“É um projeto de um documentário sobre o Japão dos anos 90, visto pelos olhos da jornalista, escritora e editora espanhola Montse Watkins. Montse foi correspondente da EFE em Tóquio, uma agência da imprensa espanhola e dos jornais El Mundo e Avui, além de ser pioneira da tradução feita diretamente da literatura japonesa para o espanhol. Ela foi também uma feroz defensora dos imigrantes nikkei marginalizados vindos da América Latina. A prolífica carreira literária de Montse, com mais de 25 livros publicados em cinco anos, foi interrompida precocemente aos 45 anos por uma doença terminal. Apesar dessas conquistas, seu nome, tal como o das “Las Sinsombrero”, o grupo de poetas silenciadas e intelectuais espanholas da geração de 1927, só agora começa a ser resgatado do esquecimento. Montse chega ao Japão em março de 1985 sob o feitiço do cinema de Yasujirō Ozu, apenas dois meses antes de Wim Wenders, também fascinado por Ozu, estrear Tokyo-Ga em Cannes. O documentário de Wenders nos mergulha em sua busca pelo Japão retratado em Contos de Tóquio e outros filmes do clássico cineasta japonês. Ela se apaixona pelo Japão, por sua cultura e idioma, mas isso não a impede de denunciar a segregação arcaica dos buraku (castas intocáveis) que perdura até hoje, ou a exclusão social dos imigrantes nikkei do Peru e do Brasil, causada pela bolha econômica dos anos 90. Em 1994, logo após estabelecer a editora Luna Books em Tóquio, ela é diagnosticada com câncer. Montse dispensa os cateteres de quimioterapia que a mantêm aprisionada ao hospital e se tranca em sua tradicional casa japonesa em Kamakura, uma vila de pescadores ao sul de Tóquio, a três quilômetros do túmulo de Ozu. Em um cenário que evoca a composição dos famosos “tatami shots” de Ozu, vemos imagens de Montse sentada no tapete de tatami com seu sempre presente copo de saquê, contemplando o seu jardim zen através das shoji (portas de papel de arroz) entreabertas. Montse dedica os últimos cinco anos de sua vida a revelar a alma do Japão por meio de fotografias, histórias e ensaios e pela tradução direta de obras da literatura de escritores japoneses profundamente comprometidos com as causas sociais – e praticamente desconhecidos fora do arquipélago naquela época – escritores como Osamu Dazai, Toson Shimazaki, Natsume Sōseki ou Kenji Miyazawa, o Saint-Exupéry japonês, que era o ídolo de Montse.”