bom dia macabro (recomenda-se ler de baixo para cima)
hoje foi um: bom dia, macabro!
a coscuvilhar águas já passadas
cadeira preguiçosa na varanda
e a garrafa d’uns dez anos abro
ou conversas entre as estrelas
talvez seja o som das cigarras
a certa distância, oiço um silvo
eu chego, entro, subo e sirvo
♣♣♣
saudades no futuro
talvez nunca me deite n’outro colo
talvez a fé não passe de consolo
talvez nem conheça outro amanhã
talvez seja só a saudade dum divã
e quand’eu amanhã olhar pra hoje
que – entretanto – já será ontem
quand’este agora voltar já depois
talvez os dias adiados não notem
talvez sinta falta até das derrotas
falta dos nomes qu’inda nem sei
do raio de Sol ond’eu não brilhei
juro que até do chiado das portas
mas gosto desta luz a cortar o escuro
dos ecos das canções que não cantei
no susto de dejavus que não os terei
dou por mim a contar saudades no futuro
♣♣♣
nas notas o ré
no ventar da brisa no mar
na palavra que vive no ar
nas cantigas do vosso seio
nos lados do nosso meio
na partitura do compêndio
nos silêncios dum silêncio
e quanto custa o dinheiro?
se a resposta não tem preço
a boa música só ainda o é
porque tem nas notas o ré
♦♦♦
Diz-se que Hilton Fortuna Daniel é um escritor entusiasta que nasceu e vive em Angola. Às vezes, escreve poemas, outras vezes, contos. Gosta de poemas, mas mais de poesia. Encontra poesia inspiradora nas cores em Van Gogh, numa excelente reportagem jornalística, no meio de boa prosa, nas canções de Paulo Flores e nas músicas de Bach e Mozart, aliás, enquanto escreve muitos dos seus textos, ouve, preferencialmente, o primeiro dos músicos clássicos aqui mencionados, por quem é devoto.
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