As alterações climáticas e o relógio do Apocalipse
As ciências da Terra são um conjunto de ciências que se dedicam ao estudo do planeta. De entre essas ciências, a Geologia preocupa-se com a investigação da estrutura da Terra e, de modo particular, com a sua história, a maneira como os eventos geofísicos determinaram a sua formação e o seu desenvolvimento até ao presente.
Na geo-cronologia que os cientistas propõem, nunca o homem aparece como factor que esteja na origem, permanência e fim dos períodos geológicos. Até aos nossos dias!
Tudo parece indicar que o impacto das actividades humanas exige o reconhecimento de que a história do planeta entrou numa nova era geológica, o antropoceno, a era dos humanos. Este termo, antropoceno, proposto num artigo científico publicado no ano 2000 por dois renomados cientistas, exprime a ideia de que as transformações provocadas no planeta pelos seres humanos – em especial a partir da revolução industrial -, estão na origem das alterações climáticas.
E estas alterações não são boas: aquecimento global, contaminação do ar e da água, acidificação dos oceanos, extinção a um ritmo cada mais acelerado de espécies animais, fenómenos climatéricos e meteorológicos extremos, etc.
Diz-se que, para resolver problemas, a primeira e essencial condição é ter consciência deles.
O protocolo de Quioto, celebrado em 1997 e ratificado por mais de 50 países, propunha-se reduzir as emissões de gases que agravam o efeito de estufa e que parece estar na origem do aquecimento global.
Por seu lado, o Acordo de Paris, assinado em 2016, reconhece que a situação actual está longe de ser satisfatória e obriga os seus signatários a adoptar medidas activas de contenção de emissões de CO2, gases com efeito de estufa, e, assim, atenuar o aquecimento global.
São de saudar todas estas iniciativas, mas os cenários não são nada optimistas. Recentemente, um estudo intitulado «Risco de segurança existencial relacionado com o clima», realizado por um Instituto científico australiano, apresentava projecções catastróficas, se persistirmos numa abordagem conservadora e tímida ao nível da política climática.
Até ao ano de 2050, as principais camadas de gelo irão desaparecer. Devido à seca extrema ou à subida do nível do mar, milhões de pessoas serão obrigadas a abandonar o território onde vivem, o acesso à água potável dará a lugar a conflitos armados e territórios insulares – países insulares -, desaparecerão.
É um cenário apocalíptico. Mas às vezes é preciso entrar em pânico para se fazer alguma coisa. Aconteceu com a activivista sueca Greta Thunberg e a sua iniciativa de fazer greve às aulas todas as sextas-feiras, e que rapidamente se tornou viral, como agora se diz. O objectivo era e é alertar para o risco existencial das alterações climáticas.
Para terminar, deixem-me falar de um relógio muito especial, o relógio do apocalipse. No contexto da guerra fria e de um iminente conflito nuclear, o departamento de ciência atómica da Universidade de Chicago mantém, desde 1947, um relógio simbólico em que a meia-noite indica o fim do mundo. O relógio diz-nos que estamos, agora, a dois minutos da meia-noite. Para além do risco nuclear, os seus promotores assinalam outra causa: as alterações climáticas.
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Fernando Martinho Guimarães (1960) Nascido transmontano (Alijó, Vila Real), foi na cidade do Porto que viveu até aos princípios dos anos 80. De formação filosófica e literária, a sua produção ensaística e poética reflecte essa duplicidade. Publicou em 1996 A Invenção da Morte (ensaio), em 2000 56 Poemas, em 2003 Ilhas Suspensas (edição bilingue, castelhano/português), em 2005 Apenas um Tédio que a doer não chega e em 2008 Crónicas.
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