A POESIA DE CLARISSA MACEDO

Olokum

Que estranha forma de vida, essa
onde não te posso tocar
ou
enxugar as lágrimas de teu rosto
com meus cabelos,
meus infinitos cabelos
que tuas mãos aparavam na era da infância
sob a tesoura enferrujada.

Aquela tesoura sou eu, trêmula,
desfeita no espelho da carne.

Ciência

Afastar os monstros do quarto
requer ciência:
esconder-se pelo edredom
acender a lâmpada
tirá-los de sob a cama.

Há formas de afugentar os monstros,
inclusive aqueles do armário
que se mexem ao dormirmos
e nos olham baixinho
como fossem lentos fantasmas,
velhos de tanto limbo e provação.

Para arrancar os monstros é preciso ser capaz:
agarrá-los bem forte,
para que, no tormento do abraço,
rebentem de humanidade
e não voltem nunca mais. Continuar a ler “A POESIA DE CLARISSA MACEDO”