Um leitor que abre Jerusalém Libertada (Gerusalemme liberata) ao ler as primeiras estrofes irá ter várias pistas divergentes para que o poema lhe apresenta. As estrofes de abertura afirmam ser um poema épico, colocando-o em uma tradição que se remonta pelo menos à de Eneida de Virgílio cujas estrofes iniciais, “Braços e o homem que canto…’, que ecoam em nós.
As Estrofes especificam seu assunto, a “Guerra Santa” que “libertou” o local do Santo Sepulcro em Jerusalém sendo objeto de peregrinação cristã—já primeira, isto é, das campanhas militares europeias na Palestina que foi conhecida como às Cruzadas, que culminou na captura de Jerusalém em julho de 1099. Estas estrofes não deixam dúvidas de que o poema apresentará este não apenas como um ‘choque de civilizações’ em que a Ásia e a Líbia (esta última um termo genérico para a África) sendo uma luta contra os cruzados, mas como uma guerra que foi estendendo-se até mesmo para o céu e o inferno.
No entanto, se isso sugere um relato claro e simples de uma batalha entre o bem e o mal, sendo a primeira estrofe termina com uma sugestão de que as coisas podem não ser tão simples: o ‘Capitão’ dos cruzados, teve que lidar não apenas com os ditos ocupantes estrangeiros de Jerusalém, mas também com cavaleiros “Errantes” por conta própria do próprio lado – abrindo a possibilidade de que o poema possa não se tratar não apenas com a própria cruzada, mas também com quaisquer distrações que mantiveram os Cruzados de sua tarefa principal como podemos observar nessas estrofes que abrem o primeiro canto:
As armas canto e o capitão piedoso
Que libertou de Christo a sepultura,
Aí frontando os trabalhos valeroso,
Armado de prudência e força dura:
Embalde o inferno o combateu raivoso,
E a Ásia se aliou à Líbia impura,
Que o céu lhe deu socorro, e os espalhados
Sócios juntou sob os pendões sagrados.
Quanto ao leitor do século XXI, essas cinco primeiras estrofes irão provavelmente provocará várias reações conflitantes. Sendo que As Cruzadas não são dum episódio da história europeia que estamos muito devotos a celebrar, e o ethos das cruzadas é aquele que passamos a ver com uma certa suspeita, então é muito improvável que queiramos ler o poema por causa de seu objeto declarado. Mas mesmo a partir dessas poucas estrofes, é claro que o poema de Tasso não é apenas uma celebração inquestionável desta “Guerra Santa” que em cujo seu título pode implicar, mas algo muito mais complexo.
Essas estrofes também levantam a maioria das questões que precisamos enfrentar se nós questionam para entender e apreciar o poema de Tasso, que podem fornecer uma estrutura conveniente para uma breve discussão de cada uma dessas questões postadas conosco. Esperançosamente, elas também nos terão intrigado o suficiente para persuadir nós que valerá a pena de fazer o esforço ainda mais quando temos em mente à tradução do português JOSÉ RAMOS COELHO cujo feito nos remete 1864 em cuja tradução privilegiada nos citamos essas estrofes de cuja realização A Editora Topbook´se encarregou de uma esmerada publicação nas mãos de Marcos Luchessi e Alexei Bueno.
Tu, grande Aí Afonso, por quem sou liberto
Da morte, e a porto amigo conduzido.
Eu, peregrino errante, que tão perto
D’ela estou, pelo mar quase sorvido,
Acolhe os versos meus com rosto aberto,
Qual voto que te faço e te é devido.
Talvez por ti de minha pena saia
Um dia o que somente agora ensaia.
Líder carismático desde o início como vemos ainda no canto 1, Afonso exorta seus colegas líderes a não atrasar ao avançarem em Jerusalém com base em que um exército de alívio do Egito pode-se esperar que venha em breve em defesa da cidade. Se não é verdade que o califa egípcio al-Mustali tinha interesse em defender Jerusalém, do qual seu exército expulsou o governador turco apenas alguns meses antes, aproveitando a fraqueza dos turcos após sua perda de Antioquia; mas, novamente, este contra-ataque veio apenas mais tarde, quando já os cruzados já estavam sitiando Jerusalém, o que os levou invadir a cidade mais cedo do que gostariam.
Na realidade, a inicial essa reação egípcia à presença dos cruzados na região foi muito amigável, vendo-os como aliados em potencial contra seu inimigo comum, os turcos, sendo que eles propuseram uma divisão de território que teria permitido que os cruzados mantivessem o controle de Antioquia enquanto o califa se retida de Jerusalém—sendo uma abertura que é a base para a embaixada de Alethes para o acampamento dos cruzados em um dos cantos.
Para um poeta ambicioso na Itália do século XVI—e Tasso foi nada se não ambicioso—havia apenas um gênero que poderia garantir seu lugar na história: o épico. No crescente limite de regras do clima literário que prevaleceu após a redescoberta de Aristóteles na sua Poética (publicada em uma tradução latina em 1536) o épico ficou o mais no gênero de prestígio, mas também o mais problemático. Poesia narrativa sobre tais temas militares e cavalheirescos tiveram uma longa história na Itália, culminando nesta obra que dominou a cena literária nos anos em que
Tasso estava crescendo: Orlando furioso de Ludovico Ariosto, publicado em sua edição definitiva em 1532, que Ariosto havia escrito na corte de Ferrara, onde Tasso completaria seu poema na década de 1570.
O poema de Ariosto forneceu um modelo que Tasso não podia ignorar, mas já estava muito longe de ser um exemplo clássico de épico de acordo com tais Normas aristotélicas; e a tensão resultante vai muito longe explicando as dificuldades de Tasso em escrever A Jerusalém Libertada e levando em contando suas qualidades distintas.
O poema de Ariosto foi um grande sucesso e continua sendo um dos mais textos divertidos no cânone literário italiano. Mas seu sucesso desprezou todas às regras da recém-definida ortodoxia aristotélica, de acordo com que o épico deve tratar de um único tema histórico de uma maneira uniforme num estilo elevado: o Furioso se entregava a constantes desvios românticos de seu enredo principal, que em qualquer caso foi apenas vagamente baseado em seu suposto cujo cenário histórico, e seu tom era provocadoramente evasivo, sempre se mantendo uma distância irônica entre o narrador e seu tema.
Não foi apenas a ortodoxia literária que se tornou mais restritiva entre a geração de Ariosto e a de Tasso. Sendo os primeiros trinta anos do século XVI, quando Ariosto escrevia o Orlando furioso, eram uma época de considerável liberdade de expressão política, religiosa e muito moral. Ariosto poderia criticar os governantes italianos de sua época, incluindo os papados (embora ele tivesse o cuidado de abrir uma exceção para seus patronos, Estes governantes de Ferrara), e introduzir episódios em seu poema que provocativamente questionou os valores convencionais, sejam racionais (a loucura do título não se limita a Orlando, social, ou sexual, sem se preocupar com as consequências.
Mas se o clima mudou marcadamente na década de 1540. A igreja, sob o Papa Paulo III, se recuperou suficiente desse choque inicial da revolta luterana para lançar seu contra-ataque: o Santo Ofício foi estabelecido em 1542 como a autoridade máxima para combater a heresia; o Concílio de Trento, que reafirmou que as doutrinas tradicionais que Lutero desafiou tiveram sua primeira sessão em 1545; o primeiro Índice de Livros Proibidos foi publicado em 1557. Então nessa época em que Tasso começou a escrever, no final da década de 1550, um autor sempre havia estar ciente do censor que pode estar olhando por cima do ombro.
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Eric Ponty – Brasileiro de Minas Gerais – É poeta e escreveu o considerado clássico “Menino retirante vai ao circo de Brodowski”. São Paulo: Musa Editora, 2003. POEMAS ESCOLHIDOS PELO AUTOR- Rio de Janeiro: Edições Galo Branco,2009. Como tradutor: O Cemitério marinho de Paul Valéry – CINQUENTA MIL DE MILHARES DE POEMAS – RAYMOND QUENEAU – EDGAR ALLAN POE- O CORVO EM UMA E OUTROS POEMAS, Charles Baudelaire. RICHARD WAGNER E TANNHÄUSER À PARIS, – Paris Spleen – Pequenos poemas em prosa – 50 MESTRES DA POESIA além de outros poetas e nacionalidades.
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