Tenho que pagar os meus pecados literários todos os dias, pois basta um dia de distração para que eu sofra na hora de escrever. Eis o motivo pelo qual escrevo diariamente, afinal sou um pecador das Letras, aquele que se atreve a fazer literatura, como se me fosse lícito se atrever à arte da escrita. Continuar a ler “UMA CRÓNICA PUNK- por Cassiano Russo”
O ARTISTA INVISÍVEL – por Cassiano Russo
O artista solitário perambula a cidade pela madrugada com seu violão, em busca de mais um motivo que justifique uma nova música que faça a noite chorar, pelos acordes perdidos de seu instrumento, noctívagos, num gole de cerveja em algum boteco qualquer noite adentro. Continuar a ler “O ARTISTA INVISÍVEL – por Cassiano Russo”
ANTÓNIO – Cassiano Russo
Às vezes acontecia de Antônio Moura ter bloqueios criativos. Olhava para o papel e não conseguia escrever uma única palavra. Ele se sentava em frente à máquina de escrever, pensava em vários acontecimentos, porém nenhum deles lhe parecia digno de ser registrado. Nessas horas, era como se Antônio não soubesse mais transpor para o texto a vida que ele tanto admirava, o que lhe deixava à deriva de seus pensamentos a vagar pelo mundo. Era outro nessas situações de crise. Não, ele não encontrava inspiração nos momentos em que mais precisava escrever. Tinha crônicas a entregar para três jornais, sabia do que pretendia tratar, mas quando era chegada a hora do trabalho da escrita, então ele não era mais do que uma criança que ainda não conhecia as primeiras letras. Ficava horas se contorcendo em cima de uma frase, que ele reescrevia e apagava, por não encontrar a fórmula perfeita, pois não sabia que não há perfeição nesta vida, muito menos na escrita, algo tão pessoal e único, com todas as imperfeições de cada autor em sua labuta com as letras. Não, Antônio almejava a perfeição, queria ser um deus na arte de escrever. Jamais aceitaria um texto feito de uma tacada só. Como escritor, ele buscava filigranas. Por isso passava um dia inteiro para terminar um parágrafo, que para ele estava sempre incompleto e que ia para a redação assim mesmo, porque precisava do emprego. Continuar a ler “ANTÓNIO – Cassiano Russo”
ESCRITOS DE LUZ E DE SOMBRA – por Cassiano Russo
O Espírito do Niilismo
Eu sigo o caminho das nuvens escuras. Sou como o Sócrates de Aristófanes. Sim, sou um sofista. Minha função é levar a dúvida aonde houver fé. Mas não se enganem, meus senhores, não sou um pregador, sou apenas alguém que duvida. Só isso. Nas horas de folga, duvido de mim mesmo, pois carrego o espírito da dúvida, que dissemino por todo o globo. E vocês, com suas certezas, precisam entender que fabulações de mau gosto não são melhores do que a estória de chapeuzinho vermelho. Eu não sou o lobo mau que devora a avozinha.
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A PÁTRIA METAFÍSICA – por Cassiano Russo
Emílio passava boa parte do seu dia trancado naquele quartinho de pensão. Não saia de lá por horas. Preenchia seu tempo escrevendo. Dizia ele que a única coisa que dava sentido ao vazio de sua existência era a escrita, que lhe funcionava como “exílio metafísico”. Para ele, o mundo lá fora não passava de um deserto de nulidades ontológicas. O escritor solitário via a maioria dos seres como “hipocrisias existenciais” que nada tinham a lhe acrescentar. Com essa sua convicção, o contato que ele mantinha com as pessoas era escasso. Saía somente aos sábados para tomar um drink em um café na avenida central da cidade. Lá ele se reunia com o seu único amigo, um anacoreta depressivo que não encontrava razão alguma para existir, pois a vida lhe era demasiado diáfana. Continuar a ler “A PÁTRIA METAFÍSICA – por Cassiano Russo”
O QUARTO – por Cassiano Russo
Uma fumaça com cheiro de enxofre começava a sair do quarto do subsolo daquela velha pensão situada na Vila Mariana. Lá dentro estava um homem a registar seu diário. Os transeuntes que passavam por perto do imóvel, assustados, decidiram chamar os bombeiros. Continuar a ler “O QUARTO – por Cassiano Russo”
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