D´A UTOPIA DO CARNAVAL SEM FIM – de Bernardo Almeida

Remoto O som do mar a ricochetear nas fronteiras invisíveis da inóspita imensidão Chão em desintegração queda, apupo, alienação E o oceano, em derrisão, impassível – a compor a canção da criação do infinito Íntima transformação no ínfimo átimo universal

UM ROMANCE NAS NÓDOAS DA MISÉRIA (2) – por Lúcio Valium

  APARELHOS Comi no meio de um ruído imenso. Tomei dois cafés. Procuro um lugar fora do mecanismo. No futuro será mais difícil de encontrar. Cada vez haverá menos lugares desses. Atravesso as compridas artérias institucionais e fecho-me numa sala para escrever. Não há música mas podem enviar-se escritos. É uma área de organismos tecnológicos. …

O AMOR PLATÓNICO: Fragmento a Propósito de um Equívoco – por A. Sarmento Manso

Platão é um grande exegeta do amor, tratando-o de forma única, deixando um lastro de desejo e luxúria que perdura até à atualidade em qualquer das suas manifestações: homossexual, heterossexual, bissexual, espiritual. No entanto dessa herança ressalta de boca em boca uma ambiguidade em torno daquilo que passou a designar-se de amor platónico expressão cunhada …

UM ROMANCE NAS NÓDOAS DA MISÉRIA (Série I)- por Lúcio Valium

HORAS Na instituição as horas são linhas. Férreas convenções temporais. De manhã não segui a norma. Permaneci na hospedaria. Cama jangada dignos trapos quentes. São a vida. A negação doce e animalesca das imposições. Chego tarde com orgulho. Entro na cápsula como um infiltrado e visto a pele de sereno figurante. Um paciente que não …

POEMAS DE António Pedro Ribeiro

OS SINOS NA CASA DA MINHA AVÓ Os sinos da igreja na casa da minha avó em Braga onde estás, minha avó, que eras bondade e serenidade e me davas tudo?

CONTOS CURTOS DE Olinda Gil

A arma debaixo da almofada. Detestava armas. Ela, que fora ativista contra o armamento via-se agora obrigada a pegar numa arma. Toda a gente deixara de ser o que era. A fome obrigara-a a deixar de ser vegetariana e a matar animais para comer. A primeira coisa que fazia quando chegava ao esconderijo era largar …

DOIS POEMAS DE Ulises Varsovia

La casa Me iré. Te irás. Nunca regresaremos. Nadie preguntará, y la casa quedará girando en el tiempo. Vacía, en silencio, sola en la soledad de nadie durmiendo, de nadie sintiendo arder la eternidad.

EDIÇÃO Nº 3 – DE FEVEREIRO 2018

CAPA:  “O Friso de Beethoven”, de Gustav Klimt DIRECÇÃO: Júlia Moura Lopes CONSELHO EDITORIAL: Ângela Pieruccini, Danyel Guerra, David Paiva Fernandes, Júlia Moura Lopes e Marilene Cahon. COLABORADORES DE FEVEREIRO DE 2018: Angela Pieruccini, Beatriz Bajo, Cecília Barreira, cCésar Santos Silva, Cláudia Isabel Vila Molina, Claudio B. Carlos, Danyel Guerra, Diogo Pacheco de Amorim, Enrique …

A “Europa” ou a minha “Nação”? por Diogo Pacheco de Amorim

Contra ou a favor da Europa? Contra ou a favor das nações? A “Europa” ou a minha “Nação” ? Questão que hoje vivamente se coloca, desdobrando-se em infindáveis discussões. Juízos rápidos e fulminantes disparados contra quem duvida da bondade da escolha politicamente correcta, a da “Europa”. E contudo… … Contudo são discussões sem sentido, caso …

QUANDO A MADRUGADA JÁ NÃO EXISTE: SOBRE A PÓS-VERDADE por João Esteves

Ruído incomodativo às 3h30 da manhã: um vizinho põe a música num volume acima do permitido. Por enquanto, eu sei! Nas assembleias das democracias, sobre as quais me dizem ser o lugar cada vez mais antiquado, face aos desígnios do mundo de hoje – afinal as leis provêm de maiorias que nem sempre defendem o …

TRIPÚDIO – por Luís Costa

Die Geburt des Dichters Nunca pensei, sonhei ou desejei ser poeta durante toda a minha juventude em vez dos livros ou da poesia sempre preferi brincar aos índios e cowboys ou assaltar ao meio da noite os laranjais e os galinheiros dos vizinhos, ou ainda espreitar a vizinha, quando esta se despia para fazer amor …

Luto – por Marilene Cahon

A palavra luto vem do latim “dor, mágoa, lástima”, de luctum, “chorar (pela perda de alguém ou de algo)”. Regra geral, é «sentimento de tristeza profunda por motivo da morte de alguém ou de qualquer outra perda significativa». Pode-se tomar como conceito adequado o de que “o luto é um processo de aperceber-se, de tornar …

POEMAS de Júlia Moura

CORPO DO AMOR falar de amor é a tentativa de decifrar o escuro divino com a intuição do âmago esbarrar no vazio tropeçar no tudo e inventar meio mundo dando voltas nas estrelas caídas mais fácil é falar do teu corpo do teu copo do teu sopro de natureza cálida