MOVIMENTOS DE AMOR E AMADO
I
Se este raio de enxofre nos deixar,
Restara-nos ainda, Joaninha,
Ouvir no orvalho as ondas deste altar.
Se estrelas, pólen, vacas e até a minha
Voz, espreitarem o ermo deste espelho,
O susto nos será. E então, asinha,
O Sol inundará de antigo anseio
O pulso escrupuloso que nos rege
E petrifica. Então, como coelhos
Bêbados, beijaremos novas vestes.
II
Se aquela garça informe abrir a boca
O esgoto fugirá e as violetas
Invadirão a praia. Sem escolha
As palmas farão rosas suas madeixas.
Tão molhadas serão que estes calangos
Saltarão do submundo sem defesa
Alguma além do amor. Porque dançando
O invisível reclama suas linhas
E teu pulso prossegue e afirma o cântico.
Não é mudo o meu Amante, ó Andorinha!
III
Verás que esta manhã é linho e pássaro.
Ó mago, alfaiate de outras ondas,
Que acídia vos retira os lírios, cardos
E ardentes luzes com que alegre sonhas?
A estepe é fôlego selvagem, névoa
Que altiva espera em ti o fim das sombras.
Verás que este vermelho é pulso e flecha.
O arrebol impaciente aguarda as asas
Púnicas com que inundarás as velas…
Ó mago, além do amor, o que te falta?
♦♦♦
Alberto Andrade além de escrever poesia, também estuda mitologia e contos de fadas. É natural de Salvador, Bahia, Brasil, mas passou parte da infância morando na Chapada Diamantina (provavelmente o motivo do seu amor excessivo pelos rios, serras e montanhas). Nas horas vagas dá catequese e aulas de redação.
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