Não sei se é impressão minha, mas creio que nunca ouvi falar tanto em poesia como nos últimos tempos. Também nunca vi publicar tanto poema como de uns anos para cá. Nos concursos literários, tanto os que tenho concorrido como os que tenho avaliado nas bancas de jurados, o gênero poesias é sempre o mais disputado, com larga vantagem sobre os demais. Todo mundo tem um pouco de poeta, já diz a sabedoria popular.
O problema é que poucos lêem poesia. O drama é que esses novos poetas são tão bons que escrevem maravilhosamente bem… sem ler, por puro instinto e talento nato. Aí a produção poética deles e dos outros bardos fica encalhada nas livrarias, ou embaixo das camas de seus criadores.
De minha parte, posso garantir que um quarto de minha biblioteca é composta por poesia, entre cânones e autores locais. Gosto de conferir o que é feito aqui e no mundo. Creio que li boa parte do que a Serra produziu em verso. No mundo já é mais complicado.
Também comecei escrevendo poesia. Minha produção literária iniciou através dos versos. Mas antes de escrever li muito, muito poema. E ironicamente, só fui publicar uma seleção de meus versos em 2007, depois de lançar dois livros em prosa. A coletânea até que teve boa saída, chegou a receber uma segunda edição. Acho que as pessoas gostaram da capa.
Olhando para trás, revendo a história dos grande escritores, vemos que vários deles iniciaram com poesia. Até o maior de nossos prosadores, Joaquim Maria Machado de Assis, começou assim. Consagrado como exímio romancista e excelente contista, foi com o poema “Ela” que conseguiu sua primeira publicação, quando contava com apenas 16 anos de idade. Mais tarde, em 1864, publicou seu primeiro livro “Crisálidas”, também de poemas. Além desta obra, ao longo de sua carreira escreveu mais três livros de poesias.
Assim, recomendo aos novos e velhos poetas que leiam poesia. É necessário e, além de tudo, agradável. Pode ser no mínimo interessante ver como outros sentem e expressam emoções semelhantes às nossas. Aquele verso, aquela frase contundente, lapidada, perfeita, que pode tocar tão fundo. A poesia é a origem da palavra escrita, que juntamente com as orações aos deuses, eram pintadas ou talhadas nas paredes das cavernas.
Não vamos permitir que tão nobre expressão de arte seja banalizada e desdenhada. Aos poetas, que escrevam cada vez mais e melhor. Aos leitores, que degustem bons poemas.
Vida longa à poesia. À poesia escrita com embasamento. E à poesia lida.
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Uili Bergammín Oz é escritor, poeta e palestrante gaúcho. Já escreveu mais de 20 obras, entre contos, crônicas, poemas, novelas, adaptações e traduções. Colaborou para jornais e revistas da Serra Gaúcha, além de ter apresentado programas de TV, sempre falando sobre leitura. Atualmente é apresentador do programa LiteraCura, canal do YouTube que estreou em janeiro de 2018. Seus textos já foram adaptados para o cinema, teatro, música, artes visuais, espetáculos de dança, corais e outros suportes artísticos.
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