MODA INTEMPORAL – sobre o erótico – por Eric Ponty

Jardim das Delícias Terrenas by Hieronymus Bosch

Este artigo se dá por meio duma reflexão, como a forma erótica se perfez ao longo dos séculos, por uma forma velada que beira a pornografia quando ouvimos, por exemplo esse versos que refiz por serem tão chulos não merecem reprodução que ouvi por acaso na minha morada, não sei quem são seus autores de péssimo gosto baixo nível cuja decadência ressoa nos rádios do Brasil demostrando quanto pertinente se faz a reflexão Adorniana, quando esse reflete, aqui o parafraseamos em que “quando mais totalitária for sociedade em que vivemos tanto mais reificado será também o nosso espírito, e tanto mais paradoxal será nosso intento de escaparmos dessa reificação. Mesmo a mais extremada consciência do perigo corre o risco de degenerar em reflexão vazia; contudo vamos aos dois versos chulos que ressoam na rádio do Brasil.

Não faço putaria por um só dia, mas o ano inteiro. – Como num dos versos ressoados e outro de tão baixo nível que fica impossível de reproduzi-lo para tal reflexão, mas, façamos uma parodia – Quero uma vulva para fumar minha maconha. E o que extrai disso tudo: Nada além da barbárie da constatação da realidade.

Por causa desse motivo voltamos a reflexão adorniana do qual parafraseamos, quando esse interrogava que a crítica cultural encontrava-se diante do último estágio da dialética entre cultura e barbárie: fazer poesia erótica ou escrever um poema após a pandemia é uma atitude bárbara, e isso correu até mesmo nosso conhecimento de por que hoje se tornou impossível fazer poesia erótica ou escrever um poema.

Tudo isso pode soar refinamento da linguagem, mas não, quando pinçamos, um poema de Solo de Colibri de Djamí Segostre que abre o livro com o seguinte poema:

Todo crepúsculo lembro
Gris retinas sujas de cio
Entre cílios íris de ágata
Também viciado em ti
Fisgo madonas e campari
E ofereço meu colibri sedento pázsaro
Afoito por vulva e ânus

Poético não? Não quanto temos em perspectiva a profundidade e o erotismo de um Jean-Claude Brisseau com a densidade erótica de linguagem tanto nos diálogos como na densidade imagética de metáforas como em La fille de nulle part (2012) para citar ao acaso ou o pornográfico explicito inglês radicado nos Estados Unidos Michael Ninn Work hoje fora do mercado com Catherine ao recriar um glamour embora já visto ao estilo de canções como Enigma, mas com um estilo tão próprio que o mercado pornográfico fica mercê parafraseando-o. Mas não estamos falando de cinema, mas de poesia erótica que nos remete a grande poesia erótica do Sânscrito do qual nos damos três exemplos ao acaso traduzido por nós.

Aqui um poema, “Queixa” (p. 95), de Vidyā (fl. 7º a 9º sec..), a preeminente poeta mulher em sânscrito, do Tesouro de Verso Bem Versado (Subhāṣitaratnakoṣa, ca. 1100). Vidyā é análoga a Safo (fl. ca. 600 a.C.E.) em grego e sulprópico. B.C.E.) em latim.

Queixa de Vidyā

Quanto vós sois ditosas, minhas amigas!
Podeis falar abertas sobre os que estão advir
Teus amantes: a conversa ociosa, o riso,
distração, as eternas rodadas de prazer.
Quanto a mim, uma vez que meu amante
desfez desse nó da minha saia…

Juro, eu não me lembrava de nada.

O pretexto do desamarrar o nó da saia de uma mulher ocorre em outros lugares ou épocas, também, como em “A Cintura de Hermione” do poeta grego Asclepiades de Samos (4º). B.C.E.).

Mudou um dia nos achou sós juntos.
Advém, com uma coisa induz a outra,
Deparar meus dedos resilindo o nó.
apenas atrelaram o enfeite margem de sua cinta.
Estão através fios verde limão, jato e organdi,
essas epístolas cândidas miúdas de sua cinta
estas palavras foram cosidas:
“Aproveite-me como lhe aspirar,
embora por sua conta e risco,
pois outros homens saberão passar com isso.

Aqui um poema anônimo, “Promissão” (p. 8), dos Cem Poemas de Amaru, que se inquere sobre separação no amor.

Ele me dissolveu a jura, me baniu.
do teu íntimo onde eu tinha uma paragem especial.
Sem mais amor, ele agora passa por mim.
Como qualquer outro homem. Os dias passam na lide.
Do qual eu jazo refletindo nisso uma e outra vez.
Caro amigo, não sei por que fiz meu coração
não se anhapa em cem nacos.

Para não nos arremetermos a poética portuguesa erótica que é muito rica, como de português Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) para citar ao acaso um dos seus sonetos eróticos: SONETO DO EPITAPHIO:

La quando em mim perder a humanidade
Mais um daquelles, que não fazem falta,
Verbi-gratia — o theologo, o peralta,
Algum duque, ou marquez, ou conde, ou frade:

Não quero funeral communidade,
Que engrole “sub-venites” em voz alta;
Pingados gattarrões, gente de malta,
Eu tambem vos dispenso a caridade:

Mas quando ferrugenta enxada edosa
Sepulchro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitaphio mão piedosa:

“Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
Passou vida folgada, e milagrosa;
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro”.

Sendo um dentre outros mestres igualmente exemplares portugueses.

Por isso ateremos agora ao poeta italiano Pietro Arentino como coda de nossa reflexão, do qual nos faz remeter num outro italiano Giacomo Leopardi, quando esse constatou que a Moda e Morte andam juntinhas como irmãs gêmeas; mas vamos para um clássico Soneto Luxurioso de Arentino composto pelo minimalista britânico Michael Nyman, 8 Lust Songs: I Sonetti Lussuriosi é uma paisagem musical, sendo esse que determinou o movimento Musical de Minimalismo com 8 peças duma coleção de poesia erótica de I Sonetti Lussuriosi de Pietro Aretino que se inspirou nas gravuras   «Os Modi» são dezesseis desenhos que arquitetam múltiplas posturas amorosas que Giulio Romano (artista próximo de Rafael) fez em Roma até 1524. Quase logo foram pintados na gravação em metal por Marco Antônio Raimondi, e o intrépido escritor Pietro Aretino escreveu uns sonetos erótico-burlescos para seguir essas efígies, sendo dessa Edição Original extinta por Ordem Papal só nos chegou o exemplar mutilado duma tosca edição do século XVI e das cópias que se fizeram em XIX para Conde de Waldeck.

As músicas e os Sonetos Luxuriosos e as gravuras retratam desejos sexuais dum homem e duma mulher em distintos contextos. Marie Angel estreou a peça, espelhando personagens varões e mulheris, incluindo uma velhista, com a Orquestra de Santa Cecilia, conduzida pelo compositor, em 4 de outubro de 2007 no Arsenale, em Veneza, Itália, em uma comissão da Bienal de Veneza dessa gravação em estúdio com Michael Nyman Band foi lançada no disco compacto 29 de julho de 2008 sendo que aqui o primeiro soneto vertido:

– Questo cazzo vogl’io, non un tesoro!

Nesse caralho vou me meter, não um tesouro!

Nisso que já me podeis fazer de tão feliz!
Este é caralho esculpido pra Imperatriz!
Amparar mais gema montão doiro desdouro:

Ai, me auxilie, pica minha, pois por ti sofro.

Dai-me bem do prazer xota desta matriz:
Que da bunda pequena estreita se decida
Se minha xota quer cursar pica na prudência.

Senhora minha, fato é quanto fodes diz;

Quem tem pica anã e fodeu nessa xoxota
Mereceu-me d´água fria laxativa nota.

Quem pouco fodeu cuzinho noite e dia:

Mas quem do qual eu tinha cruel fez fera

E sempre xoxota desafoga suja.

Fraternais verdades, porém, somos pica

Glutões, retrocedamos pica tão lerdos

Que até no cu queremos levar torre inteira!

O italiano Giacomo Leopardi, quando esse constatou que a Moda e Morte andam juntinhas como irmãs gêmeas não estava mais que certo? Como Erotismo e Morte são suas irmãs siamesas.

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Eric Ponty – Brasileiro de Minas Gerais – É poeta e escreveu o considerado clássico Menino retirante vai ao circo de Brodowski.  São Paulo: Musa Editora, 2003.  72 p. ilus. col. 16×23 cm ISBN 85-85653-71-X   Ilustrado com reproduções de óleos de Candido Portinari.  Ilustrado com reproduções de óleos de Candido Portinari. Projeto gráfico e diagramação: Raquel Matsushita. Impresso em papel Prol, além de 50 POEMAS ESCOLHIDOS PELO AUTOR- Rio de Janeiro: Edições Galo Branco,2009. 108 p.  ISBN 978-85-7749-074-5 além de sua Poesia Reunida até agora será lançada pela Ibis Libris Editora do Rio de Janeiro. Tem entre outros inéditos – A TRANSFIXAÇAO SOBRE SONS DE HELENE GRIMAUD ENQUANTO COISA CAMPESTRE – (POESIA) – O ZENÃO D´ELÉIA DE NATURA (prosa Poética) – PORTO REAL DA PASSAGEM (prosa Poética) –

Como tradutor: O Cemitério marinho de Paul Valéry – CINQUENTA MIL DE MILHARES DE POEMAS – RAYMOND QUENEAU – EDGAR ALLAN POE- O CORVO EM UMA E OUTROS POEMAS, Charles Baudelaire RICHARD WAGNER E TANNHÄUSER À PARIS, – Paris Spleen – Pequenos poemas em prosa – 50 MESTRES DA POESIA além de outros poetas e nacionalidades.