Havia uns negrinhos, que barrigudos e descalços, na frente das casas toscas, chupavam o ranho que escorria do nariz. Um deles, com cara de sem-vergonha, sempre piscava o olho pra mim quando passávamos a cavalo. Os guaipecas magricelas saíam de atrás de nós importunando as montarias, que assoleadas, espumavam nos beiços, mascando o freio e coleando as moscas. A um ponto do trecho tínhamos que atravessar o rio que em algumas partes mal e mal dava vau. Saíamos do outro lado com os pelegos pingando. Pra mim era folia, que ia junto de metido, com a desculpa de aprender o ofício. O pai fingia que acreditava e fazia vistas grossas quando eu amofinava o matungo dando-lhe de garrões e girando no matambre do bicho a roseta das esporas, fazendo-lhe galopar sem precisão. Na volta os peões traziam as malas de garupa repletas de fumo em corda, erva-mate e rapaduras. Eu tinha vontade de apear e dividir uma delas com os piás ribeirinhos, mas achando que o pai não fosse concordar acabava por seguir quieto no lombo do tostado.
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Cláudio B. Carlos – poeta e contista. Nascido em 22 de janeiro de 1971, em São Sepé, RS. Atua no mercado literário como editor, preparador e revisor de textos. Apresenta o podcast Balaio de Letras (anchor.fm/claudiobcarlos). Vive em Cachoeira do Sul, RS – é editor da Editora Coralina (www.editoracoralina.com.br) e da Saraquá Edições (www.saraquaedicoes.com).
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