As origens da dinastia franco-borgonhesa “wido” (guido) nas proximidades de Colônia
O Castelo de San Giglio a Quinze milhas de Colônia
Rosa Maria Gusmão de Sampaio Torres
Marcelo Bezerra Cavalcanti
Depois de vários trabalhos realizados que confirmam as informações registradas por historiador e cronista da família, Giovanni di Nicolo Cavalcanti do sec.XV, mais uma vez citamos suas palavras tendo em vista ainda confirmá-lo. Afirma Giovanni di Nicolo:
“Todos nós [Cavalcanti] viemos de um castelo fora de Colônia quinze milhas chamado San Giglio, castelo com outros ainda a sede da nossa origem, descendendo nossa cepa de Carlos Magno, ordenou-se novo governo da república”. —”I quali noi tutti venino da uno castello fuori di Colonia quindici miglia & ha nome San Giglio, il quale castello con altre ancora sono sedia del nostro hurigine. & ricinta la nostra ciptà da Carlo Magno, s’ ordinò nuov governo della repubblica”. Istorie fiorentine scritte da Giovanni Cavalcanti – Volume II, pag. 455 a 457 – appendice §. 4. – Firenze, Tipografia All´Insegna di Dante ,1838 –Ivi, pag.I (Prologo del Lib. I).”
Devemos lembrar que depois de várias tentativas iniciais havíamos localizado documentadamente as origens francas mais antigas da família Cavalcanti no condado de Hesbaye, marca Haspinga – local onde conseguimos encontrar as origens remotas da linhagem dos wido – região central do reino franco, na atual localidade de Seckeinhein, Alemanha – condado onde no passado estava localizada uma igreja denominada S. Giglio, em aldeia também muito antiga, propriedade dos condes Warin, wido.
Com a expansão franca do sec. VIII esta dinastia wido havia se espalhado pela Europa, França, e depois pela península italiana.
A pequena Igreja de S. Gilles por nós localizada estava, portanto, próximo às cidades de Colônia, Mannheim, Aachem (Aquisgrana) e Radisbona – antigo centro do reino franco – na atual localidade de Seckenhein-Mannheim, (“Neustadt on the Wine Route” – Rhineland-Palatinate) – aldeia que no ano de 766 já aparece referida no “Codex Lorsch”. Esta nossa pesquisa documentada foi publicada em vários artigos: “As tradições de origem no centro franco das famílias Cavalcanti e Monaldeschi”, pela revista InComunidade, do Porto, numero 57, de junho de 2017, “As mais antigas origens de Cavalcanti, Monaldeschi e Malavolti nas proximidades de Colônia, reino franco – século VIII” no nosso blog, e ainda “A Dinastia wido e a familia Cavalcanti” já pela revista Athena. pt do Porto, em maio de 2019.
O pesquisador Marcelo Bezerra Cavalcanti, nosso companheiro de pesquisas, em seu blog também referiu às origens familiares Cavalcanti nas proximidades de Colônia, especificamente um lugar próximo a Seckenheim e Neustadt, porém do outro lado do rio Reno – na atual cidade de Bornheim (Alemanha, Eifelwasserleitung vor dem Rathaus) – onde ele constatou existiu, não uma pequena igreja, mas o próprio antigo Castello di San Giglio – castelo várias vezes reconstruído e reformado, hoje até mesmo irreconhecível e denominado Burg Hemmerich.
Este antigo castelo na atual Bornheim está localizado realmente muito próximo de Colônia, a 24,7 kms ou 5 hs 12 minutos a pé – a mesma distância, ressaltamos, referida por Giovanni Cavalcanti que informara o castelo a 15 milhas da cidade de Colônia – região onde existe ainda restos de um aqueduto romano. Parte deste conduto de água romano teria sido construído no ano 80 d.C. e transportou água a cerca de 95 quilômetros da região de Eifel para a antiga cidade de Colônia.
O antigo castelo medieval de Saint Giglio foi construído, portanto, sobre um antigo castro romano, há pouco tempo redescoberto. No sec. XIII o castelo era ainda habitado e de acordo com o testemunho do historiador de Colônia, Aegidius Gelenius, suas ruínas ainda eram visíveis no século XVII. Adiante o castelo foi várias vezes reformado, destruído por um incêndio e novamente reconstruído, tornando-se irreconhecível.
A última vez que ruiu foi durante a segunda guerra mundial – hoje denominado Burg Hemmerich. E poucos restos do castro romano e do castelo medieval seriam hoje visíveis. Temos conhecimento da existência de uma obra arquitetônica e arqueológica com a detalhada história do castelo.
Pelo menos dois outros autores estudaram o castelo:
Paul Clemen: Die Kunstdenkmäler der Stadt und des Kreises Bonn. L. Schwann, Düsseldorf 1905, S. 305–307 (=Die Kunstdenkmäler der Rheinprovinz, Band 5, Abt. 3, S. 601–603). (Unveränderter Nachdruck Verlag Schwann, Düsseldorf 1981, ISBN 3-590-32113-X) (Internet Archive) Os monumentos artísticos da cidade e do distrito de Bonn. L. Schwann, Düsseldorf 1905, pp. 305-307 Reimpresso em Monumentos Artísticos da Província do Reno, volume 5, departamento 3, pp. 601-603, Verlag Schwann, Düsseldorf 1981.
Bernhard Gondorf: Die Burgen der Eifel und ihrer Randgebiete. Ein Lexikon der „festen Häuser“. J. P. Bachem, Köln 1984, ISBN 3-7616-0723-7, S. 48. Os castelos do Eifel e seus arredores. Um léxico de “casas permanentes” . J. P. Bachem, Colônia 1984, ISBN 3-7616-0723-7 , p. 48.
Na cidade de Bornheim Marcelo Bezerra Cavalcanti ainda registrou lembranças e homenagens a S. Giglio e ao antigo castelo medieval, bem como os restos do aqueduto.
Monumento a San Giglio (São Egídio) em Bornheim, lembrança da existência do antigo castelo San Giglio.
Am Aegidius-Häuschen in 53332 Bornheim, Rheinland (Castello di San Giglio) – foto publicada no blog de Marcelo Bezerra Cavalcanti
(foto em página no facebook de Marcelo Bezerra Cavalcanti)
Restos do antigo aqueduto romano em Bornheim
Notícias locais sobre esse arqueduto reportam ainda: “Parte do canal romano de água em Bornheim. Construído em 80 dC, levava água a cerca de 95 quilômetros (59 milhas) da região de Eifel até a antiga cidade de Colônia. Deutsch: Bornheim, Teilstück der römischen Eifelwasserleitung vor dem Rathaus.
Fonte local sobre o castelo de Hemmerich acrescenta: “O castelo [antigo San Gilles] foi construído em um assentamento romano e em 1210 esteva na posse do cavaleiro Albero de Hemberg [cantão na Suíça], membro [capostipide] de uma influente família nobre. O estilo Rococó do Reno foi atribuído ao castelo após uma transformação nos anos 1729-1733. Posteriormente o castelo foi destruído devido a incêndios em 1869 e 1906, a mansão reconstruída como villa no estilo do neo-renascentista em planos do arquiteto Wilhelm Graf Mörner. Depois de um terceiro incêndio em 1945 desencadeado por trabalhadores forçados despedidos da Segunda Guerra Mundial o castelo tornou-se uma ruína que passou, depois de algumas mudanças de propriedade, para a posse do barão von Nordeck. Hoje não está mais na posse do barão von Nordeck sendo o atual proprietário a família Stollenwerk.
Bourg Hemmerich
Conclusão:
Com a localização original da dinastia franca/borgonhesa wido (guido) no condado de Hesbaye (marca Haspinga) documentada no ano 766 próximo da atual Meinheim – antes mesmo da descida de Carlos Magno – bem como a localização recente do castelo de San Giglio do outro lado do Reno a 15 milhas de Colônia, hoje cidade de Borheim, ficam comprovadas as mais antigas origens da família Cavalcanti – oriunda desta região muito próxima de Colônia como foi registrado no sec. XV pelo genealogista e historiador da família Giovanni Cavalcanti.
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Rosa Maria Sampaio Torres – pesquisadora em História (PUC-Rio), é também graduada em Estudos Sociais e pós-graduada em Ciências Políticas. Aluna do filósofo brasileiro Carlos Henrique Escobar acabou por desenvolver, também, seus dotes artísticos – especialmente como poeta, autora do livro “Bendita Palavra”. Já reconhecida como ensaísta, é autora de inúmeros artigos históricos sobre a família Cavalcanti, da qual descende, e agora sobre o poeta Guido Cavalcanti.
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