TEXTOSTERONA PRENSAMENTOS & DESAFORISMOS – IV- por Danyel Guerra 

Zsa Zsa Gabor

  DONDOCAS E PERUAS

Uma dondoca, ex- amásia promovida a esposa, filosofa com uma congênere:  “Como se sabe, é na melhor mussolini que a nódoa cai”

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Outra dondoca desabafa com uma perua: “Dizem que eu tenho mau feitio. Mas quem tem mau feitio é o vestido daquela sirigaita lá ao fundo.”

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Grávida de insolente convicção, outra dondoca recorda: “antigamente as mulheres sofriam muito com a roupa. Tinham de suportar os espartalhos e as criolinas!”

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Dondoca despachando um mendigo à porta da boutique: “Ora essa, se não tem pão, coma broche, como dizia a Maria Tonieta.”

E sem demora, entra na confeitaria ao lado, senta-se à uma mesa e pede ao garçom: “sirva-me  um chá de calmomila com um fecho-éclair e broches à viennoiserie”

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São os homens que nascem dotados de saco. Porém, são as dondocas e as peruas que enchem o saco deles e todos os sacos, até o saco que não têm, nas promoções, saldos, liquidações e black-fridays.

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Dondoca tenta consolar uma perua, padecente de uma desilusão amorosa-

-Não podes desistir. No fundo, ele até gosta de ti.

-Gosta? No fundo?! Só se gostar bem lá no fundo do quintal, nas vizinhanças dos fundilhos…

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Uma certa dondoca julgava-se senhora de uma notável craveira intelectual. Um dia, nas vésperas de um sarau literário, voluntarizou-se para declamar um poema de Marguerite Duras.

Atenção, leia o nome dela, à francesa, “Marguerrite Durrá”, alertou a  curadora da sessão  “Não irrite a plateia”, rogou.

No palco, turvada pela emoção, esqueceu o aviso e leu o nome à portuguesa. A plateia caiu na gargalhada e a dondoca mostrou a sua, nada, apreciável caveira intelectual.  Que era mais dura que diamante.

Margueritte Duras

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Tá na cara que aquela perua  é uma notável artista plástica. No corpo dela está patente uma exposição permanente de obras de liftings e de sistemáticas colagens  de botox.

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Uma certa dondoca, inchada de prosápia monárquica, vangloriava-se de que nunca sofreria de reumatismo. No máximo, ufanava- se ela, padeceria de um soberano reimatismo.

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A dondoca  Zsa Zsa Gabor fica para a posteridade como testemunho eloquente da afeição, predileção pela instituição casamento. Consorciou-se umas noves vezes. E foi (quase) tudo noves fora.

Esse percurso não impediu que ela se tivesse comportado como uma mulher caseira, dedicada ao lar doce la.  “Sempre que me divorcio, eu ganho uma casa nova. Que ninguém diga que não sou uma exemplar dona de casa”,  observou, numa leda madrugada, a diva húngara, entre duas taças de champagne.

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“Adorei a minha última  viagem a Paris”, vangloriava-se uma dondoca, em falação com uma parceira. “Foi muito prazeroso subir ao alto da Tour Montparnasse e ver os artistas pintando”, entusiasma-se.

“Artistas pintando em Montparnasse? O que você deve ter visto foi pintores da construção civil”, disparou, irônica, a comparsa menos boboca.

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Quando as dondocas batem (bo)boca, discutem acaloradamente, deblateram em histeria, elas não armam zaragata. Isso é coisa das mulheres do povo.

O que elas aprontam é uma zaragatoa, a bem dizer, uma zaragata à toa, tão fútil e inútil como elas.

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Em mais uma fofoca partilhada com uma amizade, certa perua comenta: “Aquela que ali vai, de certeza que não troca a anderuér todos os dias”

“Com certeza que não. E nem precisa” –garante a amiga. “Ela nunca veste nem sutiã nem calcinha. Acha que fica mais sexxxy assim”.

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Detesto as esposas que não passam de marinetis nas mãos dos maridos, proclamava uma dondoca, a meio de um cha…mpagne das 5.

Marionetas, amiga, marionetas. Marinetti é um poeta italiano, não confunda.

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Eu não dou mole, cara amiga. Se o meu marido não me passa o cartão dourado, eu mostro-lhe, sem vacilar, o cartão amarelo. Se insistir na recusa, saco do vermelho.

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Perua bem casada com um cliente, encontra uma ex-colega de orifício, perdão, de ofício. Esta, derrama-se em salamaleques, elogiando a fina estampa dela.

Minina, que luxo. Esse vison deve ter custado os olhos da cara ao teu marido.

E custou o olho do c…oração a mim.  Estou apaixonada.

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As dondocas e as peruas alimentam um fetiche obsessivo por jantares de gal….inha. Sim, de galinha, porque com seus cérebros galináceos não têm Q.I. suficiente para chegarem a gala.

E na Noite de Natal, muitas não abdicam de irem se exibir e cacarejar para a  missa do galo.

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Cortar na casaca e no vestido da congênere que está ausente, nem que seja na mesa ao lado, é o esporte favorito e mais praticado pelas dondocas. Nesse jogo, vale tudo, vale até arrancar  o olho de Gato, a nebulosa da constelação do Dragão.

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Só as dondocas e as peruas têm esse inconfessável talento de transformarem uma profana prostituição num santo matrimónio.

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Conclusão: felação, perdão, falação de dondoca  e de perua de boutique consegue ser tão fútil e inútil  como conversa fiada de pinguço de botequim.

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Danyel Guerra (aka Danni Guerra) nasceu na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Tem uma licenciatura em História Universal da Infâmia pela FLUP. É jornalista nas horas (mal) pagas e autor literário nas horas com vagas.

Publicou os livros ‘Tomás Gonzaga-Em Busca da Musa Clio´’, ‘ Amor, Città Aperta’, ‘O Céu sobre Berlin’, ‘Excitações Klimtorianas’, ‘O Apojo das Ninfas’, ‘Oito e demy’, ‘Fernando de Barros-O Português do Cinemoda’ e ‘Os Homens da Minha Vida’.