un vestido y un amor
de calcinha e camisa do river
você se insinua ouvindo fito paez
atrapalho-me ao desligar a tv cor-de-laranja:
monges lutando com bambus,
facas ginsu, nevasca no hotel overlook
um pôster de felicity jones, o tapete persa
do seu triângulo sem bermudas, miados
da gata vira-lata, musgo na banheira rosa,
um anúncio do conhaque fernet:
e a madrugada é um olho de vidro coberto
pelo vapor dos bueiros
♣♣♣
checklist
o farol da praia de varda
castelinho de areia desfeito
o aro dos óculos de acetato
o sol nos olhos castanhos
mil tons do vestido preto
um acorde de summertime
as marcas das revistas de moda
astaire no palco de papelão
piquenique e jogo da amarelinha
um saquinho de pipoca doce
suspiros na ponte cenográfica
uma chuva de inverno temporão
o lanterninha do cine marrocos
os desenhos ondulados da calçada
o triciclo com cestinho de flores
o verso bordado na pele
chiclete on the rocks
um álbum amar é
um retrato ao acaso
o balcão da la suissa
só esqueceu o lembrete
desviar-se da quina dos
móveis pé de palito que
inibem seus caminhos
♣♣♣
domingo
prédio do estadão:
o boneco da esso
dança entre os fios
de alta tensão
dia de musgo:
cotidiano, circular,
portal do acaso
nado sincronizado
marinheiro de aquário
na marginal tietê
♣♣♣
um frasco de sol
no rádio tocava all for a reason e
o guarujá confessava possibilidades
tantos olhares na beira do mar
a noite refletida na arquitetura veloz dos carros
nada atrapalhava o dolce far niente
o ritmo lento das pernas das meninas
atravessando o tempo como quem inaugura
Monumentos de vento ao passar
♣♣♣
repetir as ruas
como se os passos
riscassem o vidro dos dias
e o mormaço sem mar
queimasse as retinas
ferrugem da loja
que virou ruína
a cidade é um cisco
na memória
tudo que traz
é esqueleto
sobrado labirinto
beco sem saída
restam as lembranças
bola de capotão
o beijo no bailinho de garagem
o filme do space vídeo
amigos na fonseca da costa
pastel de feira cura saudade?
♣♣♣
retrato
a cidade esconde cicatrizes
bilhetes de destinos imprevistos
ruído de violino desafinado
cheiro de jornais molhados
retrato de máquina descartável
uma menina tropeça levando flores de plástico
em frente à casa amarela que imita o sol
♣♣♣
chocolamour
o vestido de verão
guardava as manhãs
e as cores explosivas
das despedidas
rios desaguando
nos olhos perplexos
vagão fora dos trilhos
caco de vidro um tranco
na tarde em que o pé
roçou a calcinha embaixo
da mesa
um movimento de tango
as ilusões passadas
: já não posso arrancar
no balcão da lanchonete
a taça de chocolamour
derrete esperando você
♣♣♣
valparaíso
cores em movimento
traçam caminhos
de taturana nas
paredes das casas
: o lego assimétrico
das escadarias
flores desafiam
a estátua de bronze
“o poema: ¡qué disparate eres!”
o guia turístico fala coisas místicas
(em sombras de sal nos becos)
sorria:
você está sendo filmado no ascensor florida
a cidade debruçada pro mar
guarda os relâmpagos
e tatuagens de gentes
pelas ruas que virão
as almas penduradas no firmamento:
na claridade e na escuridão
o casal de calendário faz cena no café mais
triste enquanto pedintes
e cães reviram as sobras do dia
♦♦♦
Diniz Gonçalves Júnior, paulistano. Autor dos livros de poemas “Decalques” e “Concha Acústica”. Com poemas publicados em diversos jornais, revistas e sites.
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