MARILENE CAON, A CAÇA-TALENTOS, por Uili Bergammín Oz

Caxias do Sul tem fama de ser gelada, e seus habitantes de serem distantes e desconfiados. Na maioria dos casos essa pecha se justifica, mas vez por outra alguém (muitas vezes vindo de fora) quebra essa regra, tornando-se a exceção que só a justifica ainda mais. Este é o caso de Marilene Caon Pieruccini, caxiense por adoção, assim como eu. Poeta de mão cheia, prosadora em vários gêneros, vencedora de inúmeros prêmios literários, ex-presidente da ACL (Academia Caxiense de Letras) e agitadora cultural da Serra Gaúcha, Marilene também se destacava como olheira, caçadora de novos talentos e incentivadora de escritores neófitos. Foi exatamente o que aconteceu comigo. Quando cheguei à cidade, com altas pretensões literárias, ela foi a primeira autora de renome a olhar para meus textos e me chamar para a sua casa, dando-me dicas valíosíssimas. Uma delas, que jamais esqueci, é: “Não usar as palavras certas leva-nos a não ser compreendidos. Mas usá-las não é nenhuma garantia de sê-lo.” Internalizei isso e vi depois que ela própria foi incompreendida muitas vezes, por suas posturas firmes, por sua ousadia a frente da época. E olha que eu havia contatado outros escritores bem menos talentosos antes dela, sempre encastelados em suas torres de marfim inacessíveis. Pobrezinhos, todos eles desapareceram na poeira do tempo, sufocados pelo pó e teias de sua própria vaidade e egoísmo. Foi bem diferente com a Marilene. Continuar a ler “MARILENE CAON, A CAÇA-TALENTOS, por Uili Bergammín Oz”