ALGUMAS PALAVRAS SOBRE JEAN PAUL SARTRE – por Cecília Barreira

Jean Paul Sartre, 1967, Infopédia.

As palavras já não residem nas historicidades em desalinho, mas procuram-se em mitos refundadores e alheios ao sagrado, maré ontológica de um nada em emergência, um caos de transitoriedades em abstinência,

Sartre cruza-se com Simone de Beauvoir em 1929 através de René Maheu, persistências anódinas em cerejas sem Verão,

Inúteis as cadências,

Em 1932 Sartre leu Céline,

Entre 1933 e 1934 revigorou-se em Heidegger,

 1938 o primeiro romance ensaio, La Nausée, na Gallimard,

Neste romance, uma bomba de alimentos em sangue, memória e rasura infiel de procura, Sartre pondera a vida de Antoine Roquentin professor de História, hospedado numa cidade imaginária portuária e setentrional, que se inicia na náusea em absoluto nas rotinas até na comida que ingere absurdidade de envolvências,

Em 1941 colabora em ambiguidades rancorosas na revista Comoedia, colaboracionista na França de Vichy,

Os inimigos à solta rasgando o génio,

Em 1943 a célebre peça Les Mouches e o ensaio L´Être et le Néant, leituras de Heidegger,

Em 1945, após a libertação de Paris, para a elaboração de artigos no Jornal Le Figaro, ruma aos Estados Unidos em apoteose emblemática,

Nesse mesmo ano funda Les Temps Modernes com Beauvoir, Merleau-Ponty , Raymond Aron, entre outros,

O gritante L´Existentialisme est un humanisme, ( esfusiante esse ano 1945,)lançou-o para a posteridade,

(Saint-Germain-des-Prés, o bairro parisiense sartriano em demanda louca)

Em 1946 aplaude e reafirma a condição judaica e forja uma crítica ao antissemitismo envolvente,

Em 1948 meneia a introdução à poesia de Léopold Senghor, mítico ditador do Senegal posteriormente,

1952 encontra-o em ação com o Partido Comunista em França, radar de militância errática,

1956 e Sartre foge dos comunistas por causa de Budapeste, demarcação histórica decote de epifanias,

1964 e renega o Nobel a ele atribuído, renega e a obscura amálgama de famas reunidas em melancolia, explode no mundo ocidental, nunca alguém tinha dito não a um Nobel,

Não aceitou um prémio de Légion d´honneur nem uma cátedra no Collège de France, outras prioridades de distâncias inacabadas, destarte o sonho,

Apoiou Cuba, mas em 1968 condenou os soviéticos que esmagaram a primavera de Praga,

Já mais para o fim da sua vida, e reconhecendo sempre o estado de Israel, denuncia as condições humilhantes em que viviam os palestinianos,

(um olhar de lucidez nas cegueiras coletivas)

A favor dos dissidentes soviéticos, manifestos e petições em 1977 onde se cruza com Foucault, Deleuze, tantos,

Em 1979, em agonia corpórea e muito  doente, apoia a glória   do aiatola Khomeini no Irão,

A amizade com Camus durante os anos quarenta e início de 50, apagou-se com uma indelével suspeita em icónica e controversa troca de artigos,

Camus publicara O Homem Revoltado em 1951 e a partir desse ponto designam-se  arquétipos diferenciados de habilidades em conceitos ontológicos, maestros,

Sartre numa contingência para-si, em-si-para-si,eu existo no meu corpo, o meu corpo é conhecido pelo Outro,  existo em mim e para mim conhecido pelo Outro enquanto corpo,

Introito de um sucumbir à liberdade ontológica sem Deus,

Camus com a apologia das não divinizações do Homem,

(que ele supusera em Sartre)

O sagrado e as figurações,

Interditos,

Coleções,

Sartre é o trilho de uma esmagada condição de existência.

 

Ceciliabarreira
CHAM-NOVA/FCSH

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Cecília Barreira nasceu em Lisboa, licenciou-se em História na Faculdade de Letras de Lisboa e entrou como assistente estagiária na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, nos anos 80.  Em 1991 defendeu doutoramento na FCSH e em 1999 agregou-se em Cultura Portuguesa Contemporânea. É autora de muitos ensaios  sobre figuras do pensamento contemporâneo. Escreve poesia como hobby. Pertence ao CHAM-Centro de Humanidades como Investigadora Integrada.