MULHERES NAS RUAS DO PORTO – XVI – César Santos Silva

Beata D. Mafalda (Rua da)

Início : Senhora de Campanhã (Rua da)
Fim:  Buçaco (Rua do)
Designação desde: 1965
Freguesia de: Campanhã

A Beata D. Mafalda nasceu em 1200, era filha de D.. Sancho e de D. Dulce de Aragão. O seu nome é uma homenagem a sua avó,  D. Mafalda de Sabóia, filha de Amadeu III e mulher de D. Afonso Henriques.

A sua vida estava talhada, como muitas da sua condição, para ser moeda de troca das políticas régias.

O casamento  das mulheres da corte (filhas dos reis em exercício), fazia  parte da rede de intrincadas alianças políticas, sem que elas tivessem  voz activa na escolha do seu destino.

Fruto desta lógica, e tendo como pano de fundo a necessidade de ganhar apoios em Castela contra os Árabes, D. Mafalda é induzida a casar com Henrique I de Castela que na época tinha onze anos.

Por causa das querelas internas em Castela, o Papa Inocêncio III é pressionado a anular o casamento, com o argumento da proximidade de parentesco entre os jovens nubentes.

Para culminar este rocambolesco episódio, Henrique morre aos treze anos, e D. Mafalda regressa a Portugal.

Aqui começa uma vida dedicada ao recolhimento e à vida monástica.

Retira-se para o Convento de Arouca que na época estava em decadência, e é perante este cenário que D. Mafalda convida monjas cistercienses para a ajudarem a erguer o convento.

Como cisterciense, criou instituições entre hospitais e diversos mosteiros que ajudaram a minorar os sofrimentos causados pela Reconquista.

Diversos mosteiros como Alcobaça, Tuias, Paço de Sousa, Vila Boa de Quires, entre outros, foram reabilitados pela sua acção e foram altamente benéficos para o estimulo económico destas regiões.

A Beata D.Mafalda faleceu a 1 de Maio de 1256, data da sua celebração, no Convento de Arouca.

A sua morte foi provocadora de milagres ocorridos junto ao seu túmulo e diversas pessoas sentirem-se tocadas pela sua acção miraculosa

 Em 1617 a exumação feita ao seu corpo, ainda intacto, provocou uma tentativa de santificação, desiderato que não foi conseguido, mas em 1792 o Papa Pio VI conclui o processo de beatificação.

O seu nome também está ligado a uma lenda que terá nascido aquando da sua morte.

Reza a lenda que D. Mafalda não morreu em Arouca mas sim em Rio Tinto, Gondomar.

Mafalda estava neste convento quando faleceu, os locais queriam que ela fosse sepultada em Rio Tinto, os de Arouca discordavam e queriam que o enterro fosse efectuado no local que escolheu para viver durante grande parte da sua vida.

Para dirimir a contenda, alguém sugeriu o seguinte cenário:

Colocava-se o caixão em cima de uma mula na qual D. Mafalda se costumava transportar, e a mula escolheria o sítio do enterramento!

A pobre mula andou, andou, e decidiu-se pelo caminho, longo e penoso, até Arouca, quando chegou ao convento estacou o andamento demonstrando que era aqui que o féretro se deveria sepultar.

Posto isto, a mula caiu esgotada pela longa caminhada e morreu também ela nas instalações do convento de Arouca…

O seu nome encontra-se consagrado numa artéria do Bairro das casas económicas de S. Roque da Lameira, numa zona onde as ruas regra geral homenageiam batalhas ocorridas aquando das Invasões Francesas.

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César Santos Silva. Bacharel em História. Formador, professor de História do Porto, Portugal e Contemporânea do Mundo em várias Universidades Seniores, tais como Sindicato Professores da Zona Norte, Fundação Inatel entre outras. Investigador de temas relacionados com a História do Porto e a História do Mundo,colaborador pontual dos “ Serões da Bonjoia”, conferencista habitual da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, Fundação Inatel, Palacete Visconde Balsemão. Autor de vários livros dedicados à cidade do Porto.