e não tem lugar nessa tentativa de ensaio lânguido onde, como um deus cego, Max Richter—November  (Music Video 2020) improvisou com tais arrojos dos universos como apresentou em seu solo de violino.

Se fosse consciente de seu dom, deste seu gênio, sucumbiria a tal orgulho; mas é irresponsável; nascido no oráculo, não pode compreender-se a si mesmo. Cabendo aos estéreis interpretá-lo como nós: este músico não é crítico, senão é um Deus não passa de um teólogo. Se este não é um caso-limite de irrealidade e de absoluto, de ficção infinitamente real, de mentira mais vera que o mundo do qual representa, a música perde seus prestígios logo que, secos ou morosos, nos dissociamos da Criação e o próprio Max Richter—November  (Music Video 2020) nos pareceu um rumor insípido; é o ponto extremo de nossa não participação nas coisas de estar no mundo, de nossa frieza e de nossa decadência frente a tal empreendimento.

Max Richter—November  (Music Video 2020) se não está zombar em pleno sublime, triunfo sardônico do princípio subjetivo, que nos aparenta ao Diabo nesta composição musical que é Max Richter—November  (Music Video 2020)! Quem já não tem prantos para esta música, quem vive apenas da lembrança das que derramou diante de Max Richter—November  (Music Video 2020), será um ser perdido: se está clarividência não se fez estéril terá mesmo destruído o tal êxtase de onde surgem mundos do qual pudemos analisar nesta tentativa de ensaio que foi Max Richter—November  (Music Video 2020)…

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Eric Ponty – Brasileiro de Minas Gerais – É poeta e escreveu o considerado clássico “Menino retirante vai ao circo de Brodowski”.  São Paulo: Musa Editora, 2003.  POEMAS ESCOLHIDOS PELO AUTOR- Rio de Janeiro: Edições Galo Branco,2009. Como tradutor: O Cemitério marinho de Paul Valéry – CINQUENTA MIL DE MILHARES DE POEMAS – RAYMOND QUENEAU – EDGAR ALLAN POE- O CORVO EM UMA E OUTROS POEMAS, Charles Baudelaire. RICHARD WAGNER E TANNHÄUSER À PARIS, – Paris Spleen – Pequenos poemas em prosa – 50 MESTRES DA POESIA além de outros poetas e nacionalidades.