Lesya Ukrainka é uma das figuras mais destacadas e influentes da literatura ucraniana. O seu vasto conhecimento e as lutas pela liberdade e direitos do povo, fizeram com que tivesse importância não só como uma figura literária, mas também, reconhecida pelo seu lado patriota, ao ponto de ser honrada e estudada no seu país (faz parte do programa de estudo nas escolas e universidades). Ainda, Lesaya Ukrainka é homenageada internacionalmente, como exemplo disso, a poetisa foi reconhecida pela Unesco, como aquela que promoveu os valores de paz, tolerância, igualdade de gênero e etnias. Também é glorificada com marcas comemorativas.
Laryssa Petrivna Kosach nasceu a 25 de Fevereiro de 1871, na cidade de Novohrad-Volynsky (perto de Lviv), na Ucrânia. Pertencia a uma família de grandes intelectuais. O seu pai, Petro Antonovich, era jurista e professor universitário. Já a sua mãe, Olga Petrivna Kosach ou Olena Pchilka (pseudónimo), era escritora, editora, etnógrafa, intérprete, professora e ativista civil.
Durante a vida da poetisa, a Ucrânia encontrava-se sob o domínio de dois impérios: Império Russo e o Império Austro-Húngaro. Sendo que a maior parte do terreno ucraniano era ocupado pelo regime russo, o que significa que o uso da língua ucraniana era bastante limitado. Consequentemente, as escolas tinham que seguir as ideologias impostas pelos sistemas imperiais. Por isso, para evitar a influência russa e a diferenciação social vigente nas escolas, Olga Kosach, como professora, decidiu ensinar os seus filhos em casa, segundo uma ideologia liberal, de forma a reconhecerem e aceitarem todas as culturas e civilizações. Mas, o mais importante era o conhecimento do próprio povo e dos seus costumes para derrubar as barreiras sociais.
As crianças da família Kosach liam e escreviam desde cedo, e da mesma forma, conheciam os clássicos universais. Mas Laryssa, com o seu talento literário, destacou-se entre os irmãos, quando com nove anos compôs o seu primeiro poema: “Esperança”. Este poema, da pequena Laryssa, mostra a sua compreensão e maturidade em relação a certos momentos políticos no império russo, isto porque o poema foi inspirado numa situação política que ocorreu com a sua tia. Foi nesse momento, como resultado do sofrimento da família, que começaram a surgir traços patrióticos em Laryssa, que mais tarde serão intensificados na sua escrita.
Vendo o talento da filha, Olga Kosach incentivou-a a aprofundar os seus conhecimentos através da leitura de diversos autores internacionais. Juntamente com isso, ela tinha um grande talento para as línguas. Para além do ucraniano e russo, Laryssa também sabia polaco, búlgaro, alemão, francês, italiano, espanhol, dominava o latim e sabia grego clássico. Este conhecimento permitiu-lhe a leitura e tradução de textos universais diretamente do original.
Aos treze anos, fez a sua primeira publicação do poema “Safo”, já com o pseudónimo Lesya Ukrainka. Este nome expressa o seu lado pessoal e patriótico, visto que “Lesya” era o nome que lhe era dado em casa, um nome suave e carinhoso, o que substituiu o seu nome exigente, “Laryssa”. Já o nome “Ukrainka”, que significa “a Ucraniana”, é um símbolo patriótico que mostra o seu apoio e luta pela nação ucraniana.
Por outro lado, Laryssa gostava de música e tocava piano, mas não conseguiu desenvolver essas capacidades devido à sua doença, tuberculose óssea, que lhe dificultou a movimentação, o que a levou a duas operações: a primeira na Ucrânia e a segunda em Berlim, permitindo-lhe andar sem dificuldades. Posteriormente, descobriu-se que ela tinha tuberculose nasal, sendo que a única solução para combater e aliviar a doença eram os climas quentes e secos, que resultou nas viagens que fez ao longo da sua vida. Apesar disso, não foi o suficiente para o combate, então, devido ao mau funcionamento nasal, morreu a 1 de Agosto de 1913 (com 42 anos), na Geórgia.
O sofrimento causado pelas suas enfermidades não foi apenas físico mas também emocional, provocando momentos de fraqueza, como aconteceu no poema “Safo”:
“Por cima das ondas do mar, na rocha,
Uma rapariga está sentada,
Com a coroa de louro brilha,
Segura a lira do canto.
Para o seu canto triste
Na lira ela toca.
E com aquele canto no coração
Surge um grande cansaço:
Naquele canto recordou a fama,
A sua grandeza, a cor vermelha,
Pessoas perversas, e o amor,
E a traição, a tristeza dos seus anos,
Esperanças e decepções… A rapariga
arrancou a coroa de louro
E nas ondas do mar barulhento
Encontrou o fim do seu canto.
Neste poema não só vemos a inspiração e os ecos da poetisa grega, Safo (do fragmento 94), mas também é visível o sofrimento da própria Lesya, que procura o fim para terminar com o sofrimento, tal como Safo, que preferiu acabar com a vida saltando da rocha. Mas, em contraposição a isso, Lesya compôs o poema “Contra spem spero!”, que descreve a sua esperança e vontade de viver:
“Sim! eu vou sorrir no meio das lágrimas,
Entre a desgraça cantar canções,
Sem esperança vou confiar,
Vou viver! Saiam pensamentos tristes!”
Progressivamente, o seu talento literário prosperava, assim como o seu amor pela pátria. O seu engenho dava-lhe austeridade e confiança. Diante disto, em 1890, com dezanove anos, Lesya já tinha crescido como figura literária e alcançado o reconhecimento como escritora nacional e crítica contra o absolutismo russo. A sua escrita baseava-se nos seus sentimentos e pensamentos, que soube trabalhar nos vários géneros literários. Deste modo, criou três coletâneas como suas obras iniciais, já as obras seguintes, eram publicadas singularmente, marcadas por uma individualidade mais forte e séria.
É igualmente importante referir a predominância de personagens femininas nos seus poemas, envolvidas em diferentes situações onde lutam pela igualdade de género, mostrando o seu caráter forte, semelhante ao espírito masculino. Isto porque a própria Lesya destacou-se por ter uma voz potente, que comovia a pátria.
Lesya também era ativista social, uma vez que, o seu sofrimento pela nação levou-a a pertencer a um grupo de ativistas oponentes ao sistema governamental. Ainda, para incentivar o uso e o desenvolvimento da língua ucraniana, que até então, não tinha uma gramática, a poetisa criou um grupo literário, “Pleiada”, onde reuniu não só jovens, mas também intelectuais ucranianos. Neste círculo literário eram compostos textos em ucraniano e feitas traduções de obras internacionais.
Portanto, apesar da sua fraqueza física, Lesya Ukrainka tinha um caráter forte e poderoso que a ajudava a lutar pela própria vida e inspirava a luta pela nação. A sua maior arma era a sua escrita e o conhecimento, que criam esperança e dão força ao povo ucraniano, porque as suas palavras promovem a união de um povo e motivam a lutar pela liberdade, justiça e independência. Estas ideias também podem ser adaptadas à atualidade, pois a união nacional e cultural, liberdade, o direito de ter uma língua e a igualdade de género são assuntos todavia tratados.
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Evelina Tkachuk, nascida na Ucrânia no dia 30 de Setembro de 1997. Estudante do curso de Humanidades, terminou a Licenciatura e é aluna de Mestrado em Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Está a desenvolver o trabalho sobre Lesya Ukrainka, na esperança de trazer algo de novo à cultura portuguesa, relacionando o Mundo Clássico com a cultura ucraniana. Participou na 13ª Conferência Internacional da Série: “Culturas Ibéricas e Eslavas em Contacto e Comparação – Muros que Caem, Muros que se Levantam: 30 Anos após a Queda do Muro de Berlim”. Publicou o texto “Classical Culture and Portuguese Sport” para a 3ª Conferência Internacional: “A Cultura Física e o Desporto: Experiência e Perspetivas”, organizada pela Universidade Nacional de Chernivtsi, Ucrânia. Publicou o artigo “Quem é Lesya Ukrainka” na revista “Caliban”.
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