TENDER BUTTONS E LADIES ALMANACK – por Eric Ponty

Gertrude Stein’s The Autobiography of Alice B. Toklas (1933) é uma autora emblemática na autobiografia lésbica, se não típica. Não sendo típica porque embora obedeça à maioria das convenções genéricas dessa autobiografia, está escrita na voz de outra: é A Autobiografia de Alice B. Toklas, de Gertrude Stein publicado pela Cosac Naify (2009) com tradução de José Rubens Siqueira.  Além disso, Alice B. Toklas não sendo apenas mais uma pessoa, não apenas Gertrude Stein, sendo a consorte de vida de Gertrude Stein, sua amante – esposa

Gertrude e Alice estão enterradas juntas no cemitério de Père Lachaise. Apesar seguir o tópico “Antes de eu vir a Paris” da autobiografia, abrindo com o início da vida de Alice, envia esta informação num breve parágrafo inicial:

Talvez o meu filho é que tenha morrido. Me lembro sempre de um de seus axiomas: se tem de fazer uma coisa, faça com graça. Ele me disse também que uma anfitriã não deve nunca se desculpar por qualquer falha nos arranjos da casa, porque uma anfitriã existe na medida em que existe uma anfitriã que não falha. Como eu estava dizendo, vivíamos todos confortavelmente juntos em minha mente não havia nenhum desejo ativo ou ideia de mudança. A perturbação da rotina de nossas vidas pelo incêndio, seguida da vinda do irmão mais velho de Gertrude Stein, fez a diferença.

Mrs. Stein trouxe com ela três pequenas pinturas de Matisse, as primeiras coisas modernas a cruzar o Atlântico. Eu a conheci nessa época de perturbação geral e ela me mostrou as pinturas, também contou muitas histórias de sua vida em Paris.

Se no muito breve primeiro capítulo, “Antes de Chegar a Paris”, sugerindo que a vida de Alice legitimamente pôr-se em “Minha Chegada a Paris”, o título do segundo capítulo.

Se no fato, o primeiro capítulo cobriu toda à vida de Alice antes de conhecer Gertrude Stein, terminando com um longo parágrafo que já é um prólogo com dessa vida com Gertrude. Descreve com algum pormenor como chegou a conhecer Stein e anota como “desta forma começou a minha nova vida plena”.

Inusitado está “autobiografia” é, fazendo o que doutras autobiografias lésbicas fazem: Sendo desobedecer às regras convencionais da autobiografia. Stein o faz escrevendo a vida de sua amante na voz de sua amante e do seu ponto de vista, assim como por extensão, transformando numa autobiografia nessa história de um casal, não de uma só pessoa.

Stein as une, em casa, por assim dizer – um ato impossível na época – tornando suas vozes indistinguíveis: falam de feitio intercambiável. Se estas variações no formulário sugerem que o gênero existente, tais parâmetros disponíveis, da autobiografia, não serão suficientes para às lésbicas. Essa interrupção genérica pode ser, de fato, a mais prevalente, sendo característica distintiva das memórias lésbicas ou autobiografia, embora este dissidente assuma formas diferentes ao longo dos séculos.

Começando com um dos primeiros exemplos de autobiografia lésbica, encontramos o que se tornará um provoco genérico recorrente. Um fragmento de Sapho apresenta o que pode ser estimado uma equivalência lésbica:

Não ouviu uma só palavra
Sinceramente, gostava de estar morta.
Quando ela saiu, ela chorou
Muito; ela disse-me: “Esta despedida deve ser
suportou, Sapho. Eu vou de má vontade.”
Eu disse: “Vai, e sê feliz.
mas lembre-se (você sabe
bem) a quem deixas algemado pelos amores.

Neste caso, um poema nunca é entendido necessariamente para cumprir os termos da pessoalidade. A poesia, como a prosa ficcional, pode ser escrita em primeira pessoa, sem que se assume que está na voz ou sobre a vida do autor, mesmo quando a protagonista partilha o próprio nome do escritor; no entanto, nesses casos – como no fragmento de Sapho – é muitas vezes uma pista de que estamos a ler um romano (ou poème) à clave, uma versão ficcional ou ficcionalidade do fato.

Se pode haver versões mais adequadas da verdade, que não são ficção ou ficção, é outra questão contestada sobre memórias e autobiografia: afinal, toda a escrita é mediada, construída, trabalhada; isto não é uma contestação particular à escrita da vida lésbica, embora disfarçar “fatos” ou construir “ficções” possa ser individualmente importante para um escritor preocupado com o assunto perigoso ou tabu da cobiça do mesmo sexo.

Num gênero individualmente fecundo para descobrir a escrita de vidas lésbicas não está apenas na poesia que pode ser dirigida apaixonadamente ou intimamente essa outra mulher, mas também na variante ainda mais destilada dessa troca: as missivas.

E, na verdade, às vezes os poemas e as missivas nem sempre são espontaneamente distinguíveis. Emily Dickinson escreveu poemas apaixonados e o que se pensa serem missivas de amor à sua cunhada Susan Huntington Gilbert Dickinson, ou “missivas-poemas” (“uma categoria que inclui poemas e cartas assinadas com poemas ou com estrofes de poesia”). “Oh Susie”, Emily historia a Sue, em fevereiro de 1852, numa missiva reconhecível como missiva: “Eu aninhar-me-ia perto do teu coração quente, e nunca mais ouviria o vento soprar, ou a dilúvio bater, igualmente.” Em meados dos anos 1860, Dickinson historiou uma compaixão análoga numa missiva-poema:

Afetuosa Sue,
. . .
para a Mulher
que eu prefiro,
Aqui está o Festejo –
Quando as minhas mãos
são Gatas, Seus
dedos serão
achado no interior –
De nossa bela vizinha
“mudou-se” em maio…
Deixa uma
Sem importância.
Leve a chave para
o Lírio, agora, e
Vou riscar a Rosa…

Se Gertrude Stein escreveu regularmente à sua consorte Alice B. Toklas em uma confissão análoga desse poema e dessa missiva. Cá temos um dos tais exemplos:

Neném precioso
As estrelas brilhantes e adoráveis
meu Neném, eu fiz muita literatura
e eu amei o meu Neném que eu levava
leito e eu amo o meu Neném, …

Mesmo tais missivas, que parecem ser as mais não mediadas da escrita – presumivelmente orientadas para um outro leitor em particular – podem estar disfarçadas num mundo onde essas paixões das mulheres do mesmo sexo são estimadas loucas, ou nem sequer acatadas, naquilo que agora nos referimos como “invisibilidade lésbica”.

Se em outras palavras, para toda essa escrita que pode ser decodificada e sendo interpretada à luz da crescente visibilidade lésbica, ainda há toda essa escrita que não temos: ou porque tal escrita passa reservado ao nosso olhar interpretativo – há códigos que jazem ininterruptos e códigos que talvez nem sequer reconheçamos como instruções – ou porque, por todas as razões de temor e estigma, nunca foi na realidade escrita.

II – Capítulo Tender Buttons de Gertrude Stein

Tender Buttons foi publicado pela primeira vez na Primavera de 1914 por Claire Marie em Nova Iorque. Stein começou a escrever o livro no Verão de 1912, enquanto tentava compor uma série de pequenos poemas em prosa sobre objetos do quotidiano e da vida quotidiana. A obra reuniu-se rapidamente e, no início de 1914, Stein já o tinha terminado. Em fevereiro desse ano, ela foi abordada por Claire Marie Press, que manifestou interesse em publicar alguns dos seus escritos. Considerou enviar-lhes as suas peças, mas ficou convencida de que este novo trabalho em três partes seria uma melhor opção. Claire Marie não era uma editora grande ou prestigiosa, mas uma empresa obscura que foi criada por um poeta excêntrico de Nova Iorque, Donald Evans. Stein tinha-se tornado conhecido por Evans através do seu amigo mútuo Carl Van Vechten.

O nome do livro, Tender Buttons, tem sido muito discutido pelos críticos de Stein, com interpretações que vão desde a ideia de que ela escolheu duas palavras familiares e as colocou juntas para criar um sentido do incógnito, até outras alegações de que o título é uma referência a mamilos. Stein não tinha nome para a obra até muito perto da data de publicação; ela só informou Evans do título um mês antes de ele o divulgar. O livro está dividido em três secções: ‘Objetos’,’ Alimentação’ e ‘Quartos’.

Nestes poemas inovadores em prosa, Stein descreve o mundano e comum com uma gramática experimental, transformando formas conhecidas em ideias novas e desconhecidas. Durante este tempo, foi fortemente influenciada por Picasso e Cubismo e tentou incorporar alguns dos aspectos mais radicais da sua arte na sua escrita.

Publisher: Martino Fine Books (September 21, 2011)
Language: English
Paperback: 60 pages
ISBN-10: 1614271771
ISBN-13: 978-1614271772

Dessa edição de Tender Buttons para essa edição trouxemos quatro temas de prosa poética de Gertrude Stein

A SELTZER BOTTLE.

Qualquer negligência de muitas partículas a uma fenda, qualquer negligência disto faz com que à sua volta o que é chumbo em cor e certamente descolorir em prata. O uso disto é múltiplo. Supondo que um certo tempo selecionado é assegurado, supondo que é mesmo necessário, supondo que nenhum outro extrato é permitido e que não é necessário mais manuseamento, supondo que o resto da mensagem é misturado com uma agulha muito longa e esguia e mesmo que possa ser qualquer borda preta, supondo que tudo isto, no seu conjunto, fez um vestido e supondo que era real, suponhamos que a maneira mesquinha de o afirmar foi ocasional, se o supomos em Agosto e ainda mais melodiosamente, se o supomos mesmo no incidente necessário de não haver certamente meio termo no Verão e no Inverno, suponhamos que isto e um povoado elegante um povoado muito elegante é mais do que de consequência, não é final e suficiente e substituído. Este que foi tão gentilmente um presente foi constante.

A LONG DRESS.

Qual é a corrente que faz a maquinaria, que a faz crepitar, qual é a corrente que apresenta uma longa linha e uma cintura necessária. O que é esta corrente. O que é o vento, o que é. Onde está o comprimento sereno, está lá e um lugar escuro não é um lugar escuro, apenas um branco e vermelho são pretos, apenas um amarelo e verde são azuis, um rosa é escarlate, um arco é de todas as cores. Uma linha distingue-o. Uma linha apenas a distingue.

A BLUE COAT.

Um casaco azul é guiado, guiado e guiado, que é a cor particular que é utilizada para esse comprimento e não qualquer largura nem sequer uma sombra.

O PIANO.

Se a velocidade estiver aberta, se a cor for descuidada, se a seleção de um cheiro forte não for embaraçosa, se o suporte do botão for segurado por toda a cor ondulada e não houver cor, não houver cor nenhuma. Se não houver sujidade num alfinete e não puder haver nenhuma dificilmente, se não houver, então o lugar é o mesmo que em pé. Isto não é um costume obscuro e nem sequer atua de tal forma que uma contenção não seja espalhada. Isso é espalhado, fecha-se e levanta-se e, estranhamente, não é estranho que o centro esteja em pé.

Se um outro “disfarce” historicamente para o lesbianismo é a heterossexualidade. Mesmo que missivas e diários como arquivos de cobiças lésbicos pareçam relativamente descomplicados em tais documentos, ainda temos o termo contraposto lésbico, pois muitas dessas afirmações de paixão são explicadas por mulheres casadas. Assim, poderíamos dizer que as afirmações e as paixões são lésbicas se não (essencialmente) as pessoas declarativas

III – Capítulo Ladies Almanack de Djuana Barnes:

Se sendo duma “alternativa” à simples autobiografia lésbica é a roman à clef, o romance que pode ou não ser “correto”, que se baseia em acontecimentos na vida dessa autora. E pode não estar claro se a mascarada é esta artística, lúdica ou camuflada, particularmente devido à impossibilidade de declarar tais verdades dos desejos e experiências de cada uma.

Um exemplo bom exemplo modernista é um texto quase inescrutável de Djuna Barnes Ladies Almanack (1928), sobre o qual ISABEL FRANC explica-nos, num prefácio intitulado, “A Paris era A Mulher de Ladies Almanack:

Published May 1st 2006 by Carcanet Press (first published 1928)
Original Title
Ladies Almanack
ISBN 1857548272 (ISBN13:9781857548273)
Edition Language English

Ladies Almanack, sendo o seu título completo Ladies Almanack: mostrando os seus Sinais e as suas Marés; as suas Luas e as suas Mudanças; as Estações como está com elas; os seus Eclipses e Equinócios; bem como um Registo completo de Distempers diurnos e noturnos, escrito & ilustrado por uma senhora da moda, foi escrito por Djuna Barnes em 1928. Este roman à clef cataloga as intrigas amorosas da rede lésbica de Barnes centrada no salão da Natalie Clifford Barney em Paris. Escrito como um pastiche de restauro de sagacidade, o volume esbelto é ilustrado pelas xilogravuras inspiradas em Elizabethan de Barnes. Natalie Barney aparece como Dame Evangeline Musset, “que estava no seu coração uma Grande Cruz Vermelha para a Perseguição, o Alívio e a Distração, de Moças como dessas suas Partes Travessas, e nas suas Partes Prematuras, e em tudo o que essas Partes mais sofreram, lamentam Cruelmente”.  “[A] Pioneira e uma Ameaça” na sua juventude, Dame Musset atingiu “uma cinquenta espirituosa e sábia”; resgatou mulheres em perigo, dispensa sabedoria, e na sua morte é elevada à santidade. Também aparecem pseudonímicamente Élisabeth de Gramont, Romaine Brooks, Dolly Wilde, Radclyffe Hall e a sua consorte Una, Lady Troubridge, Janet Flanner e Solita Solano, e Mina Loy.

A linguagem obscura, nas piadas internas e a equívoco têm mantido os críticos a discutir se é uma sátira afável ou um ataque agro, mas a própria Barney adorou o livro e relê-lo ao longo sua vida.

A Paris era Mulher

No ano 1921 Djuna Barnes viajou como correspondente para Paris com uma missão de retratar à comunidade de expatriados e de expatriadas norte americanas e terminou afinal sendo uma delas.

Desta época se houve escrito muito pouca coisa, porém em poucas ocasiões essas intelectuais e as artistas protagonistas desse momento haviam passado de ser algo demais que uma sombra. De feitio, nem se demostraram até para que outras mulheres reconhecessem esse testemunho deixado por suas antecessoras de la Rive Gauche e vieram dizer sobre elas. Biografias, ensaios, ficções, biográficas e autobiográficas irromperam nas estantes das tais livrarias a partir da metade desse Século XX. Algumas de notáveis exemplos, das quais muitas nos encontramos, sendo sem dúvida: As Mulheres de la Rive Gauche, de Shari Benstock (esse livro impossível de achar). A importância de Chamar-se Dolly Wilde, de Joan Schenkar, a biografia de Natalie Barney, de Suzanne Rodríguez, o Da Paixão segundo Renée Vivien, de Maria Mercè Marçal, senão uma das melhores recriações em ficção recreações, nessa ficção, dessa encantadora, cruel e ambígua sociedade dessa época.

Se naquele período histórico «A Paris era mulher», afirmamos com toda sua razão documental de uma Greta Schiller. Tais escritoras, editoras, livreiras, fotógrafas, pintoras e Jornalistas que se escabecearam na margem esquerda do Rio Sena se converteram em mecenas dos principais movimentos literários e artísticos dessa exuberante ocasião que se vivia e de cujos rendimentos, todavia nós gozamos algumas dentre outras. Porém, muitas delas se tornaram por demais pioneiras do outing lésbico. Sendo há mais destacada, sem dúvida nenhuma, Natalie Clifford Barney, uma Amazona, la salonnière reconhecida fundadora da Académie des Femmes.

Em seu salão de la rue Jacob se celebravam todos os viernes tertúlias literárias, picantes representações teatrais de obras escritas por ela mesma ou por alguma de suas amigas em tais atrevidas performances muito acompanhadas de chás, de

vinhos e de champagnes desses da melhor qualidade e de suculentos manjares dentre os quais nos caberia destacar os famosos sanduiches de pepino que preparava Berthe Cleyrergue, cozinheira e assistente pessoal de Barney.

No centro desse jardim se encontrava o assim chamado «Templo da Amizade» onde havia um lugar para espetáculos. Conta Suzanne Rodríguez, em sua biografia de la salonnière, que «em uma certa ocasião contratou a conhecida Mata Hari para que passeasse nua por tais jardins de sua mansão montada num cavalo branco prendido com arnês pintado de esmalte azul turquesa.

Nesse salão se manteve durante mais de sessenta anos, porém se não foi dentre as tais décadas de 1920 e 1930 quando viveu no período de seu maior auge.

No salão de Barney era o único em Paris (sendo o mais importante na Europa) consagrado para encontro de mulheres dedicadas na arte e na criação, para desfrutar de suas habilidades, fazerem centro de debates e de exposições, representarem em suas obras, gozarem dos prazeres duma vida social e terem tais animados embates sexuais.

ISABEL FRANC

 

SETEMBRO POSSUI

 30 DIAS
AS LUAS E SUAS MARES

Sendo do Próprio feitiço de ser Mulher depender de tanto do azar, sendo tanto complexo e tão doloroso que o situar em um Momento determinado da História equivale ao desprezo em relação ao momento seguinte.

Na Juventude segue o que foi atrativo, dessas extremidades tão içadas, pureza nos Olhos, muito doce por atrás e por adiante; altivo ou baixo, rubro ou moreno, seguido muito sempre. Agradável de contemplar. Porém, passado um Tempo, que não chegando nem aos doces anos, se inclinam, se amplia e se deforma. Se essas suas Ossaturas estão muito importunas, sendo sua carne se acalma, sua Língua regressa amarga o só funciona com tal doçura quando se acha diante de mel proibitivo.

Seu pensamento está corrompido por uma existência sendo sua base de dinheiro e duma adulação. A Vida lhe há duma maneira ensinado o que é esta Vida. Se hão feitas de Amigas dela e sendo dessa vida, e não havendo passado tempo suficiente tombado no Ventre do altivo – porque passou metade de sua vida tombado. Só se contemplando a Abobada Celeste. Não havendo sido feita para nadar nesse celestial; sendo um Peixe de Terra, nada além dessa Terra fundamentada.

Sem, contudo, de tão pobre Condição nada lhes impediu de lhes causar Dor em outras dessa sua mesma pobre Condição. Todas estão perdidas numa mesma Rede sendo todas terminam transformadas em indignos Resíduos. A Ossatura pélvica de Santa Teresa não bocejava com mais Honestidade que duma Messalina porque na Porta por houve que não existir passado algum Homem sendo tão inexistente desse Espaço que ventava por todos àqueles que queriam por ele lhes passarem.

Quando te virás nessas Ossaturas de iguais tivessem muito ou muito pouco contato Carnal e de tão pouco serviu para lhes chorar por essa Carne que havia ao que não existe, pois quando fosses dessa Ossatura, os olhares tampouco estarão.

Se Bem se fica sabendo que nesse Jazigo não há nenhum pé que se possa mover, nem havendo de tais Mãos tão lascivas nesses Jazigos. Esse assim desde fez muito tempo, de modo que, para que serve lamentar-se? Foste desonesta hoje, nesse alvorecer ao nada lhe virá lhe interessar já.

Mas, se em nosso Coração debata o que se fiz de forma muito apressada e sem prevenir que algo sucederia nesse O Útero e sem querer saber que lhe ocorreria com esse algo quando chegara há dez semanas nessa Terra.

Essa Mulher passou por três Estados, porém somente se lhe reconhece dum que lhes sendo desse segundo: se neste se lhe admite existência. Se tratando duma enfermidade mental, duma infido sumário? Porque existiu dois identificadores que não se resultam num fator dum cálculo desse que lhe serás duma sequela Final.

Se nas Invejas dum Homem havia sua Mulher lhe havendo irreflexão dum erro de Cálculo, quanto mais inútil seja para que uma Mulher se desmaie, se fira, se enfureça e se apiede por uma outra Mulher?  Se um homem pode enraiverzer -se porque existe essa pequena Diferença que sempre lhes será algo de alheio, porém uma Mulher ao se rasgar essas Vestimentas por alguém com essas Vestimentas tão iguais as das suas, por ser dum Mistério que se perdesse em sua dimensão nesse ato de Mistério.

Se desse Fogo se propagou com mais paixão do houve aqui, nesse Jardim de Vênus. Sem haver que arder inclusive com uma chama de mais lasciva lhes sendo ainda mais tempestuosa que nesse mesmíssimo Reino dessa dita Natureza; e sendo do mesmo dia em nele que se atenda para um Homem da Corda da que se havia enforcado por culpa dessa infidelidade de sua Mulher, do qual podemos encontrar essas duas Jovenzinhas balançando-se nesse Mesmo Feixe e por qual essa mesma Mulher.

Não chamaram, sendo de tal Costume nas Famílias, quais dessa Traição às converteram em mulheres mundanas, que aos chegarem Cornos e que as mantêm qual há um filho de natura bastardo, pois, tal controvérsia sendo do mais do que impossível dentre elas. No que isto tenha sido desde tempos imemoriais dessa sua maior Espinha cravada reparem quais sendo dum vaidoso tal sofrimento deste Homem, que se admire por onde se admire, pois que entre uma irmã e de uma outra e ao se vergar numa espinha nem tal sofrimento daqueles que choraram de tais modos com essas suas forças lhes sendo feita dessa Ausência precisamente, o que mais que tal dor provocada por isso mesmo dos quais lamentaram fazendo se gemer, que ao gemerem num ato desesperado dos quais vejam havendo essa se lembrarem disso.

Que sendo esse sinal duma Vaidade e de um mero regresso dessa Desesperação sobre o ato dessa condição de nós mesmas? E não prova isto, para que todos esses Homens hajam falado deste seu contrário (brandindo como duma razão desta legitimidade de sua Descendência), que por ser uma Mentira e que ao Centro dessa questão sendo fruto do seu próprio ato de Orgulho?

Quitar-se para um Homem em sua escusa que virá há chorar da mesma maneira, somente lhes sendo então que os fará numa desoladora e inigualável ato de Melancolia. Isso será algo duma maneira honesta, e quanto for mais que honesto lhes sendo algo, mais acerca deste Coração lhes feriu. Se isso mesmo vem lhes ocorrer para às Mulheres. Seus Invejas não possuem mais Estrado que dessa autêntica desgraça deste ato dessa Loucura, e quando o choram, se fazem por sua alienada ato dessa solidão. Lhes sendo irreflexivo tal ato de regressar desse estado delas mesmas em si mesmas nessas condições que se tornam o ato de pensar –  lhes sendo uma coisa bastante improvável – pois quando surge uma Pitada desse raciocínio, se houve uma Pitada dessa recuperação, e quando houve uma Pitada dessa recuperação, e quando houve uma tal Pitada de recuperação houve uma folhagem dessa Indiferenças, e quando essa é acrescida muito rápida, pode acreditar num Jardim do Olvido no que se possa vir a se recuperar tal alento ido.

Sem, entretanto, tanto nos temos acostumado ao chamarmos a tal da Vaidade por um outro Nome, que nem se queira nesses espetáculos de ver se uma mulher que cheguemos a sofrer por uma outra isso nos há de alguma forma ensinado algo. E as que se relembram com esse Lamento o fazem contra uma Parede, somos iguais que uma Penélope chorando por essa ausência desse seu Marido no exílio.

Sendo um Labirinto do que não sabemos sair, sendo de tal motivo nos conhecemos desde feito pelo tempo dessa passagem. Se de tanto darmos contornos as Ossaturas, o Fio dessa desesperação se faz mais fina que uma película de tanto empurrar o Tear que se afiliam aos Problemas ao Propósito, se, porém, não queremos nos darmos conta dessa condição e ao pisarmos ao Pedal sem Motivo, nos pomos por funcionar ao Tear sem Fio e tecemos nos ares para terminarmos nos reduzindo num Manto do desconforto.

Se ao sacudirmos dessa Árvore até deixá-la sem nenhuma folhagem e logo nós gritamos em sua Ramagem, nós ao perturbarmos essa Terra com nossa Ira, que essa dor vem penetrar até a carne e nos terminamos de alimentarmos deles até que nos chegue nessa Ossatura. Se em nossa condição pacifica não se encontrarmos nessa flor dessa pele, senão uma réstia duma Medula, não somos sábias o suficiente para este lado; se não viemos há nos submergir em nenhum Rio duma dita Sabedoria, nós nadamos livres nestas margens do Rio Jordão.

Temos umas quantas Filósofas entre nós, se, porém, nosso Sangue passa a ser demasiadas por espessa para nos portar tal Sabedoria, que nos sendo duma pequena Barca que só navegamos quando o que foi acontecido está tramando com os Ventos que se acham em meio ao estado da calma.

ENUMERAÇÃO E PROVÁVEIS

A Meretriz do Abrigo vermelha vestida,
A Sagaz de Mel sua Cabeça costurada,
De Sua Frente circundada com mui esmero
Por cachos de Juta quais um bode,
Com seu Vestidinho de Cabra de Putinha
Emite ao frufru duma gatinha,
Olhares de Pantera escuros e tão sombrios
Quais Pés de pomba para passear com um brio.
A Amazona reluz na pélvis proeminente,
A lutadora, qual duma cadeira turgente
De bunda firme, grossa e enrugada,
A Domadora do odor de sua Besta acostumada,
A Mulherzinha sendo masculina em seus abalos,
As Gestantes se atam com cintas aos pares,
As suas bundas, à Bufona curvada,
Suas alegrias num Trapézio enleadas,
Duma Virgem qual um Perdiz Pinho,
Debaixo dos pés sua Bola azul regressou,
Qual Rainha dar o contorno da Corona de seu Esposo
Para se sentar, justo dentro, desta Mulher de seus Olhares,
Numa noite de infidelidade não trouxe qualquer dano
Mas assim vai ser durante todo esse ano!
Pois um ar de juvenil feminismo
Percorrer por Luminares, Mundos e Esferas
E em frente, Mais das Mesmas
Prognosticam todas essas Mares!

Sobretudo seguindo as recomendações de Natalie Barney’s e dessas cópias registradas de Janet Flanner, o almanaque foi lido como tal um romano à clef”, mas segundo uma leitora numa resenha nos esclarece que tal romance está circunscrito quanto ao estilo de linguagem à Década de 30 com expressões típicas daquele período parisiense de gays e lésbicas.

O texto de Barnes sugere não só que a representação literária ou “visibilidade” não elucida as particularidades da vida lésbica, mas também que qualquer representação direta de tal vida simplesmente reproduziria, como o que já é versado e normativo. As vidas lésbicas são estranhamente nomeadas personagens desta história, então um texto impenetrável começa a fazer sentido como um gesto lúdico em relação à representação lésbica, tornando as figuras visíveis, mas ainda obscuramente peculiares. Além disso, ao tornar tão difícil discernir quem é quem ou mesmo o que está incidindo.

Neste caso, um poema nunca é entendido essencialmente para cumprir os termos da pessoalidade. A poesia, como a prosa ficcional, pode ser escrita em primeira pessoa, sem que se assume que está na voz ou sobre a vida do autor, mesmo quando a protagonista partilha o próprio nome do escritor; no entanto, nesses casos – como no fragmento de Sapho – é muitas vezes uma pista de que estamos a ler um romano (ou poème) à clave, uma versão ficcional ou ficcionalidade do fato.

Essas relações lésbicas desencadearam ao ponto de libertar toda esta paixão e problemas da experiência sexual das mulheres. Mesmo as lésbicas que não eram doutrinadas pelo feminismo tinham muitas vezes essa sua vida sexual regida pelo segredo e pela vergonha. Não sendo preciso ter um papel de posicionamento para explicar porque é que se pode ter vergonha e temor dos seus desejos sexuais. não podem ser simplesmente reveladas: é preciso haver uma nova linguagem para compreendê-las ou expressá-las.

As mulheres são infeccionadas pela dúvida sexual desde à infância, e duma predisposição para o lesbianismo não sendo uma cautela para fora do tradicional receio feminino e estupidez das tais anteposições sexuais.

Os Modernistas articularam essa onda deste frenesim, e assim o desvio sexual tornou-se uma questão de “cruzeta” no sentido do termo estudos culturais – uma inquietação manifestada no discurso público e retrabalhadas tanto no popular no “altivo”. De tais formas ditas culturais.

No entanto, como argumentou Michel Foucault, o puro cultural investimento na sexualidade, especialmente no pacto entre as formas de ser sexual e dessas noções de fato, interioridade e informação, intensificou-se a duma febre no século XIX e início do século XX.

Se dessas linhas cruzam-se e divergem para desenvolver uma rede do que Foucault chamou de “ponto(s) de transferência denso(s) para relações de poder”.  Esta rede abrangeu a rede Queer do modernismo feminino, de língua inglesa.

Para além das coordenadas mínimas de tempo e lugar – Sapho viveu a ilha de Lesbos na viragem do século VII para o VI a.C. – as realizações literárias e reputação são os “fatos” mais fiáveis sobre os quais os estudiosos concordam. Como “a mulher poetisa mais conceituada da Grécia e Antiguidade Romana”, Sapho escreveu poesia lírica – canções acompanhadas por uma Lira – que foi recolhida por estudiosos em Alexandria séculos após a sua morte; desta, pouco sobreviveu, e quase só em fragmentos.

Se formalmente, tal autobiografia lésbica contemporânea jaz a mexer com tais regras comuns. Mesmo tais “romances” que são inscrições nessa primeira pessoa sobre lésbicas explorações e escapadelas e nas quais da protagonista é chamada pelos mesmos nome dessas autoras nos dando a mesma questão controversa de categoria que a do Poema de Sapho continuando a ser o único artifício para contar à vida duma lésbica como percorremos nesses ensaios sobre obras de Gertrude Stein Tender Buttons e Djuna Barnes Ladies Almanack (1928).

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ERIC PONTY (1968 -) Nasceu em São João del Rei, Minas Gerais, em 27 de abril de 1968. Poeta e escritor, tem inéditos livros de prosa e poesia para adultos e crianças.

Publicações: Menino Retirante vai o Circo de Brodowski, Musa Editora, 200/2004, São Paulo, 2003.  72 p. ilus. col. 16×23 cm ISBN 85-85653-71-X   Ilustrado com reproduções de óleos de Candido Portinari.  Ilustrado com reproduções de óleos de Candido Portinari. Projeto gráfico e diagramação: Raquel Matsushita. Impresso em papel Prol. integrando as coleções PNLD do governo de São Paulo e Cantinho da leitura do governo de Goiás e a Biblioteca Mário de Andrade (SP).

50 POEMAS ESCOLHIDOS PELO AUTOR – Rio de Janeiro: Edições Galo Branco,2009. 108 p.  ISBN 978-85-7749-074-5 –