Recentemente alguns pensamentos têm tomado conta da minha mente, tais como: de que maneira eu posso parar de me cobrar tanto, de que forma a sociedade chegou a esse ponto e que evangelho institucionalizado é esse? Confesso que este último tem me preocupado bastante! A institucionalização do cristianismo é um fato histórico que se inicia em Roma com a oficialização da doutrina cristã como a religião do Império romano pelo imperador Constantino. Penso que foi nesse ponto que os ideais do rabi Jesus Cristo começaram a se engessar, enrijecer e burocratizar.
A partir desse ponto, o cristianismo inicia o processo de difusão. Quem passa a aderir o cristianismo tem alguns privilégios, a título de exemplificação, a isenção de impostos. Essa instituição se propagou tanto que o Estado Laico se tornou uma impossibilidade, pois o mundo, o planeta terra, o ocidente e certa parte do oriente são cristãos. Todos esses fatores se dão por conta de como o cristianismo se entranhou ao Estado. Algumas comemorações revelam essa ótica: Páscoa, Natal, Finados.
Diante disso, é válido pensar no que escreveu Bukowski no seu poema “Como ser um grande escritor” no livro “O amor é um cão dos diabos” de 1977, para todos os que querem se dedicar à escrita sendo escritores: “fiquem longe das igrejas”. Entendo seu intuito com esse tópico frasal, as igrejas enquadraram o que há de mais singular e puro “o ensino de Jesus” e hão de nos enquadrar, nos normatizar, até que não reste mais nada além de um ser que compreende, segue, e não questiona o que acredita ou o que lhe foi imposto que acreditasse.
O rapper Knust, numa das músicas da série Poetas no Topo (2019), disse retextualizando de alguma forma a fala do poeta Charles Bukowski: “queimem as igrejas”. O rancor, o ódio, a aversão, a memória, a trágica recordação, o entendimento de tudo que a sociedade perde ao se fixar em discursos rasos frente à falta de compreensão dos ditos “seguidores de cristo” é nítida na fala do cantor, pois ele expressa tal descontentamento.
Ainda nessa linha de raciocínio, o rapper Froid define as igrejas nesse mundo pós-revolução industrial, como ‘multinacionais espirituais’. O processo de globalização afetou em muito as instituições religiosas, muito mais que a contra reforma encabeçada pela Igreja Católica Apostólica Romana, visto que uns mercenários da fé usurparam boa parte do dinheiro dos fiéis, pois a ética do protestantismo tem em muito a apreensão que fé é recurso.
A institucionalização do cristianismo é um movimento tão forte que algumas igrejas possuem leis, normas, dogmas e costumes que não constam na bíblia, mas foram criados por membros do corpo eclesiástico com o intuito de regulamentar e padronizar os cristãos. A título de exemplificação: O código do direito canônico e o Catecismo, da Igreja Católica Apostólica Romana, e a Declaração de fé, das Assembleias de Deus.
Ou seja, a igreja frente ao desenvolvimento do mundo cedeu no que diz respeito a tomar a forma do mundo, se valendo de normas jurídicas que impõe obrigações aos fiéis, e expõe a hierarquia existente nesse meio, através disso, vê-se o quanto a institucionalização deturpou o ensino de Cristo. Até o pensamento Hierárquico, do qual Jesus era contra, se ergueu nos segmentos religiosos, visto que Jesus disse: “É realmente como vos digo: se não mudarem totalmente a direção das vossas vidas e não se tornarem como crianças, jamais entrarão no reino dos céus. Pois aquele que se tornar pequeno e simples como esta criança será como o maior de todos no reino dos céus. E quem receber uma criancinha como esta, em meu nome, é a mim que recebe.” Mateus 18.3-5.
Assim, posso notar que expliquei pouco, dizendo quase nada. Escrevi esse texto em um banco duro de uma igreja evangélica, irônico isso. Isso se assemelha ao posicionamento de Adoul Huxley na obra Admirável Mundo Novo (1932), o Selvagem percebe a falha e a desumanidade no sistema, critica o mecanismo no qual está inserido, mas não se liberta, visto o que regime já penetrou em todas os campos do seu ser.
Dessa forma, é válido apontar que o que fiz aqui é o que se faz todo dia na igreja, falar de doutrina, falar de dogmas, regras e nada de falar do Rabi da Galileia. Os ensinos de Cristo são de um todo simples e de fácil entendimento e podem ser resumidos em duas sentenças: “amarás a Deus sobre todas as coisas” e “amarás ao próximo como eu vos amei”. A verdade é clara: Falhamos enquanto igreja e mais ainda enquanto “seguidores de Cristo”. Portanto, é possível ressaltar que conseguiram deturpar o ensino de cristo ao ponto de transformá-lo em um mero conjunto de regras.
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Luiz Henrique Costa de Santana Graduando da Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Garanhuns (UFRPE/UAG), do 3º período do curso de Letras – Português-Inglês. Membro (estudante) do grupo de estudos em “Metaliteratura: teorias e obras”. Tem interesse em Literatura, Literatura e memória, Metaliteratura, Estudos literários e em estudos culturais. PETiano (bolsista) do Programa de Educação Tutorial (PET) – Conexões: Arte, Cultura e Educação em Comunidades populares e quilombolas na UFRPE/UAG.
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