TEXTOS DE Valda Fogaça

Arte de Carlos Saramago

O POR DO SOL

Estava  certa vez, num passado não tão distante,  observando o mundo a minha volta. Meu olhar estendeu-se até onde não  dava mais para enxergar, onde o horizonte se misturava com o céu e formava um barrado indefinido. Nesse dia à tardezinha,  o sol mergulhava no horizonte, e lá longe um barrado dégradé surgia. Silenciosa e atenta, nesta tarde fresca de brisa suave que cariciava meu rosto  pude observar quão grande é a grandeza de Deus.

Naquela tarde senti-me inspirada e num breve momento descrevi numa folha de papel, com clareza  e fino senso, a esplêndida natureza que se  descortinava impregnado minha retina. Uma das mais admiráveis tardes, que a primavera a inebriava com o aroma das flores de variáveis espécies. Como nada dizer?  _ Sendo esta, uma tarde para cultuar a estética do universo vivo e sentido pelos poetas em todo seu encantamento.

Arranquei-me do peito um profundo suspiro, e minh’alma sentindo-se elevada até o Altíssimo percebi, então, a pequenez do homem diante da imensidão do Universo. Compreendi, naquele instante, que as dores deste mundo passarão e o essencial alento humanista, o verso sublime, a cantoria matinal e vespertina da passarada nos faz ver o mundo com mais esplendor.  Compreendi que a vida é melhor se não houver perca de qualquer significado e que, a originalidade  não é saber escrever o quê e sim, sentir o que jamais se escreverá.

O sol continuou o seu caminho, submergindo no horizonte derramando seu calor nas águas de algum oceano donde meu olhar não conseguia abarcar.

♣♣♣

ANJO IMAGINÁRIO

Minhas asas estão prontas para o voo se pudessem,
Mas meu corpo cansado da lida impede-as.
Eu retrocederia se pudesse, pois eu seria mais feliz
se permanecesse imersa no tempo, viva.

Às vezes,  imagino que sou um anjo  pretendendo
afastar-me da dureza desse mundo,
com olhos escancarados,
boca dilatada e asas sempre abertas…

É esse o aspecto desse anjo o qual imagino o rosto
direcionado ao passado onde ver uma cadeia de acontecimentos,
uma catástrofe única que acumula incansavelmente
ruínas sobre túnel e as dispersas ao nossos pés.

Ele gostaria de deter  os maus feitores,
acordar os “mortos” e juntar os fragmentos,

mas uma tempestade sopra-o do paraíso e prende-se
em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las.

Essa tempestade  impele-o irresistivelmente para o futuro
ao qual ele vira as costas enquanto o amontoado de ruínas
cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso.

Chego à maturidade supercarregada de conhecimentos
e experiências, embora não sendo de fato um anjo bem feitor,
mas, deixo a minha contribuição ao mundo: o meu legado.

 

POEMAS DE Valda Fogaça

GESTOS DE CONSCIÊNCIA

Julgas que sou par de asas
Impedidas,  cortadas…
Sem bandeiras nem casas,
Fragatas ancoradas?

Sedutora, carente,
Sensual, feminina,
Paixão fogo ardente,
Eis a mulher felina!

Nos mares vejo adentrar
Saltitando nas ondas
Grande barco  afundar,
A explosão estronda.

Lua, sol vestes do tempo.
Como quem troca às vestes
Num penoso lamento,
Dia, noite, astros celestes.

Despindo do sol, da lua
Envelhece o tempo,
Dia a dia, a angustia sua
É a canção do vento.

As vidas se repetem
Trocando de existências
Peitos arfam, padecem,
Gestos de consciências.

♣♣♣

ALAMEDAS TRISTONHAS

Ah essas RUAS! Outrora entupidas de gente, O ar que por elas, hoje, circula beneficia: Baratas e pombos somente… Um tal COVID espalha terror, e ninguém está a salvo, Estão todos, trancafiados em seus lares, padecentes. Lembras-te oh Alamedas risonhas… E, hoje as vejo solitárias tristonhas. Olha! Vejo uma ratazana, fugindo do horror do COVID! Ela sumiu, como toda gente. Fique aí, Contemplando seus fantasmas, enquanto Esperas por uma dose milagrosa! Eu? Ah! Fico aqui te olhando da janela…

♣♣♣

A ARTE O FIO QUE LIGA OS CINCO CONTINENTES

A POESIA é o fio de ouro que liga de um poeta
Ao outro e de um continente ao outro e esta ligação
Tem atravessado o tempo numa perspectiva de
Eternidade se não por algo parecido.

O que me agrada é esta certeza de que estamos entrelaçados
Por esse fio que é do metal mais nobre e não por um
Insignificante fio de náilon. Olho para os cinco continentes e vejo
Esperança no olhar de uns e de outros derramar-se em pranto.

E a paz na casa de uns tantos? Ah! É como meus versos
Despidos de métricas e rimas. E se não fosse a arte
Esse fio de ouro que liga de um continente ao outro?
O que disseram os Profetas e ou os Reis de outras datas
Que estenderam seu olhar aos cinco continentes?

Aos seus ouvidos chegavam clamores  de uns tantos
E júbilos de uns poucos. Ainda bem que a Poesia liga
Um poeta ao outro e um continente ao outro!

Levantes oh pequeno caído e digas  quem és tu!
Afaga-lhe o peito a ufania do nada e quem a ti traz a Salvação?
És tu que estás chorando oh continentes infelizes!
Mas o poeta também chora ao olhar a tua desgraça.

Vi meus avós meus pais falarem sobre:
Tempos bons virão! A paz reina nos sonhos de todos.
Acabou que não vi o tempo passar nem os cinco
Continentes viram. Entretanto as luas são incontáveis.

Aqui estou viva. E minha alegria não se descreve
Com a alegria das borboletas da minha idade.
É essa ligação entre os poetas dos cinco continentes
Que tem atravessado o tempo numa perspectiva de eternidade…

É consoladora  apesar dos conflitos esta certeza de que
Estamos entrelaçados…
É porque nos versos do poeta leia-se a liberdade
A do bater de asas da borboleta recém-saída do casulo.

Nos dias atuais o que reina é o imediatismo frenético.
Raros os que a tentam-se ao mundo em sua volta
Não é de se admirar que sejam muitos os que vivem a olhar
Em direção aos próprios pés com um olhar febril
Para o deslumbre da efemeridade das imagens.

Eu como poeta que sou procuro olhar além do papel
Sobre a minha escrivaninha por essa razão ouso
Atravessar fronteiras para levar o meu pensamento
Que de certo modo é coletivo.

Quando ouso atravessar fronteiras deixo de ser apenas
Um poeta assumo o papel de uma nação que através da
Poesia leva aonde for a sua cultura  certa de que serei
Recepcionada com festividade e que trarei na bagagem
Outras tantas lições culturais para agregarem à minha.

♦♦♦

Valda Fogaça é Poeta, trovadora, cordelista, cronista, romancista e compositora. Estudou Filosofia, Letras e História. Vive em Brasília/DF Brasil.  É colunista do Site Internacional O Segredo e da Revista Sttato. Escreve para três portais: UOL Pensador, Recanto das letras, LinkedIn e para três bloggers. É membro da Associação Nacional de Escritores (ANE). É membro do movimento internacional de Poetas Del Mundo, membro correspondente da Academia Capixaba de Letras e Arte de Poetas e Trovadores, ACLPTCTC.   Instagram: valdafogacaescritora.