escrita em papel e lágrima
num pedaço de amor
jogado no lixo
tanto faz o lixo
que desatina
dói e agoniza
sim e não
a porta aberta
e ninguém entrou
uma escada flutuante
do avesso de um poema
que se rasga dentro de si.
beijo sonoro de um eu
funda o esvaziamento retorcido
centro da cicatriz
que o corpo carrega do século
caixa quadrado sem voz
relação disforme e a explosão
de luz e som e o sentir
em roma, atenas e moscou
lidos rios fracassam verde
frio o verso parafraseando
a inquietude de uma face.
♣♣♣
Todos os dias, ela olha pela janela e vê um pássaro
Ela recusa o céu.
Ela precisa ver um pássaro para nascer.
Hoje ela está ao lado do pássaro.
Todos os dias ela não quer mais deitar ao lado do sono.
Ela sentou ao lado do pássaro.
Todos os dias os pássaros são de chumbo, e morrem.
Todos os dias ela desafia a gravidade de olhar.
Numa claridade, há doze portas.
Cada porta, abre um signo.
Cada signo abre um escuro.
No escuro, há um eu despedaçado.
Hoje, ontem e talvez amanhã estejam na janela inerte.
Ela puxou o pássaro para dentro do seu choro.
Ela quis o pássaro dentro do seu choro.
Ela plantou um pássaro de
chumbo no jardim ver
de jardim.
♦♦♦
Fellipe Cosme é poeta, autor do livro Vozes Mudas, aos 18 anos. Depois se dedicou aos estudos teatrais, sendo ator e diretor de algumas peças. Dirigiu peça Ansias, com texto de Sarah Kane, e Barco Livre, inspirado no poema Bateau Ivre, de Rimbaud. Atualmente, é mestrando em Teatro pela Universidade Estadual de Santa Catarina, no Brasil. Tem 33 anos.
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