DA CRISE DAS LIVRARIAS AO APOGEU DA LIVRALÂNDIA – EDITORIAL por Danyel Guerra

James Joyce? É um escritor novo? Aposto que um tremor de terra, de média intensidade, não me teria abalado tanto, como esta, na aparente, inocente e ingênua indagação. Caprichando numa amena ironia, ripostei. Joyce nasceu em 1882. É novo sim, se comparado com um Homero, um Ovídeo, um Petrarca, um Bocage.

Apercebendo-se do deslize, atarantada, a atendente desviou o olhar e fixou-o no ecrã do computador, alheando-se do bulício da loja, onde pipocavam os mais recentes produtos da indústria “cultural”.  O livro chama-se ‘Gente de Dublin’ (‘Dublinenses’), não é? Lamento, mas não consta da nossa base de dados, comunicou, articulando uma voz formal e protocolar. Continuar a ler “DA CRISE DAS LIVRARIAS AO APOGEU DA LIVRALÂNDIA – EDITORIAL por Danyel Guerra”

3 PROSOPOEMAS de Bernardino Guimarães

INTERIORES

Encerrado sem céu na métrica do tecto. Sinto-me na cadeira. Quem inventou as paredes achou o mundo demasiado grande. Há solenidade no gesto de fechar uma janela, traindo as luzes, traduzindo a poeira. Na sala humedece-se a tarde, nada mexe, e a música no aparelho é surda. Continuar a ler “3 PROSOPOEMAS de Bernardino Guimarães”

PEALO DE CUCHARRA- por Claudio B. Carlos

Foto de Eduardo Rocha https://www.imgrumweb.com/eduardorochafotografia

Para Aldyr Garcia Schlee

— Aceita um mate, compadre? –
perguntou Manoelita, ao velho que batera à porta.
— É o jeito, já que foder ninguém quer – respondeu o arriado, arrastando as alpargatas e se encaminhando para dentro do rancho. Continuar a ler “PEALO DE CUCHARRA- por Claudio B. Carlos”

PENSAMENTO CATÓLICO NO BRASIL – por Cecília Barreira

Alguns Protagonistas do Pensamento Católico no Brasil nas primeiras décadas do Século XX.

Dom Sebastião Leme (1882-1942)

O regime republicano é proclamado no Brasil em 1889 e a nova Constituição em 1891. Foi com o início da República, em 1890, que se separou a Igreja do Estado e o catolicismo só procurou criar um escola partir dos anos 10.

O Positivismo e o Materialismo, oriundos do século XIX, preocupavam a Igreja e as forças políticas conservadoras. A um século de oitocentos ligado ao Progresso e a um pendor de anticlericalismo surgia, em novecentos, uma inquietação nas consciências que se reclamava de fé. Não se pode perder de vista, o início da primeira guerra mundial. Continuar a ler “PENSAMENTO CATÓLICO NO BRASIL – por Cecília Barreira”

MULHERES NAS RUAS DO PORTO – VII – por César Santos Silva

Aurélia de Sousa (Rua de)

Início – Santos Pousada (Rua de)
Fim – Alegria (Rua da)
Designação desde: 1954
Freguesia de: Bonfim
Anterior Designação – Viela do Seixal

Maria Aurélia Martins de Souza nasceu em 1866 Valparaiso, Chile para onde  seus pais tinham emigrado em busca de melhores condições de vida. Continuar a ler “MULHERES NAS RUAS DO PORTO – VII – por César Santos Silva”

LA SENYORETA D’AVINYÓ – por Danyel Guerra

“Miró sentia a mão direita/demasiado sábia/
           e que de saber tanto/já não podia inventar nada”

 João Cabral de Melo  Neto

Barcelona frui e usufrui de uma ensolarada tarde de primavera  antecipada, em época do reinado de D. Carnestoltes*. Deambulando pelo capitoso Ensanche da cidade condal, Dirceu atravessa a Plaza de España e avista no Parc de Joan Miró, impante nos seus 22 metros de firme ereção, a escultura ‘Dona i Ocelli’. Continuar a ler “LA SENYORETA D’AVINYÓ – por Danyel Guerra”

AO LONGE UM BARCO COM UMA FLOR – “AMÉLIA” – por Fellipe Cosme

Voz: Júlia Moura Lopes

Amélia

(A Amélia Pinto Pais*)

um novo livro olha para trás
para chamar o outro livro do passado
a viver com novas metáforas
desimportantes Continuar a ler “AO LONGE UM BARCO COM UMA FLOR – “AMÉLIA” – por Fellipe Cosme”

POEMAS DE – Gisela G. Ramos Rosa

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“Comment interroger ce qui nous échappe aussitôt?”
 Bernard Noel

A António Ramos Rosa

Toda a presença vence os limites do corpo
tudo está por dentro, por detrás de quem olha.
Minucioso trabalho o da construção do poema foi o
que me transmitiste, lâmpada que se acende ao ritmo
do corpo das mãos como asas num vislumbre
que queima. Lá onde estás, não me perguntes se
escrevo e se me invento. Continuar a ler “POEMAS DE – Gisela G. Ramos Rosa”

O ULTIMO SORRISO DE BEATRIZ- POR GISELDA LEIRNER

© Noronha da Costa

O ÚLTIMO SORRISO DE BEATRIZ

Meu primeiro dia de aula. O anfiteatro estava cheio. Era um pequeno espaço ocupado por cadeiras móveis e  ruidosas. Um palco ocupava grande parte da sala dividida em dois grupos por uma passarela que alcançava a porta de entrada e saída. Os alunos inquietos, procuravam se acomodar, prestando pouca atenção ás palavras do Diretor.

Só se fez silêncio quando uma jovem começou a caminhar pela passarela. Seus passos eram leves, deslizava  na  primeira demonstração de como uma atriz deve se mover. O vestido  de seda transparente ondulava em seu corpo  com as estampas que pareciam cobras lilases movimentando-se dos seios até os pés descalços, como se caminhasse sobre estrelas. Continuar a ler “O ULTIMO SORRISO DE BEATRIZ- POR GISELDA LEIRNER”

PEQUENOS CONTOS DE JAIME VAZ BRASIL

© Yang Cao, sem título

A Arte de Conquistar o Mundo

O exército do país A invadiu o país B. Morreram muitas pessoas nos dois lados. O país A, apesar de enfraquecido com as baixas, venceu. Mesmo debilitado, percebeu que amedrontara o país C, e isso o impeliu a invadi-lo. Outras mortes, mas a coragem já superava qualquer dificuldade. Pôs abaixo o país D. Mal terminaram a comemoração regada a vinho, tomaram posse do país E. Até que um dia, seus poucos soldados não contiveram o exército de meia dúzia de esfomeados do país Y que, a exemplo de J. Pinto Fernandes, não estava na história, mas aproveitou a situação e tomou posse com paus, pedras e pelegaços. Continuar a ler “PEQUENOS CONTOS DE JAIME VAZ BRASIL”

HARATINES – por Jonuel Gonçalves

                                             

3º Episodio – Idrissa

Mesmo acostumado ao  deserto desde o teu nascimento tu sabes que ele pode ser  solidão como mais nenhuma outra paisagem, digam o que disserem sobre as grandes solidões das grandes metrópoles nas quais  pode-se ficar louco mas  aqui é pior, é corda bamba constante e queda ao mínimo descuido, ou seja, a água perdeu-se, estragou-se ou apenas acabou, o velho caminho das estrelas foi varrido pelo vento de areia furioso ou este vento de areia levantou-se antes de poderes montar abrigo ou ainda o camelo caiu de esgotamento, os pneus do carro acabaram uns após os outros ou, mais ainda, nos últimos tempos foste visto ao longe pelos predadores ferozes de duas ou quatro pernas e as balas estão muito poucas. Continuar a ler “HARATINES – por Jonuel Gonçalves”

FAMÍLIA E EDUCAÇÃO – por Julião Bernardes

Uma Nação só pode ser feliz se os cidadãos que a constituem forem educados e instruídos – só assim eles serão conscientes dos seus direitos e deles não abdicarão, lutando de forma organizada e positiva para deles usufruírem. No entanto – como todos sabemos – a felicidade não é um estado definitivo e total, custa a deixar-se usufruir, dá imenso trabalho, e é em fogachos breves que nos bafeja, sem se deixar agarrar. Continuar a ler “FAMÍLIA E EDUCAÇÃO – por Julião Bernardes”

POEMAS DE Lígia Casinhas

by Mariam Sitchinava

Perto e longe

Construímos viagens.
Tão distante é a verdade.

Procura submissa
Voz, sândalo e maresia.
Tu perguntas, eu respondo.
Nada sabes.
E guardas
Esse querer, não quero agora.
Feridas no ocaso
E poema Continuar a ler “POEMAS DE Lígia Casinhas”

MÁGICO DESPERTAR DE PRIMAVERA – Jussára C. Godinho

Primeiros dias de setembro! Abro minha janela. Doce manhã de sol! Quase ouço o sussurrar do frio despedindo-se sorrateiro.

No ar, o aroma adocicado das alucinantes pétalas coloridas. Inspiro… Expiro… Inspiro outra vez… O azul do céu invade meu dia, que mal começa a raiar, e inunda a minha alma de luz e de alegria. Continuar a ler “MÁGICO DESPERTAR DE PRIMAVERA – Jussára C. Godinho”

ROMANCE – por Luís Bento

Caminhei sobre tapetes, depois sobre o chão envernizado, em que quase andava em pontas e finalmente, o rebordo de pedra a dar para o jardim onde enterrei, logo, o pé direito na lama. Continuar a ler “ROMANCE – por Luís Bento”

PAIXÃO E DESESPERO – por Luís Costa

© Júlia Moura Lopes

Introito

É da beleza da ferida
Que se sustentam

Uma desertificação
Que irrompe para dentro

Gloriosa sementeira.

1

A morte de Deus vela os espelhos
E eu ofereço-te todas as paisagens
Que se erguem na minha alma. Continuar a ler “PAIXÃO E DESESPERO – por Luís Costa”

POEMAS e FOTOS de Maria Gomes

© Maria Gomes

Esta cidade existe num desejo que se encadeia
sobre a síntese dos lábios.
Nela mergulham o som exacto, a manhã,
o arco da noite navegante,
a luz sem fim.

Meu amado,
esta cidade existe nos joelhos do sol,
na pele dos pássaros,
num poema.
É sangue e transparência e pó, e mar salgado. Continuar a ler “POEMAS e FOTOS de Maria Gomes”

TRÊS POEMAS DE Marília Miranda Lopes

Terça-feira: Mercúrio

Este tempo invernoso omite
claridades nos teus olhos vivos:
palavras que rebentam nas bolhas
que raiam dos anéis das íris.
Não precisas, pois, de suster
a respiração nesse augúrio:
a mensagem vem de Mercúrio,
segue já na corrente, a ver
as margens e o mar ao longe:
aguarelas ternas que flambam
o verbo calado, em suspenso,
sem vontade de se debruçar
da tua boca que consente
salitre nos lábios e bruma
do dia em que fomos navio
e vela, e mastro, e terra una.

Continuar a ler “TRÊS POEMAS DE Marília Miranda Lopes”

CUENTOS DE – por Moisés Cardenas

PUEDE OCURRIR

En el pueblo de Brujas vivía una mujer blanca de ojos negros, quien llamaba la atención de los hombres, por sus senos turgentes y caderas anchas. Por su cuerpo fue objeto de halagos por parte de muchos pretendientes, quienes la desearon con fines sexuales, mas no como compañera eterna. Continuar a ler “CUENTOS DE – por Moisés Cardenas”

COM RILKE E PELA AMÉRICA LATINA – Rosa Sampaio Torres

 

Georgia O’Keeffe (1887-1986)
Com Rilke


Cedo, bem longe
do que é terrestre,
afastados da casa

paterna,
voejam anjos terríveis
no descampado,
próximos ao cume.
Muito alto.

Continuar a ler “COM RILKE E PELA AMÉRICA LATINA – Rosa Sampaio Torres”

O POETA GUIDO CAVALCANTI E A INFLUÊNCIA TEMPLÁRIA – Rosa Sampaio Torres

O poeta Guido Cavalcanti e a influência Templária

O brasão da família dos Cavalcanti de Florença é notado pela primeira vez na sangrenta batalha de Montalcino em 1260 – brasão em cruzetas reproduzido nos escudos de muitos de seus combatentes, cavaleiros de origem guelfa que defendiam o papado contra os guibelinos da cidade de Siena.

Família muito atuante na vida política da cidade de Florença, o uso do brasão dos Cavalcanti surgia na Toscana em período especialmente marcado pela atuação da Ordem Templária na região e, em cerca de 1255, o nascimento do grande poeta nesta família, Guido Cavalcanti. Continuar a ler “O POETA GUIDO CAVALCANTI E A INFLUÊNCIA TEMPLÁRIA – Rosa Sampaio Torres”

TRÊS POEMAS DE Rudá Ventura

RUÍNAS DE ÁGORA

Há tanta boca
E tanta voz desmedida
Nesse silêncio repetido e gritado,

Nesse vazio de palavras que ecoam esquecidas,
Onde à margem de toda prosa
Talvez repouse alguma verdade.

Há tanta boca
E nenhum som profundo;
Há tantos dentes devorando os sonhos
E tão ímpio tornou-se o mundo,
Que mastigado resta pra nós.

Continuar a ler “TRÊS POEMAS DE Rudá Ventura”

A POESIA DE Tito Leite

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CONFLITOS

Eu habitava comigo
como se a sonoridade do meu nome
fosse um origami
na aurora de cedro.

Continuar a ler “A POESIA DE Tito Leite”

CABALÍSTICA – por Ulisses Varsovia

Rosa de Pentecostés

Primavera de violentas ráfagas
en mayo crepuscular
desgarrando su vegetal vestidura,
resquebrajando el aire
a eléctricas dentelladas. Continuar a ler “CABALÍSTICA – por Ulisses Varsovia”