A BOMBA ATÓMICA – por Constantino Alves

I

Uma bomba atómica destruiu
o meu umbigo,
o meu centro nuclear
do riso.

Dos restos que deflagaram
fez-se a tristeza
que é a felicidade sem riso.

Um homem sem umbigo.

II

Tudo o que se conhece desapareceu,
ficaram sombras, dúvidas portanto.
As dúvidas desapareceram,
por serem sombras
e não terem razão de serem sombras.
Tudo desapareceu, não
ficou o que se não conhece
e disso não há dúvida
são certezas
de que não se sabe

III

A toda a hora uma bomba nuclear
que rebenta com toda hora.
Fica o tempo,
mais e maior.

IV

Rodrigo carrega no botão
da televisão.
de repente
uma entrevista
com o louco Baptista
disparou para a multidão
Rodrigo carrega na explosão

V

Dez mandamentos para o bom uso da bomba nuclear:

      1. Por estar mais à mão
      2. Quando não tiveres solução
      3. Se não houver ponto de interrogação
      4. Não tiveres trabalho ou situação
      5. Não ouvires com atenção
      6. Não saberes dizer não
      7. Ter medo e não ter um cão
      8. Sentares-te distraído em cimo do botão
      9. Com o dedo no gatilho e ter comichão
      10. Em qualquer altura ou estação.

VI

No fim,

uma bomba nuclear rebentou, destruiu toda a humanidade.

Antes do fim.

♦♦♦

Constantino Mendes Alves, natural de Leiria, 61 anos. Escreve poesia desde 1999. Começou nas oficinas de escrita num grupo de internet intitulado “Escritas”. Publicou diariamente num blog “Diário Poético” por vários anos. Muitos poemas seus estão dispersos pela internet, mas esteve presente em várias antologias de poetas lusófonos. Publicou livros em parceria com Jorge Vicente e José Gil. Destaque para uma edição de poemas da sua autoria “Gravado no Tempo” de 2009 com chancela da Edium Editores. ( ainda em venda online na Seda publicações).