
Dupla negação
Não é possível
renegar de quem se é.
Não é possível
privar aos outros
de aprender
a ser mais humanos
a partir do que podem
ressoar conosco,
nesta convivência planetária.
Não é possível
renegar de quem se é,
porque isso implica
enfatizar a negação
disso que somos.
Porque temos uma história
e temos transitado um caminho.
Porque somos com outros
e geramos um impacto.
Não é possível
privar aos outros de nos conhecer,
e não é possível
privar-nos de conhecê-los.
Aprender a viver,
de isso se trata,
aceitando nossa luz
e nossa sombra,
em todos.
Diagnóstico
Se eu tivesse
a capacidade
de inventar
um diagnóstico,
diria que às vezes
tenho o complexo
de bichinho de bola,
e então
a única coisa
que quero
é me encolher
e resistir nesta terra.
Outras vezes
experimento
a síndrome do caracol,
então só sinto desejos
de me enclausurar
em mim mesma
e ser o mundo.
Também pude experimentar
o complexo da gazela,
tornando-me
um mamífero ágil
disposto a encontrar
aquilo que o nutre e o sacia.
Mas também já pude
me sentir como uma formiga,
por isso pode ser que,
afinal,
meu destino seja encontrar
minhas comadres artrópodes
e formar uma colônia.
Depois de tudo e
após tanta entomologia psicológica,
devo assumir que
eles não têm porque carregar,
nem muito menos intuir,
o que é que eu devo fazer
em meus dias
conjeturando estas projeções
arquetípicas e mundanas.
Isso não é nada
O que eu tenho a oferecer
para o mundo?
entrega
amor.
Dizem por aí
que o amor não é suficiente.
Então, preciso
ternura
paixão
emoção.
Mesmo que me façam acreditar
isso não é nada
é o que eu dou.
Até que o mundo seja mais suave
cuidados
ação.
Até que tudo seja como sonhamos
ou até melhor.
Carinho
Naquela magra
perfeição
nós nascemos
acreditando em nós
imperfeitos.
Assim como dizem
que dois pólos
opostos
eles se atraem,
há coisas
no universo,
que podem
se tornar
afins.
Basta
levantar uma pedra
para saber
que lá embaixo
há algo
esperando
sair à luz.
O amor
é um corpo
forte
disposto a
dizer
que é frágil,
não tem
medo
a mostrar
que a suavidade
expande-o.
Nesta magra
perfeição
nós nascemos
acreditando em nós
imperfeitos,
como ímãs.
Um ato de fé
Eu sou
uma semente
em potência.
Eu sou
a flor
de um fruto.
Eu sou
as noites
que choro
porque sinto
impotência.
Eu sou
cada uma
de minhas doenças
até que elas se liberam.
Eu sou
o canto sagrado
de minhas ancestrais.
Vivo
na luz e no som
de cada célula
quando se alimenta.
Grito
cada uma das tristezas
da Terra.
Em um ato de fé
digo
vamos, eu estou disposta
eu sou muito valente por estar aqui
já estou completa.
♦♦♦
Marianela Tiranti Gattino é uma escritora, dançarina, gestora e mediadora cultural proveniente de Córdoba, Argentina. Estudante da Licenciatura em Artes e Gestão Cultural da Universidade Provincial de Córdoba, atualmente realiza um intercâmbio acadêmico no Bacharelado de Museologia da Escola de Música e Belas Artes (UNESPAR) de Curitiba, Brasil. Autora do livro De mis entrañas – publicado em 2019-, interessa-se pela arte, a espiritualidade e a comunicação: a relação entre emoção, corpo e palavra.
You must be logged in to post a comment.