CARTOGRAFÍA DE CAGIANO
José Pérez / Venezuela
Ronaldo
hoy amaneciste niño
quemando la lluvia
Mirando el río prestado
a tus lágrimas
Tu piel semeja un reptil
de verde y espuma
tendida el alma sobre las rojas hojas
de Cataguases
Las gotas de aguas se han vuelto cenizas
las rocas dormidas estrellan tu nombre
jugando al rebelde por la muerte de otros ríos
por el llanto de otros hombres
calcinados al fuego
Desobediente
cuchillo en mano
rebanas las tardes sin adornos
Donde cortaron tu ombligo
lloran tijeras de seda
hay espadas de rosas y musgo
y pasan otros poetas con sus abismos al hombro
De equipaje llevas colmillos
de cocodrilos hambrientos
para fundar otras patrias
con Anderson Braga y Adelia Prado
nuevas sílabas ventiscas y truenos
cantos y malabares de enormes estatuas
Los pájaros que te amaron no paran de volar
te escriben y traducen tus ojos como cometas
hablan de tu inocencia
Algo del sol es miel en la memoria
y el dolor
Tal vez la mar del Atlántico esté sobre tu mesa
Te pareces al muchacho que se iba en el tren
camino a las estrellas
para esperar los amigos
Tu mapa te saluda siempre
Aparece una rosa nueva en tu casa vieja
La sonrisa en el lecho al lado de los hijos
Tu patria verde tiene caminos
Tu patria azul tiene esperanza
Tus abismos son panes o prestadas cacerolas
De este lado del mundo pasan los santos a llorar
De aquel lado del mundo viene Carlos Drummond de Andrade
con bastón de rabo de mono y algunas mariposas
El sagrado libro del silencio
dentro del morral de sus viajes
El correo trajo hoy tus noticias
Ronaldo
Una carta muy pequeña como un grano de frijol
Una vela blanca del tamaño de un verso
Después de darle vueltas al mundo
mirarlo al revés
mirarlo de nuevo
inventarlo como un espejo
ponerle nombres a todo y borrar sus dolores
queda esta puerta única
esta luz inesperada
cargada de pájaros
como en un viaje sin fin
Pariaguán, 2 de julio de 2024
♦♦♦
CARTOGRAFIA DE CAGIANO
/José Pérez / Venezuela
(Tradução de Anderson Braga Horta e Kori Bolivia. Brasília, 2024)
Ronaldo
hoje amanheceste menino
queimando a chuva
Fitando o rio emprestado
a tuas lágrimas
Tua pele lembra um réptil
de verde e espuma
estendida a alma sobre as folhas vermelhas
de Cataguases
As gotas de águas tornaram-se cinzas
As rochas adormecidas estrelam teu nome
brincando de rebelde pela morte de outros rios
pelo pranto de outros homens
calcinados pelo fogo
Desobediente
faca na mão
fatias as tardes sem adornos
Onde cortaram teu umbigo
choram tesouras de seda
há espadas de rosas e musgo
e passam outros poetas com seus abismos ao ombro
Por bagagem levas colmilhos
de crocodilos famintos
para fundar outras pátrias
com Anderson Braga e Adélia Prado
novas sílabas nevascas e trovões
cantos e malabarismos de enormes estátuas
Os pássaros que te amaram não param de voar
te escrevem e traduzem teus olhos como pandorgas
falam de tua inocência
Algo do sol é mel na memória
e na dor
talvez o mar do Atlântico esteja sobre tua mesa.
Pareces o rapaz que ia de trem
rumo às estrelas
para esperar amigos distantes
Teu mapa te saúda sempre
Surge uma rosa nova em tua casa velha
O sorriso no leito ao lado dos filhos
Tua pátria verde tem caminhos
Tua pátria azul tem esperança
Teus abismos são pães ou caçarolas emprestadas
Deste lado do mundo passam os santos a chorar
daquele lado do mundo vem Carlos Drummond de Andrade
uma bengala de rabo de macaco com algumas borboletas
o sagrado livro do silêncio
dentro do embornal de suas viagens
O correio trouxe hoje tuas notícias
Ronaldo
numa carta muito pequena como um grão de feijão
uma vela branca do tamanho de um verso
Depois de dar voltas ao mundo
olhá-lo do avesso
olhá-lo de novo
inventá-lo como um espelho
dar nome a tudo e apagar suas dores
fica esta porta única
esta luz inesperada
carregada de pássaros
como numa viagem sem fim
El Tigre, Venezuela, 7 de julho de 2024
♦♦♦
José (del Carmen) Pérez nasceu em El Tigre, estado Anzoátegui, Venezuela, em 1966. Reside em Pariaguán, Planalto de Guanipa. Licenciado em Letras. Doutor em Filologia Hispânica pela Universidade de Oviedo, Espanha (2011). Professor Associado Jubilado da Universidade de Oriente, Núcleo de Nueva Esparta, na área de Linguística. Pertence a Redè Nacional de Escritores da Venezuela. Poeta, narrador, ensaísta, promotor cultural. Obra diversa obra publicada.
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