Por ocasião do bicentenário da Revolução de 1817
Um Albuquerque pela independência Brasileira
Manoel Cavalcanti de Albuquerque
Do ramo do engenho Castanha Grande - Alagoas
(“Papai Cavalcanti” - século XlX)
Como seu avô, outro Manoel de mesmo sobrenome que participou da “fronda’ dos “nobres da terra” contra autoridades e mascates portugueses nos anos de 1710, nosso jovem Manoel logo teria também manifestado índole indômita e não conformista, “sdegnosa”, dos longevos Cavalcanti italianos – índole que por aqui se mantinha em família afeita à luta libertária – luta agora nos trópicos nativista, independentista e republicana.
Fato que já nos parece até mesmo natural, este jovem e culto Manoel Cavalcanti de Albuquerque em sua geração participou da Revolução Pernambucana de 1817 – movimento que levava ideais de rompimento com a Metrópole e de uma República francamente aos moldes da Revolução Americana e Francesa de 1789.
Mas por este seu envolvimento na “Revolução Pernambucana” de 1817 Manoel teve sua cabeça cobrada pela Coroa – a exemplo dos seus ascendentes, os nobres “da terra” Antonio Cavalcanti “da Guerra Holandesa” e Leonardo Bezerra Cavalcanti que mesmo atuara contra os mascates em Recife, ambos com suas cabeças também pedidas pela Coroa.
E o enforcamento foi ainda castigo muito utilizado contra os revoltosos de 1817 – fato que na época assustou e mesmo traumatizou os pais do jovem Manoel.
Lembranças de família recolhidas pelo seu descendente Oziel Cavalcanti de Gusmão compõem até hoje relato marcante para os membros do ramo do Castanha Grande:
“Manoel, que cursava o seminário de Olinda, comprometera-se com o movimento republicano e foi obrigado a se esconder nas matas circunvizinhas do engenho paterno depois do fracasso da revolução nacionalista daquele ano. Corriam notícias alarmantes de enforcamentos e degredos de patriotas. José Cavalcanti e esposa temiam pelo destino do filho. Eles sabiam que o Conde dos Arcos estava procurando por vítimas. Por vezes, na calada da noite, o aflito casal reunia num das salas mais discretas da casa grande o conselho de família, para deliberar sobre o assunto. O jovem Manoel continuava oculto nas brenhas, alimentado às escondidas por pessoas de confiança. Os bens dos revolucionários já tinham sido seqüestrados e um decreto real nomeara o neto do Marquês de Pombal, o tenente-coronel Sebastião Francisco de Mello Povoas para o governo da Capitania. José Cavalcanti resolveu ir pessoalmente ao Ouvidor Batalha, antes da chegada de Mello Povoas e apelar perante o Ouvidor as “tontices da mocidade”. Depois de ouvi-lo, Batalha sentenciou: “Entregue-lhe a cabeça à forca”. O senhor da Flamenguinha saiu da audiência sem acertar as escadas. Pode-se calcular a angústia que trouxe para casa quando noticiou o resultado da conversa à sua esposa. Mas, não se deixou tomar pelo desalento. Seu amigo e vizinho Ambrósio Machado da Cunha, capitão-mor e senhor do engenho Unussu, aconselhou-o a ter calma e “dar tempo ao tempo”. E, com efeito, quando da chegada de Mello Povoas, quinze meses após sua nomeação, a autoridade de Antônio Ferreira Batalha já estava enfraquecida. Grandes acontecimentos estavam para ocorrer. O caso de Manoel Cavalcanti de Albuquerque caiu no esquecimento e ele voltou ao seminário, sarado do seu entusiasmo”.
O jovem Manoel não conformista irá, posteriormente, deixar o seminário e se casar com a filha daquele prezado vizinho e amigo, senhor do engenho Unussu.
Seu feliz e depois prolífico casamento com a muito jovem Ana Rosa Machado da Cunha aconteceu, de forma coincidente, com as comemorações da Independência do Brasil – episódio de rompimento com Portugal que hoje sabemos muito se deveu aos Cavalcanti, especialmente ao ramo colateral dos Cavalcanti de Albuquerque, aos Suassuna, eles também envolvidos na revolução Pernambucana de 1817.
Este casamento no próprio ano de 1822 muito festejado, portanto, pela família, amigos e parentes – importante e duplo motivo de comemorações, pois em fim havia sido conseguida a Independência da Colônia – Independência há tanto perseguida pela família dos Cavalcanti de Albuquerque no Brasil.
A Republica e seu aperfeiçoamento ficarão ainda para um pouco mais adiante…
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Rosa Sampaio Torres, pesquisadora em História (PUC-Rio), é também graduada em Estudos Sociais e pós-graduada em Ciências Políticas. Aluna do filósofo brasileiro Carlos Henrique Escobar acabou por desenvolver, também, seus dotes artísticos – especialmente como poeta, autora do livro “Bendita Palavra”. Já reconhecida como ensaísta, é autora de inúmeros artigos históricos sobre a família Cavalcanti, da qual descende, e agora sobre o poeta Guido Cavalcanti.
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