POESIA – de Francis Kurkievicz

 

MAGO

Na floresta para Waldberta
O guia perde o poeta.
Na serpentecostal selva remotta
Um criancião paracleto
O aguardava com sinais cristântricos.
Do cóccix à pineal
Pousou o mestre a mão
E alçou alucifeéricos fogos pecúlios
Despertando-lhe uma pedagogia petrográfica aprendiz.
E o poeta petiz
Reencontrou-se guia apóstata
Ifá de Orumilá.
Axé! Ave! Amém!

♣♣♣

foto by Melikşah Sayın

BELA & PERENE

No alto da serra floresces
Magnífica e anônima
Abundantemente cresces
Mas ninguém te quer margarida
Tua simplicidade não comove
Teu aroma não desperta
Tuas cores não consolam.
És preterida
Esquecida nos cantos das estradas
Atrás da cerca ressequida
Olvidada no vaso de barro.
Tu não és querida margarida
És caipira demais ao gosto urbano
Maravilhosa de menos.
Não és jasmim
Nem magnólia
Nem buganvília
Nem orquídea
Não és rainha
Nem princesa
Nem condessa.
Nobre é apenas
Tua humildade selvagem.
Ninguém te compra
Ninguém te planta
Ninguém te rouba
Ninguém te colhe
Por isso flores plena.
Em tua estirpe pequena
Espalha-se rasteira pelo morro
Para a alegria da floresta
Que a festeja em silêncio.

♣♣♣

BAALBABEL

Não há diversão etérea
Em banhos de esgoto
Nem ritos iniciáticos
Em solos inférteis.
Não é possível
Nem mesmo um fogo lucifétido
Surgir augusto de uma cova em fálus.
Não é possível um santo
Que morto não esteja
Subir levitando ao Monte Meru
Sem o sopro de Mercúrio e sua Cúria.
Nenhum Héracles
Beija o pomo de Adão
Sem cair na tentação
De tentar pôr no beiço
Uma gota de veneno.
Não há solução alquímica
Que doe fé a esta mímica
Nem mantra nem vigília
Ponha fim a este baldar
Travestido de Tennyo divina.

♣♣♣

PIREXIA

Queria febre brava
Purgasse a mente
De toda enfermidade.
Febre fosse faca
Bisturi, cortasse
Ferisse
Extirpasse
Esse medo nato do fracasso
Da existência, do existir, do resistir.
Queria febre brasa
Queimasse o ventre
Coisa mundana
Gera, procria
Mudança temerosa
Tuberculosa
Ladra da luz dos olhos
Lume outrora amiga.
Queria febre
Salvasse vida fria
Ida finda
Lugar nenhum.

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Francis Kurkievicz é poeta, professor de Filosofia e Criação Literária. Natural do Paraná vive em Vitória/ES-Brasil onde se dedica exclusivamente à poesia; publicou seu primeiro livro em 2015 Meninices, contos para crianças, em 2020 publicou seu segundo livro, B869.1 k96, poemas pela Editora Patuá. Criou em 2019 a Ayatori Editora através da qual republicou Meninice e, em 2022, publicou o livro de poemas para crianças Meu Cântico À Natureza, de Vitória Sainohira. Tem publicado seus poemas em revistas digitais como Mallarmagens, Arara, Acrobata, Hiedra, Aboio, Escritas, Torquato, Life & Legends, Mal de Ojos, etc., e traduções nas revistas Escamandro, Memai e Zunái.