MULHERES NAS RUAS DO PORTO – XVIII- por César Santos Silva

Carolina Michaelis de Vasconcelos (Escadas de) e ( Escola)
Início: Oliveira Monteiro (Rua de)
Fim: Infanta D. Maria (Rua de)

Designação desde 2001
Freguesia de Cedofeita
Designações anteriores: Rua de Públia Hortênsia (1948‑1957), Escadas do Liceu.

Carolina Wilhelme Michaelis de Vasconcelos, que também está consagrada numa escola da cidade do Porto e numa estação da linha do Metro do Porto, nasceu em Berlim, Alemanha, em 15 de Março de 1851.

Educada em casa (uma mulher ainda não podia entrar na Universidade, na sua Berlim, aquela a quem chamavam a «Metrópole da Inteligência»), recebeu lições de várias línguas, entre elas árabe, as línguas eslavas, germânicas, sânscrito, provençal, espanhol, catalão e português, além das disciplinas de literatura greco‑romana!

Precoce, traduziu aos catorze anos o Novo Testamento para caste­lhano e aos dezasseis já publicava artigos seus em diversas revistas que se debruçavam sobre a etimologia e filologia. Foi muito acarinhada por um dos irmãos Grimm, que a estimulou a seguir os estudos e investigações.

O interesse pela língua de Camões veio a seguir e logo se notabili­zou, não passando despercebida a diversos intelectuais portugueses, en­tre eles Oliveira Martins e Herculano, que com ela se corresponderam.

Em 1873 surgem os seus primeiros estudos dedicados à Cultura Portuguesa, chamado Novas Tendência da Vida Cultural Portuguesa.

Os erros de tradução feitos pelo poeta, cego, António Feliciano de Castilho, em relação à obra Fausto, de Goethe, levaram‑na a cor­responder‑se com o mais acérrimo crítico da tradução, Joaquim de Vasconcelos, também ele perpetuado nas ruas do Porto. Aqui começa uma relação epistolar que depois se torna pessoal, até que, após namoro, se casam, vindo os dois viver para a cidade do Porto, em 1876.

Joaquim de Vasconcelos era um notável estudioso da História da Arte, da Música, tendo sido ainda professor da Escola de Belas Artes de Lisboa. Os seus estudos sobre arqueologia e joalharia ainda hoje são apreciados o que prova a versatilidade de Joaquim de Vasconcelos.

No Porto viveram na Rua de Cedofeita, inicialmente no número 159 e depois no 150, onde ainda hoje existe uma placa a imortalizar a insigne morada. Tiveram um único filho, Carlos Michaelis, que foi estudar para a Alemanha, onde cursou engenharia e esteve ligado ao Colégio Alemão do Porto.

Costuma‑se dizer, por lapso, que D. Carolina Michaelis foi a primeira mulher catedrática da Universidade Portuguesa. De facto lec­cionou em Coimbra, mas apenas como professora convidada, já que a honra de ter sido a primeira catedrática a formar‑se foi, e ainda é, dado ter sido entre nós, D. Maria Helena da Rocha Pereira. Curiosamente tam­bém ela nascida no Porto, em 1925, e na rua de Cedofeita!

Muito apaixonada por Portugal, Carolina Michaelis não se con­formava com o desinteresse que os portugueses devotavam à sua cultura, e à negligência perante o património edificado. Ela estudará cancionei­ros antigos, e vai ver editado o Cancioneiro da Ajuda.

Atenta à questão feminina, ela diria um dia que: «A questão femi­nina em Portugal e Espanha é, antes de mais, uma questão de instrução».

Pertenceu ao Conselho Geral das Mulheres Portuguesas, de quem foi eleita presidente honorária.

Carolina Michaelis morreu a 22 de Outubro de 1925, finando‑se a vida de uma das mais cultas pessoas do seu tempo e uma das persona­lidades mais notáveis de sempre, da cultura portuguesas. As escadas que estão ligadas ao seu nome, são, e dada a topografia da zona a ligação da Rua de Oliveira Monteiro à escola, antigo Liceu, que também ela consagra no seu nome a notável estudiosa. A Escola foi construída de raiz na dé­cada de 30 do século xx, vinda da Rua de S. Bento da Vitória, tendo estado, antes, instalada na Praça do Coronel Pacheco, 40.

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César Santos Silva. Bacharel em História. Formador, professor de História do Porto, Portugal e Contemporânea do Mundo em várias Universidades Seniores, tais como Sindicato Professores da Zona Norte, Fundação Inatel entre outras. Investigador de temas relacionados com a História do Porto e a História do Mundo,colaborador pontual dos “ Serões da Bonjoia”, conferencista habitual da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, Fundação Inatel, Palacete Visconde Balsemão. Autor de vários livros dedicados à cidade do Porto.