OUTONO E OUTROS POEMAS – por A. Dasilva O.

Outono

Faz com que os poemas
saiam do cimo das árvores
As gralhas não perdoam

♣♣♣

Atingido por um poema

Hoje há pomba da paz com todos
Os pensamentos voam drones
sobre o lixo humano
Nadam como peixes
Fora de água numa superfície comercial
Com gelados

A pomba da paz
Come carne para canhão
Para não cagar
Paz podre

♣♣♣

Poema Vadio

De calçada em calçada nem verbo nem carne
Por todos calcado
Em nome da pegada ecológica
Noventa por cento de teorias da conspiração
nove por cento de conflito interior
e um por cento de inspiração escatológica

Que te saia do corpo o diabo em figura de agente secreto
a dizer mal de ter nascido a disparar sobre a paisagem

Não há nada mais directo que um murro
Na mesa o estômago dá horas à autópsia

© Ana Hartely

 

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a. dasilva o., 1958, poeta e editor em extinção. Da vasta obra, basta destacar as publicações: Poeta bom é poeta morto-vivo, Ed. Mortas, 2020; Canção Inóspita, Eufeme, 2020; FOIOQUEUDISSE; Diários Falsos de Fernando Pessoa, Ed. Mortas, 1998; Correspondência Amorosa Entre Salazar e Marilyn Monroe, Ed. Mortas, 1997. Criou e editou várias revistas como: Arte Neo e a revista Filha da Puta. Criou e realizou em dose dupla As Conferências do Inferno; Os Encontros com o Maldito em colaboração com o grupo de teatro Contracena. Co-fundou e dirigiu a Rádio Caos onde realizou entre outros programas: A. Dasilva O. Fala ao País. Edita actualmente a revista Estúpida.